Pedal Roteiro da Luz 2010

Costumamos seguir os líderes.

Costumamos liderar.

Costumamos fazer mudar.

Que tal, então, agir..?


2011 está quase chegando; que ele venha para nós o vencermos, como essa boa ladeira que foi 2010, e de cima dele, conquistarmos todas as alegrias que merecermos.

Boblitz


Pedal Roteiro da Luz 2010
(Paulo R. Boblitz - dez/2010)

Quantas vezes, precisamos refazer as coisas? Eu já estava com a crônica feita, e num comando desastrado, a mandei embora...

Estou agora mesmo, olhando para o branco vazio do monitor... Talvez ela não estivesse mesmo boa. Talvez não estivesse à altura de todos vocês...

O jeito é recomeçar, o que já fiz nestas três linhas...

Mas eu lembro que tratava de todos vocês no fim da crônica que foi perdida, pois que não vi quase ninguém dos veteranos...

Talvez vocês devessem recomeçar a pedalar... É muito simples: basta pegar a bici e chegar no nosso ponto de encontro lá na 13. Recomeço a crônica do fim, o que ainda fresco está em minha memória, da cobrança que fazia a todos vocês, para que continuem servindo de incentivo, de modelo, de espelho a tanta gente que sempre se empolga ao nos ver passar...

Partimos como se fizéssemos parte da decoração da cidade, piscando em vermelho e branco-azulado, uma imensa árvore de natal ambulante, cheia de sorrisos e conversas...

Lembro que cheguei a escrever sobre as reprimendas que os Monitores nos fazem, como o "dois a dois, pela direita..!", que embevecidos nos esquecemos de obedecer...

O que para nós é festa, para eles é trabalho. Cuidam de nossa segurança, do nosso bem estar, do nosso roteiro, dos cruzamentos que temos que atravessar... Cuidam, sobretudo, de nossa alegria...

- Júnior!?, onde vocês estão..? - perguntei ao perceber que estava perdido...

- Estamos passando por você, pela rua de Capela...

Virei e vi todos aqueles que piscavam pedalando, pedalei e os alcancei.

Havia me atrasado fotografando a praça Fausto Cardoso, o Palácio do Governo, o Coreto antigo, a Ponte do Imperador... Havia sido absorvido pela magia da ocasião...

Desanimei quando me vi só, como aquele trem que deixamos de pegar, pois ele segue em frente, sempre em frente, não importa quem para trás ficou...

Pisquei solitário por alguns minutos, difuso diante das informações negativas das calçadas, de que um grupo tão bonito, por ali não havia passado...

Pisquei alegre, por me ver novamente entre todos vocês, cerca de 190 motivadores, pois quem nos vê sente vontade, é contagiado pela energia, resolve pedalar e modificar a vida...

Se você Veterano, que já pedala bem, acha que não precisa mais do Aracaju Pedal Livre, talvez devesse repensar melhor a sua participação. Basta lembrar que você é exemplo, que você é mais um a fazer diferença, que você, principalmente, pode mudar a vida de alguém, como um dia a sua foi mudada...

Volte a pedalar conosco, volte a abrilhantar um movimento saudável; sinta-se Formador de Comportamentos... Tenha paciência e descubra um dia, que você foi o gatilho da mudança - alguém começou a pedalar por sua causa...

Pensando bem, acho que a crônica perdida, já estava perdida... Essa ficou melhor...

* * *

Segundo Passeio Natalino de Aracaju

Natal é triste, porque nos mostra desigualdades...

Natal é alegre, quando só vemos as alegrias...

Natal só deveria ser a paz...


Como esta é a última Trilha antes do Natal, desejo a todos vocês, muitas alegrias. Desejo, sobretudo, que Papai Noel tenha sido bem generoso com cada um, principalmente no item Felicidades...


Boblitz



Segundo Passeio Natalino de Aracaju
(Paulo R. Boblitz - dez/2010)


Coube a mim, entregar um presente a um rapaz surdo-mudo, apenas 22 anos, a me receber com um sorriso enorme. Nos abraçamos fortemente, pois que os surdos se motivam pelas vibrações.

Cada um de nós entregou um singelo presente a cada uma das crianças daquela Instituição, olhares alegres, mas com fundos tristes, pois eles é que conhecem a realidade em que vivem.

Ao todo, passamos em 5 lares, cada um com seu próprio nome, não iguais aos nossos, onde tudo é nosso, até o amor...

Naqueles, o que é deles só é carência...

Pareceu-me ter sido o nosso Passeio Natalino do ano passado, mais alegre, mais espontâneo, mais cheio de cores. O desse ano foi mais formal...

Senti a falta de alguns amigos; senti a falta dos desacertos de nosso primeiro ano...

Mas é assim, como tudo à nossa volta, com altos e baixos. Talvez ano que vem, estejamos mais numerosos.

Chegando em casa, deparei com um desalento em meu correio - era uma boa amiga se queixando...

Quantas vezes já caímos? - lhe perguntei, respondendo...

E não levantamos em todas elas? - lhe respondi, perguntando...

E filosofei, recomendando: "durma bem, tome uma cachacinha mineira, de vez em quando acenda um charuto, mesmo que sirva apenas de incenso..."

E lembrei que muitas vezes, confundimos o cansaço com a derrota...

É só descansar, que passa...

Sorrir só não é bonito, quando forçado...

Talvez ano que vem, só devamos visitar os doentes, sem presentes, só sorrisos e presenças... Querem um conselho? O espírito é o da bicicletada...

Não somos guerreiros? Não estaremos descansados?

Ontem eu ganhei um abraço; o que hoje, irei ganhar..?

* * *

Luz...

Há luz no fim do túnel, se ainda for dia...

Há luz em cada ser, se ainda existe a boa vontade...

Há luz em qualquer lugar, se a queremos encontrar...

Há luz onde se possa imaginar...

Não entendo como não ficamos ofuscados...


Luz...
(Paulo R. Boblitz - dez/2010)


Faça-se a luz! E a luz foi feita...

Assim começa toda a nossa saga, quando Deus a tudo iluminou... Talvez tenha sido bem mais complicado, mas a luz explodiu, e com ela, todas as cores...

Um pontinho que brilha, segue e vai embora, e nunca mais retorna...

Tudo nesse Universo é luz. Somos também, pontinhos de luz, pois algum dia explodimos de algum lugar, nunca mais paramos de brilhar, e seguiremos por aí, quando enfim o dia chegar...

Olho a cidade, toda enfeitada, cheia de muita luz, não dessa que usamos para iluminar, mas das que nos servimos para fazer brilhar. Olho e me sinto bem, pois que todas elas transportam vontades que brilham também, nos fazem recordar, nos produzem tons diferentes daqueles em que brilhamos ao longo do ano.

Luz é vida, e vida é luz...

Assim, quando nos reunimos para coisas boas, o luzeiro se amplia, torna-se em farol e corre depressa para o céu, mais um ponto a piscar, nesse teto formidável que nos encanta, nos faz lembrar que não somos daqui...

Passa um risco, e mais outro... Devem ser estrelas crianças, brincando de pega-pega.

De repente um ponto brilha mais... Uma Supernova, como a mãe preocupada, a chamar suas estrelinhas para casa...

Passa outro risco; essas crianças são levadas...

Corremos o mundo num raio de luz, quando sonhamos...

Surfamos num rastro de luz, quando estamos amando...

O brilho fica cinzento e fosco, quando a tristeza ou a saudade se instalam...

Na felicidade, todas as luzes se misturam; é tempo de primavera...

Ao longo da vida, as luzes vão afunilando; é a maturidade...

Ao longo da vida, as luzes vão embaralhando. É tempo de colheitas, é tempo de descansos, é tempo de sal e doce...

Novas luzes que nos surgem, nossas crianças, nossos netos, filhos todos que amamos, luzes que não se comportam conforme a teoria, pois dão voltas, fazem curvas, param e correm, nos enchem os corações, e nos preocupam...

Essa noite, minha cidade ficou mais bonita, me pôs a pensar colorido, como a luz que pisca, ou que risca, nos rabiscos da mente, nossos tempos que passam, nossas correntes que giram, nossos caminhos trilhados...

Pedalei devagar, a sentir as luzes com os ventos, informando alegrias, gente abrindo presente, gente a receber um beijo, gente a receber a luz, gente como a gente, outras luzes, outros firmamentos...

Minha amiga estala e me dá um tranco, me lembra da vida, me avisa que os buracos devem ser desviados, os obstáculos contornados, as ladeiras vencidas, o suor enxugado, as luzes acesas para a vigília...

Por instantes paro de pedalar, deixo ela me levar, produzir o som entrecortado dos pequenos cravos, até que ela, cansada, ameaça parar, momento certo em que nos avisa com o vai e vem do guidão...

Volto a pedalar e tudo pisca, Papai Noel dá uma rasante, joga pó de estrelinhas sobre nós, uma gostosa risada, e como o raio, vai embora, para outros corações...

E você? Já reparou nas suas luzes? Já notou sua cidade mais bonita?

Se não, então pedale mais um pouco...

* * *

Natal Solidário 2010

Dar, verbo que nos transfere para os outros...

Doar, verbo que nos dedica para os outros...

Amar, verbo que nos afeiçoa a todos os outros...

Felicidade, contentamento íntimo de todos nós,

quando praticamos o nosso próprio bem...



Natal Solidário 2010
(Paulo R. Boblitz - dez/2010)

Senti aquela pequena mão a me puxar... Olhei para baixo e vi dois olhinhos me pedindo ajuda:

- Posso abrir..?

Eu sorri meio sem jeito, e lhe disse:

- Claro! Ele é seu...

E a pequena criança se pôs a tentar abrir o nó cego que deram na boca do embrulho, numa luta feroz entre a curiosidade e a vontade de brincar...

Papai Noel, não apenas um, mas muitos deles, muitas Mamães também, hoje todos foram reais...

Cerca de 150, não contamos, nem precisávamos, pois cada coração ali era dum tamanho grande. Ano que vem tem mais, e no depois dele, de novo...

Vi lágrimas brotando, vi sorrisos espontâneos, vi alegrias verdadeiras, tudo diante do maior contentamento que contagia a todos: o brilho de cada olhar, de cada criança a receber o que foi sequer sonhado...

A vocês de outros Estados, ainda há tempo de reunir bondade, ainda há tempo de produzir carinho em tanta gente carente... Não joguem fora essa oportunidade...

Ganhamos, cada um, uma cartinha simples, um desenho, uma vontade singela, uma canção, poesia de gente miúda, sonho de gente criança...

Ganhamos um agradecimento emocionado, não necessário, que nos tocou os corações...

Ganhamos vivas de tantas crianças que ansiaram por nossa chegada...

Ganhamos vida em tanta vida que brotou sincera e feliz, pequenos que ainda não conhecem a dissimulação...

Ganhamos a espontaneidade, o olhar curioso de festa, o esperar ordeiro na fila, triste espera enquanto os presentes estão sendo distribuídos lá na frente...

Ganhamos amor...

Por tudo o que ganhamos, ainda estamos em débito com todos eles, pois que até Deus, hoje deve ter ficado mais feliz...

E querem saber de uma coisa? Elas, as crianças, sentiram-se orgulhosas por terem sido lembradas. Por um momento mágico e especial, viram seus pequenos sonhos, realidade...

Por favor, olhem para os lados..., olhem ao redor..., olhem principalmente para dentro de si, descubram quanto bem, recebemos por fazer o bem, por praticá-lo... Por favor...

Se ainda não paramos para agradecer a vida que temos, por favor... Tem tanta gente necessitada...

O que para você pode parecer sem valor, sem serventia, sem brilho ou alegria, nas mãos de quem não tem, são tesouros...

Não sei dizer de vocês, mas hoje dormirei mais feliz, mais sonhador, mais irresponsável, mais utopista. Se vocês ainda não conhecem o que é doar, haverá o tempo de aprender...

Haverá o tempo de se dar..., pois que dessa vida em que verificamos tantas desigualdades, tudo é zero como resultante, e resultante é a conseqüência de todas as forças aplicadas, principalmente numa solução...

Papai Noel não é uma fábula. Papai Noel existe, principalmente, dentro de você...

Despertá-lo, só depende de você, Papai Noel..., Mamãe Noel...

Você...

* * *

Invenções...

Quando estamos cansados, o jeito é repousar.

Quando estamos ociosos, o jeito então é pedalar.

Quando estamos ociosos, mas não pedalando,

bem, aí o jeito é inventar...



 
Invenções...
(Paulo R. Boblitz - dez/2010)

Eu pedalava mas não conseguia sair do lugar.

Eu embalava, mas mesmo assim, rápido colocava os pés no chão para não cair.

Quando estava quase desistindo, passou um amigo e gritou:

- Tem que pedalar para trás!

- Como assim, para trás!? - perguntei, estranhando.

- É!, essa é a nova invenção do Beto...

E lembrei que havia colocado a bicicleta na revisão. Olhei para baixo e vi uma confusão de coroas, sistema complicado de voltas que invertiam o movimento dos pedais.

Montei novamente e pedalei ao contrário, e a bicicleta começou a andar para frente.

- Mas que invenção mais besta, sô!? - fiquei pensando, enquanto gaguejando pelo guidão, ia me deslocando.

Liguei para o Beto, ele atendeu e fui logo perguntando:

- Beto!, que peste é essa da gente pedalar pra trás?

- Ah!, é o novo sistema que inventei...

- Mas, pra quê? Do jeito que tava, não era bom?

- É que eu enjoei de regular esses câmbios... Aí fiz esse, que é pra gente mudar um pouco, né!? Gostou?

- Não! Onde já se viu pedalar para trás e a bicicleta andar para a frente?

- Então a gente desfaz, mas só daqui a um mês, pois estou viajando de férias...

Pensei num nome feio e desliguei. O jeito era continuar daquela forma até que o Beto voltasse.

Pedalei, pedalei e precisei mandar minha bicicleta para a revisão. Como o Beto já havia voltado, modificou meu sistema propulsor para o que era antes.

Quando montei e fui pedalar, precisei colocar os pés no chão para não cair.

- De novo!? - pensei.

Peguei o telefone e liguei para o Beto:

- Ô Beto!, você desfez a engenhoca..!

- Foi..! Você não tinha pedido?

- Mas eu já estava acostumado...

E começamos a discutir, até que o despertador tocou e acordei. Tinha sido apenas um sonho...

Rápido tratei de desenhar as coroas, o câmbio, algumas catracas..., daquele jeito..., ou teria sido desse outro jeito..? E fiquei matutando até que cansei, ligando então para o Beto:

- Beto!? Ó, tenho aqui uma invenção boa pra você fazer...

- O que é?

- Um sistema de pedalar ao contrário...

E começamos a discutir, aliás, estamos discutindo até hoje...

Alguém tem alguma sugestão?

* * *

Pedalada feliz

Para quem ainda for criança,

ou para quem ainda dança,

as valsas que se nos tocam,

nas alegrias que são gentis...


Pedalada feliz
(Paulo R. Boblitz - dez/2010)


Era noite, era dia, eu já nem sabia; estava claro, estava escuro, eu ainda conseguia; estava seco, estava molhado, eu apenas pedalava...

Chão vermelho, céu cinzento, por que não chovia..?

O vento nos empurrava, nos avisava que não tinha nada contra nós; o chão nos recebia, nos convidava, nos apresentava garantias...

A frente se abria, no corredor que se estendia...

O progresso com o passado, as pedrinhas subindo e me dizendo, plinq, pilim, plim, plinq, no quadro que também respondia, confirmando nosso passeio...

Carvão chegou e me deu bom dia - sério me disse: cuidado, depois da curva, atrás da montanha, o vento rodopia...











Segui então devagar, e Rodão e Rodinha, sentinelas, me avisaram: siga em paz, pode passar...

As árvores abriram alas,se perfilaram, nos saudaram e nos sorriram. O sino dobrou, nos anunciou aos quatro ventos...






Marronzinha nos ouviu, Pescoção se interessou, Pequenino observou, Zé Porteira, carrancudo se fechou...

















Encostei minha magrinha, pulei, dancei, bananeiras plantei... Dona Chuva me olhou, soprou forte e parou: você tem até o fim da tarde; depois a tudo molharei...

Cambito me recomendou a pressa; Donas Leiteiras questionaram: por que a afobação? Dona Bicuda retrucou: a mim não interessa; estou aqui há milênios...









Dom Gavião, esperto, apenas olhou, enquanto Dorminhoco disse: não tô nem aí...









Branquinha e Pretinho, de onde estavam, me falaram: se o tempo ficar feio, voaremos lhe guiando, um de cada lado, no que Amarelinho, parando de comer, foi logo avisando: eu vou ser o guia...









Fomos avante, e Dom Pedron, orgulhoso, nos disse: sigam pela ladeira; é mais perto...







Dona Lama Mole, ouvindo, nos avisou: cuidado..., não escorreguem...




Seguimos todos em frente, com cuidado, com alegria, com harmonia, até que o Seu Mar Azul nos brindou: sejam bem-vindos...

Deixei a amiga Bici ali olhando, pois ela não sabia nadar. Tirei a camisa, tirei o capacete, as luvas, os tênis, as meias, e fui nadar...




Donas Gaivotas vieram xeretar, e reclamar, que Dom Gaton as incomodava...









Seu Sol pediu licença, pois cansado precisava descansar...

Todos nós estávamos cansados, e nos preparamos para dormir, pois no dia seguinte, seria tudo novamente, caminhos e amigos, mas por enquanto, Dona Lua era quem reinava...

E os sonhos se fizeram, brincaram de sonhar, nos tornar felizes em outros tempos, brincadeiras de pedalar...

* * *

Pedais...

Pedais são leves; são pesados...

Pedais não se entendem; são desnorteados...

Pedais são machos; são femininos...

Pedais adultos, viram meninos...



Pedais...
(Paulo R. Boblitz - dez/2010)


O vento parado não zoa nada. A pequena folha cai reta, sem volteios. As árvores não se mexem, as palmeiras dormem...

O tempo está quieto... Apenas a pequena folha se move, tenta se juntar às tantas outras já no chão, pintando-o de amarelo. Estendo a mão e ela se assusta...

Enxugo a pequena gota que ensaia escorrer na fronte, e espero, aguardo pela próxima animação, na paisagem quente cheia de miragem...

Só falta o outro pistoleiro para sacarmos das armas, num desafio que sempre um vai embora e o outro fica, pois parece uma rua deserta, portas trancadas, todos espreitando, sem movimento, apenas as cores dizendo haver vida, no pó que hora dorme, na pedra que se esquenta, nas galhadas que descansam...

Apenas eu, esbaforido, lançando ondas de calor no ar, ali parado também querendo vento...

Sento no quadro e me deixo ficar, mirando o nada; sempre há paz nesse momento...

Sinto dois olhos me fitando, viro e noto a pequena mãe no ninho, ocupada mantendo a vida. Lanço-lhe um sorriso e penso: não passamos de uma paisagem emoldurada nalguma parede...

O calor aos poucos se demonstra, o suor em gotas, cada uma procurando seu próprio rumo, trilhando rugas, por entre cabelos e pelos, pingando se lançando ao mundo...

Tudo trilha nessa vida...

Sinto um ventinho e me alegro, mas ele logo escapa e vai embora. Talvez tenha sido meu Anjo, indo para a sombra...

Olho para trás; não vem ninguém...

Apuro os ouvidos; apenas meus apitos soam...

Fecho os olhos; só a minha mente fala...

Prendo a respiração; o coração se anuncia...

Me abaixo e num pequeno estalo, liberto minha pequena garrafa do quadro, que vou desatarraxando lento, como se a vida, dali dentro não fuja. O cristal balança e me lança um raio, espelha o Sol que em tudo banha... Sorvo pequeno gole, um mais outro, trago delicioso que acalma a goela... A sede agradece e até sorri, pede mais, e mais um pouco...

Água, jóia rara quando estamos ao ermo, requer parcimônia, como com o bem que se custou, como aquele amor que se conquistou, como o brilho dos olhos que com o belo se contentou, sorriso sempre da alma, que mais amor repleta, mais ilumina...

Molho os lábios com a língua; sinto o sal da Terra...

Suspiro solto; deixo o cansaço seguir seu destino...

Miro novamente a pequena ave, mando-lhe minha alegria, desejo-lhe uma boa prole, monto e vou embora. O vento agora anda comigo...

Olho para trás e vejo minha poeira, pequenos grãos que alçaram vôo...

Sorrisos me alcançam; são crianças pedalando... Por instantes param e me observam, bem sérios empunham firmes os guidões; já sonham com a liberdade...

Aceno e vou seguindo, pois agora, sou eu como criança...

* * *

Papai Noel não é fábula

Se da vida não levamos nada,

de Vida, podemos dar...

Se da vida, ainda não sentimos nada,

de Vida, podemos oferecer,

pois que Vida, é você...


Papai Noel não é fábula
(Paulo R. Boblitz - dez/2010)


Quando eu era criança, sonhava e esperava meu querido Papai Noel com ansiedade.

Dezembro sempre foi um mês especial. Dezembro ainda é um mês especial.

O Tempo encarregou-se de me fazer enxergar quem de fato era o Papai Noel. Esse mesmo Tempo, voltou a me fazer ver que o Papai Noel é real...

Do mesmo jeito que não conseguia ver o bom velhinho, hoje também tenho a mesma condição, a de não saber para quem estou produzindo alegria, fazendo brilhar os olhinhos de tanta gente inocente, que sonha e anseia por dias melhores.

Papai Noel volta a existir, por ação de nossos gestos sem nada em troca...

Distribuímos não só presentes, mas alegrias e esperanças para tantas crianças especiais, pequeninas que já carregam suas cruzes em suas pequenas costas.

No ano passado, nosso primeiro ano de Natal Solidário, todos vocês fizeram sucesso, e devem ter permanecido nas cabecinhas de todos os pequeninos que nos receberam, por longo tempo.

Agora estaremos fazendo o nosso segundo Natal Solidário, mais arrumado, mais organizado, com muito mais amor do que no primeiro.

Só falta você...

Só falta sua presença, se possível com um pequeno gorro sobre o capacete, melhor ainda se devidamente vestido de vermelho.

Venha ser solidário, traga seus presentinhos, venha tornar realidade o nosso bom velhinho que mora em cada pequeno coração, venha principalmente encher de vida, tantas criaturas que nada têm, a não ser coraçõezinhos apertadinhos aguardando o nosso milagre.

Por favor, venha receber o brilho de cada olhinho a lhe sorrir encantado, e, se você tiver a sorte que eu tive no ano passado, aprenderá mais uma lição das tantas que vivemos aprendendo ao longo da vida, descobrindo que o amor não tem status, não tem preferências, não tem principalmente idade.

Não demore. Nosso passeio será no dia 11 de dezembro, próximo sábado, a sair do Calçadão da 13 de Julho, às 15h 30, com destino a Ação Social São Lourenço, na Farolândia, todos de bicicletas, maravilhosos Papais e Mamães Noéis piscando pela cidade.

Prometo que você se sentirá muito bem, a perceber a agradável sensação de fazer o bem sem olhar a quem, como o seu lindo e mais bonito presente de natal recebido.

Se você não puder participar, porque não tem uma bicicleta para pedalar, traga o seu amor e nos confie na sua entrega.

Se quiser, nos acompanhe para também se emocionar, deitar uma gotinha ou duas, da lágrima que o coração fará brotar.

Você, que é de outro Estado, organize um Pedal parecido em sua cidade, participe com um pouquinho do seu tempo. Não custa nada.

Papai Noel não é uma fábula; ele é tão real como esse seu desejo de fazer o bem.

Papai Noel é você...

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Trilha no circuito Costa Verde e Mar - Santa Catarina

Quando alguma coisa nos encanta,

O fim não chega ao fim...

Quando continuamos a falar, a escrever sobre o que já discorremos,

é porque fomos tocados pela magia...



Trilha no circuito Costa Verde e Mar - Santa Catarina
(Paulo R. Boblitz - nov/2010)


Terminar uma trilha não é fácil; terminar uma trilha como a do Costa Verde e Mar, em Santa Catarina, é mais difícil ainda...

Recolher a tralha, dar sumiço na sujeira conquistada, revisar a bicicleta, demanda certo tempo. Meus tênis ainda estavam vermelhos do pó do Caminho da Fé, quando foram lavados pelas águas dos dois primeiros dias, guardando a lama que secou do Costa Verde e Mar. Olhando para eles agora, dá para notar os respingos secos, as manchas que serão trocadas quando nova trilha eu fizer.

Tratar da sujeira é simples, mas tratar das fotos, dos dados estatísticos que foram sendo conseguidos dia a dia, leva mais tempo e puxa muito pela emoção.

Ao despejar minhas rotas para o Google Earth, acabei trilhando o Velotour Costa Verde e Mar pela segunda vez. A cada ponto lembrei do porquê da parada, do suor que a montanha produziu em ziguezague, das carreiras que as descidas proporcionaram, das conversas, principalmente comigo mesmo, como a orar a verdadeira Oração.

O GPS marca a cada segundo, e quando vejo um pontinho quase sobre o outro, lembro que a subida foi lenta e trabalhosa; ao vê-los espaçados, sei que a descida foi prazerosa. Por isso não antecipo a rota no aparelho, pois que ele me retorna mostrando os segredos, os apertos, os volteios, os erros que cheguei a cometer por duas vezes, num deles pedalando quase 9 km, indo e voltando.

Trilha gostosa é sempre aquela que você exercita inclusive o verbo, pois conversar com os da região, é conquistar simpatias. Seguir as setas é cômodo e até seguro, mas perdemos no espírito aventureiro, daquele sem rumo que sonhamos... Seguir o mapa roteiro é mais gostoso, pois que exercitamos nosso sentido da navegação, parando para raciocinar, para baixar o fogo, descobrir que entramos para o lado errado...

No computador, trilhei novamente o Velotour Costa Verde e Mar, e reparei que o belo que achei, é muito mais bonito, pois agora, privilegiado, voava sobre ele, descobrindo que passei por precipícios, rios e riachos, florestas, por campos cultivados, por povoados bem pequenos, pela História da própria região...

O traçado é outra coisa que nos desconcerta, pois ao rés do chão não conseguimos ter a noção de espaço, curtindo apenas as experiências de cada metro pedalado, às vezes cercados pelas altas árvores que nos brindam com seus galhos tremulantes. De cima, como observadores, nos orgulhamos da realização, nos emocionamos com a vastidão onde nos tornamos um pontinho a mais.

Velotour Costa Verde e Mar, lindo pela Natureza, emocionante pelos caminhos em meandros, pelos desafios sobrepujados, pelos suspiros que são lançados diante do que podemos ver, seja na terra preparada, seja na terra ainda bruta, com seus cantos e seus cheiros, seus sons de água, de pedra molhada, de águas em cascatas, de vida que passa e se demonstra para você, para nunca mais sair do seu ser.

Nossos pneus conversam e mudam de assunto a cada terreno percorrido. Nossas correntes estalam conforme as inclinações vão se apresentando. Nossos freios uivam conforme a caça. Nossas vistas se apertam conforme as paisagens. Nossas almas ficam maiores, quanto mais próximos chegamos à Criação...

Pedalar é repetir o ciclo para cima e para baixo, com cada um dos pés no pedal, mas trilhar o Costa Verde e Mar, é viver os altos e baixos de uma saborosa aventura que chega a nos tirar os fôlegos, nos acalma como os melhores calmantes, nos embebeda como o mais fino vinho, terra e mar, azul e verde, unindo-se pela alva espuma que se espalha pelas cálidas areias. Foram muitas imagens que custarão a se apagar...

O calor das pessoas em querer ajudar, em querer receber. O prazer das pessoas em trocar idéias, ou simplesmente jogar conversa fora. O atendimento especial a nós ciclistas, e às nossas bicis, máquinas de fazer histórias, onde sempre houve jeito, e sempre haverá cuidado para que fiquemos mais felizes. Como sempre andando lá atrás, muito lá atrás, muito, muito, algumas vezes me perguntaram se eu estava perdido do Grupo; eu apenas sorria e fazia sinal que não...

Isso significa que somos notados, e bem-vindos, e bem tratados por gente que nunca vimos. À Dona Marisa Pereira, Secretária de Turismo de Ilhota, o nosso obrigado pela recepção, pelas toalhinhas bordadas com precisão. À Jamile Tomazini, do Hotel Ilhota, em Ilhota, nossos parabéns pela simpatia e atenção. À Dona Marlene e seu esposo Walter, do Hotel Colinas em Luís Alves, nosso obrigado pelas caronas, pelos pães alemães. Ao Sr. Matias Fidelis Angeli, Secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura Municipal de Camboriú, nossa confiança em tão boas intenções. Ao Peregrino Carlos Beppler, Presidente da ACBC – Associação de Ciclismo de Balneário Camboriú e Camboriú, nosso reconhecimento pelo empenho, pelo envolvimento. Aos amigos Rodrigo Telles, Eliana Garcia e Fábio Fes, do Clube de Cicloturismo do Brasil (http://www.clubedecicloturismo.com.br/), nossos carinhosos abraços pela amizade, paciência, presteza, organização e simpatia na condução de tão belo passeio.

Por onde passamos, sujos, suados, talvez fedorentos, fomos recebidos com carinho, fomos vistos com interesse, fomos cumprimentados, principalmente pelas crianças, pureza desse mundo.

Arrozais, flores, florestas, igrejas, barcos, gente simples, mar, areia, pedras, rochedos, montanhas, vales, rios, cascatas, estradões, asfaltos, paralelepípedos, até gente se jogando para boiar no vento, ser pássaro por instantes, tudo isso se pode ver entremeado de belezas, todas elas naturais, aliado, não canso de escrever, à simpatia de um povo ordeiro e trabalhador.

Se você vai trilhar o Velotour Costa Verde e Mar, visite o sítio (http://www.costaverdemar.com.br/cicloturismo/), imprima o mapa roteiro, visite os recantos opcionais, gaste mais de uma semana se encantando com tudo o que você possa imaginar, desde a comida até aos banhos onde você pode conversar com as gaivotas que não se espantam com o bicho homem. Onze municípios da AMFRI - Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí, uma linda região, se uniram para que você, Cicloturista, pudesse se sentir em casa, pudesse principalmente, levar para casa, a excelente impressão da região, e querer voltar para nova trilha, e querer espalhar como boa notícia, como a boa coisa que lhe fez bem.

Jovens, em seus automóveis, passando por nós, acenavam, buzinavam, incentivavam, gritavam "iurrúúúú..!", como se tocados pelo feito, como se também quisessem participar do passeio. Não aconteceu apenas uma vez, mas várias e naturais reações alegres de comprometimento, de apoio e de aprovação.

Pegue seus alforjes e descubra por si só. Valerá cada centavo, cada pingo de suor...

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Dados:
Para quem quiser receber o 6 arquivos .KMZ, para navegação no Google Earth, solicitar pelo endereço pboblitz@gmail.com

Dia 1 - Balneário Camboriú - Piçarras
Altimetria Balneário Camboriú - Piçarras
Dia 2 - Piçarras - Luís Alves
Altimetria Piçarras - Luís Alves

Dia 3 - Luís Alves - Ilhota
Altimetria Luís Alves - Ilhota

Dia 4 - Ilhota - Camboriú
Altimetria Ilhota - Camboriú

Dia 5 - Camboriú - Bombinhas (Zimbros)
Altimetria Camboriú - Bombinhas (Zimbros)
Dia 6 - Bombinhas (Zimbros) - Balneário Camboriú
Altimetria Bombinhas (Zimbros) - Balneário Camboriú

Tabela geral
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