Quando vi a notícia com o avião da TAM, a história rápido se desenhou... Isso foi em agosto de 2006.
E foi uma confusão danada, pois os amigos não paravam de ligar. Havia esquecido de informar que era ficção, não a história da porta, mas a da minha mochila...
Que foi divertido, isso foi...
Aviso! Eu não estava naquele avião!
Estouraram a minha mochila
(Paulo Boblitz - ago/2006)
Mal havíamos decolado, Bruuummm..!, lá se foi a porta do avião...
Foi um desconsolo geral, com a pobre da aeromoça dando brecha enquanto se segurava de qualquer jeito na poltrona, quase colada à porta em questão...
A peruca de alguém logo voou, e cabelos os mais diversos começaram a desgrenhar.
Meu coração bateu profundo e ecoou nos intestinos, que dali para a frente intimidaram com muita pressão.
- Senhoras e Senhores..!, aqui quem vos fala é o Comandante do avião. Tivemos um pequeno problema e já estamos retornando ao aeroporto. Queiram, por gentileza, permanecer sentados com os cintos afivelados...
No meio de duas turbulências, a do avião sem porta e a da minha interna de emoção, já em aperto garantido, refleti que o Comandante havia abusado da redundância, pois que se era o Comandante, só poderia ser do avião, e com o avião sem porta..., quem seria o atrevido a desafivelar o cinto?, ainda mais levantar da poltrona!?
A Aeromoça, já mais refeita do sobressalto, olhando com semblante irritado para o passageiro deslumbrado à sua frente, recompunha-se fechando as pernas, e mais calma, porém descabelada, já ensaiava um sorriso amarelo para todos, fazendo questão, no entanto, de lançar seu desprezo para o degenerado que não havia perdido tão inusitada oportunidade.
Seguimos em lenta curva de retorno, aos sons misturados de vento com turbina, e pareceu-me por instantes, vislumbrar olhar curioso de um urubu, como quem olhasse tamanho pássaro metálico, entrevendo as suas entranhas... Dei de ombros e achei que aquilo era pressão da minha barriga, como se eu pudesse, não esperar pelo pouso do avião...
Olhei à volta e pude ver mais calma nos semblantes; meu próprio coração já havia entrado em compasso de aventura, minha adrenalina agora me tornava em herói; só a minha barriga, terrorista, insistia no dilema. Firme logo pensei: "não vou "repactuar"!, se quiser, que faça na poltrona, afinal já está sem porta mesmo..!"
Logo sentimos o duro concreto sob as rodas, e mais um pouco chegávamos ao terminal dos passageiros. Catapultado pela necessidade, apertei minha mochila e saí correndo, e com alívio fui me desfazendo das agruras...
Já mais corado, lavei as mãos e saí dali, dirigindo-me ao balcão das informações, onde todo mundo já estava falando ao mesmo tempo, reclamando e contando a história...
Absorto em meus pensamentos, via como as coisas nem sempre são complicadas, e que podemos manter a calma, mesmo quando à nossa volta estão em desespero, em trapalhadas - agora eu ligava a "repactuação" ao desastre, que veio e se apresentou, nos deu um susto mas já passou e foi embora, e que um dia apresentar-se-á com outra roupagem, com outros terrores e ameaças, testando o nosso poder de enfrentamento e discernimento.
Enquanto agradecia a Deus pelo nosso bom senso, pela nossa prudência, pela nossa coragem diante das tantas pressões, percebendo que nada nos merece a confiança, vi um rebuliço danado em outra direção.
Jornalistas e câmeras dirigiam seus focos para lá, para o homem protegido com roupa especial, aquele que desarma bombas ou as faz explodirem à distância, pois alguém havia encontrado uma bagagem suspeita abandonada, e com os recentes ataques na noite anterior, pelo crime organizado à cidade de São Paulo, ninguém queria arriscar.
Cheguei a ficar indignado e receoso, que uma vida pudesse vir a se perder na tentativa de um desmonte, e sugeri ao meu vizinho que a coisa deveria ser explodida à distância, quando aproveitei para perguntar:
- Onde é que tá o tal negócio..?
- É aquela mochila ali... - apontou-me prontamente.
Achei parecida com a minha, olhei para os lados e tive a certeza... de que era ela mesma!, esquecida quando minha barriga tomou o lugar da cabeça...
Ainda tentei levantar o dedo e gritar, quando Bruuummmm!!!; lá se foi a minha bagagem pelos ares...
Desolado ainda pude sorrir, quando vi os expertos analisando meus trapos incendiados, tudo saindo em rede nacional, em tudo quanto era plantão de noticiário, e de repente me senti famoso...
Agora, o meu dia estava completo...
* * *
Glossário:
- "repactuação" - trapalhada aventureira que nos quiseram impor, substituindo o certo pelo duvidoso, em nosso plano de aposentadoria privado.
* * *
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