Fatias do Sol














Foto: Ana Sophia - Portugal

Peguei emprestado uma bela foto, tirada por uma nova amiga. De fato, foi quando ela buscava sobre o Atlântico...

Como imagens falam por mil palavras, cuidem vocês das suas milhares, pois já utilizei das minhas mil...



Fatias do Sol

(Paulo Boblitz - mar/2009)


O Sol ameaçava ir dormir... Fantástico esse nosso amigo, muito esquentado, sempre a revezar com a Lua, mas nunca às turras...

Sempre que pode, ele esquenta alguma coisa e não há sombra que ele não devasse, pois que ele é teimoso, e se não consegue pelo nascente, conseguirá pelo poente...

Havia sido um dia de muito trabalho, o Sol a lançar a cabeleira sempre flamejante, impetuoso como sempre a ventar seus solares raios, a produzir auroras nas mais elevadas latitudes.

Nosso amigo tem um jeito especial de iluminar, e que ninguém se meta com ele, pois se não, ele mete a bronca... É da natureza dele; fazer o quê, se ele é assim desse jeito?

Em todos os cantos de nossa Terra redonda, ele não deixa escapar, e matematicamente está sempre a distribuir a mesma quantidade de calor e luz para todos, pois que se distribui demais, depois se guarda também... Se no Norte chega a ficar acordado até tarde, no Sul vai dormir mais cedo, compensando assim seus calores, invertendo tudo seis meses depois.

Mas há um lugar em que ele sempre anda igual... É no Equador, aquela linha que divide a Terra em duas metades; aí, todos os dias ele manda a mesma brasa...

Mas nesse dia, o Sol estava, não se sabe por quais cargas d'água, muito estranho, muito apressado...; queria porque queria, ir logo dormir...

Já mandava antes do tempo, seus raios laranjas, mais quentes do que de costume, dispersando-os...

Sophia fazia uma busca, e busca em alto mar só se faz quando ainda é dia, a não ser em casos especiais... Tentou conversar um pouco mas o Sol não lhe deu ouvidos... A busca era importante, e ele, velho ranzinza, precisava colaborar.

O velho Lobo tentou de tudo, piscou faróis, balançou asas, até subiu mais um pouco, mas o Astro Rei não negociava...

Sophia então lembrou de ainda criança, a brincar de espelhos, a fabricar arcos-da-velha para descobrir-lhes os potes de ouro, e rápido pegou em sua bagagem, seu caleidoscópio digital, aquele que transmitia e recebia mensagens, até então desligado.

- Lobo!, rápido!, aproe o Sol..! - enquanto falava, já desmontava seu celular...

Lobo sem muito entender, aproou o Sol bem de frente, o que lhe fez pregar um pára-sol esverdeado no pára-brisa, pois ficara ofuscado...

Enquanto Sophia descobria a diminuta antena de seu aparelhinho, pedia ajuda ao co-piloto para que desconectasse o equipamento rádio de sua antena.

- Mas..., ficaremos sem comunicações!!! - ele alertou.

- Passe-me o cabo, rápido!, rápido! - sem dar-lhe ouvidos, exigia com o movimento da mão...

Piloto e Co-piloto entreolharam-se, deram de ombros e resolveram obedecer, pois não era a primeira vez que Sophia fazia algo inusitado...

Sophia, munida de um pequeno alicate, cortou fora o pequeno plugue, descascando o fio principal, e quando o encostou no seu pequeno aparelhinho, recebeu uma boa descarga de estática, ficou toda eriçada e ordenou:

- Liguem o rádio!!! - e apontou o aparelhinho para os dois motores direitos.

Ligaram o rádio e partículas magnéticas começaram a saltar, atravessando a minúscula janela e refletindo-se nas hélices prateadas e polidas.

A sombra da noite chegava-se rápida, e Lobo tratou de ganhar mais altitude, dando potência e empinando o nariz daquele robusto quadrimotor Lockheed P-3P Orion.

Os motores roncaram forte, zumbiram mais alto seus turbo-hélices, e lampejos multicoloridos começaram a jorrar em todas as direções, aumentando a luminosidade.

O Sol, vendo aquela maravilha, por instantes manteve-se quieto, e como gostou do que viu, aumentou também suas fornalhas, pediu à noite que aguardasse mais um pouco, pois que conversaria com a Dona Lua para vir mais cheia...

E despejou uma torrente de raios laranjas como ninguém nunca havia visto ou sonhado... Contente brilhou mais forte e mais intenso, e naquele dia foi dormir mais tarde, mais calmo e feliz, pois que nunca havia recebido de volta seus lindos raios...

Mais altos, a Lobos 601 logo avistou o que procurava, a embarcação perdida à deriva, logo anotando suas coordenadas. Remontaram o rádio, Sophia levou mais choques, e logo a ajuda foi providenciada.

Já pousados com a missão cumprida, ao passarem pelo corredor de Comando, desfazendo-se de seus acessórios, a Capitã que naquele instante cruzava com eles, olhou interessada para Sophia, agora ainda mais arrepiada, e em cumprimento deixou escapar:

- Belo penteado..! Depois você me informa quem é o seu cabeleireiro...

Foi um longo dia em que aquele esquentado, esquecendo a prática que só ele sabe, foi dormir mais tarde... No dia seguinte, jornais noticiaram que muitos Galos pelo mundo inteiro, haviam cantado diferente, num belo dia que amanhecera mais colorido...

* * *

Um comentário:

  1. A Foto é realmente linda. E a crônica também. Parabéns pelo blog.
    Viu como blog vira mania?
    Precisamos prender o nosso ego no pé da mesa para ele não sair voando!

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