Quando alguma coisa nos encanta,
O fim não chega ao fim...
Quando continuamos a falar, a escrever sobre o que já discorremos,
é porque fomos tocados pela magia...
Trilha no circuito Costa Verde e Mar - Santa Catarina
(Paulo R. Boblitz - nov/2010)
Terminar uma trilha não é fácil; terminar uma trilha como a do Costa Verde e Mar, em Santa Catarina, é mais difícil ainda...
Recolher a tralha, dar sumiço na sujeira conquistada, revisar a bicicleta, demanda certo tempo. Meus tênis ainda estavam vermelhos do pó do Caminho da Fé, quando foram lavados pelas águas dos dois primeiros dias, guardando a lama que secou do Costa Verde e Mar. Olhando para eles agora, dá para notar os respingos secos, as manchas que serão trocadas quando nova trilha eu fizer.
Tratar da sujeira é simples, mas tratar das fotos, dos dados estatísticos que foram sendo conseguidos dia a dia, leva mais tempo e puxa muito pela emoção.
Ao despejar minhas rotas para o Google Earth, acabei trilhando o Velotour Costa Verde e Mar pela segunda vez. A cada ponto lembrei do porquê da parada, do suor que a montanha produziu em ziguezague, das carreiras que as descidas proporcionaram, das conversas, principalmente comigo mesmo, como a orar a verdadeira Oração.
O GPS marca a cada segundo, e quando vejo um pontinho quase sobre o outro, lembro que a subida foi lenta e trabalhosa; ao vê-los espaçados, sei que a descida foi prazerosa. Por isso não antecipo a rota no aparelho, pois que ele me retorna mostrando os segredos, os apertos, os volteios, os erros que cheguei a cometer por duas vezes, num deles pedalando quase 9 km, indo e voltando.
Trilha gostosa é sempre aquela que você exercita inclusive o verbo, pois conversar com os da região, é conquistar simpatias. Seguir as setas é cômodo e até seguro, mas perdemos no espírito aventureiro, daquele sem rumo que sonhamos... Seguir o mapa roteiro é mais gostoso, pois que exercitamos nosso sentido da navegação, parando para raciocinar, para baixar o fogo, descobrir que entramos para o lado errado...
No computador, trilhei novamente o Velotour Costa Verde e Mar, e reparei que o belo que achei, é muito mais bonito, pois agora, privilegiado, voava sobre ele, descobrindo que passei por precipícios, rios e riachos, florestas, por campos cultivados, por povoados bem pequenos, pela História da própria região...
O traçado é outra coisa que nos desconcerta, pois ao rés do chão não conseguimos ter a noção de espaço, curtindo apenas as experiências de cada metro pedalado, às vezes cercados pelas altas árvores que nos brindam com seus galhos tremulantes. De cima, como observadores, nos orgulhamos da realização, nos emocionamos com a vastidão onde nos tornamos um pontinho a mais.
Velotour Costa Verde e Mar, lindo pela Natureza, emocionante pelos caminhos em meandros, pelos desafios sobrepujados, pelos suspiros que são lançados diante do que podemos ver, seja na terra preparada, seja na terra ainda bruta, com seus cantos e seus cheiros, seus sons de água, de pedra molhada, de águas em cascatas, de vida que passa e se demonstra para você, para nunca mais sair do seu ser.
Nossos pneus conversam e mudam de assunto a cada terreno percorrido. Nossas correntes estalam conforme as inclinações vão se apresentando. Nossos freios uivam conforme a caça. Nossas vistas se apertam conforme as paisagens. Nossas almas ficam maiores, quanto mais próximos chegamos à Criação...
Pedalar é repetir o ciclo para cima e para baixo, com cada um dos pés no pedal, mas trilhar o Costa Verde e Mar, é viver os altos e baixos de uma saborosa aventura que chega a nos tirar os fôlegos, nos acalma como os melhores calmantes, nos embebeda como o mais fino vinho, terra e mar, azul e verde, unindo-se pela alva espuma que se espalha pelas cálidas areias. Foram muitas imagens que custarão a se apagar...
O calor das pessoas em querer ajudar, em querer receber. O prazer das pessoas em trocar idéias, ou simplesmente jogar conversa fora. O atendimento especial a nós ciclistas, e às nossas bicis, máquinas de fazer histórias, onde sempre houve jeito, e sempre haverá cuidado para que fiquemos mais felizes. Como sempre andando lá atrás, muito lá atrás, muito, muito, algumas vezes me perguntaram se eu estava perdido do Grupo; eu apenas sorria e fazia sinal que não...
Isso significa que somos notados, e bem-vindos, e bem tratados por gente que nunca vimos. À Dona Marisa Pereira, Secretária de Turismo de Ilhota, o nosso obrigado pela recepção, pelas toalhinhas bordadas com precisão. À Jamile Tomazini, do Hotel Ilhota, em Ilhota, nossos parabéns pela simpatia e atenção. À Dona Marlene e seu esposo Walter, do Hotel Colinas em Luís Alves, nosso obrigado pelas caronas, pelos pães alemães. Ao Sr. Matias Fidelis Angeli, Secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura Municipal de Camboriú, nossa confiança em tão boas intenções. Ao Peregrino Carlos Beppler, Presidente da ACBC – Associação de Ciclismo de Balneário Camboriú e Camboriú, nosso reconhecimento pelo empenho, pelo envolvimento. Aos amigos Rodrigo Telles, Eliana Garcia e Fábio Fes, do Clube de Cicloturismo do Brasil (http://www.clubedecicloturismo.com.br/), nossos carinhosos abraços pela amizade, paciência, presteza, organização e simpatia na condução de tão belo passeio.
Por onde passamos, sujos, suados, talvez fedorentos, fomos recebidos com carinho, fomos vistos com interesse, fomos cumprimentados, principalmente pelas crianças, pureza desse mundo.
Arrozais, flores, florestas, igrejas, barcos, gente simples, mar, areia, pedras, rochedos, montanhas, vales, rios, cascatas, estradões, asfaltos, paralelepípedos, até gente se jogando para boiar no vento, ser pássaro por instantes, tudo isso se pode ver entremeado de belezas, todas elas naturais, aliado, não canso de escrever, à simpatia de um povo ordeiro e trabalhador.
Se você vai trilhar o Velotour Costa Verde e Mar, visite o sítio (http://www.costaverdemar.com.br/cicloturismo/), imprima o mapa roteiro, visite os recantos opcionais, gaste mais de uma semana se encantando com tudo o que você possa imaginar, desde a comida até aos banhos onde você pode conversar com as gaivotas que não se espantam com o bicho homem. Onze municípios da AMFRI - Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí, uma linda região, se uniram para que você, Cicloturista, pudesse se sentir em casa, pudesse principalmente, levar para casa, a excelente impressão da região, e querer voltar para nova trilha, e querer espalhar como boa notícia, como a boa coisa que lhe fez bem.
Jovens, em seus automóveis, passando por nós, acenavam, buzinavam, incentivavam, gritavam "iurrúúúú..!", como se tocados pelo feito, como se também quisessem participar do passeio. Não aconteceu apenas uma vez, mas várias e naturais reações alegres de comprometimento, de apoio e de aprovação.
Pegue seus alforjes e descubra por si só. Valerá cada centavo, cada pingo de suor...
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Dados:
Para quem quiser receber o 6 arquivos .KMZ, para navegação no Google Earth, solicitar pelo endereço pboblitz@gmail.com
Dia 1 - Balneário Camboriú - Piçarras
Altimetria Balneário Camboriú - Piçarras
Dia 2 - Piçarras - Luís Alves
Altimetria Piçarras - Luís Alves Dia 3 - Luís Alves - Ilhota
Altimetria Luís Alves - Ilhota Dia 4 - Ilhota - Camboriú
Altimetria Ilhota - Camboriú
Dia 5 - Camboriú - Bombinhas (Zimbros)
Altimetria Camboriú - Bombinhas (Zimbros) Dia 6 - Bombinhas (Zimbros) - Balneário Camboriú
Altimetria Bombinhas (Zimbros) - Balneário Camboriú Tabela geral
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Boblitz, vc é um arretado, cabra!! ô vontade de ter tido essa oportunidade, parabéns!! Lindas fotos à altura do poético texto, característica singular dos seus relatos, parabéns, se há uma inveja positiva, é essa que desperta ao ver um relato desses. Forte abraço.
ResponderExcluirGrande Boblitz;
ResponderExcluirTexto e passeio belíssimos.
Parabéns pelo relato envolvente e por publicar o detalhamento do roteiro.
Abs,
Elias
www.pikidatrilha.blogspot.com
A imagem nos traz o lindo visual, mas as palavras nos remete a uma viagem virtual que nos dá vontade de transforma-la em realidade em curto prazo.
ResponderExcluirMoro em Itajaí-SC, praticamente dentro do percurso, que por sinal ainda não o fiz, pois tem 2 meses que retornei ao pedal, apos 2 anos sem pedalar. Mas tuas palavras são mais que incentivos a fazê-lo o mais breve possível.
Vou tomar a liberdade de lincar a reportagem em meu blog (www.bikerexpres.blogspot.com)
Parabéns.... abraços Jorge
Não curto bike. Isso não me impediu de fazer esse circuito através das lindas imagens e palavras. Parabéns e muito obrigado pela "viagem" que você me proporcionou. Waldir
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