Neurônios

Dói aqui, dói acolá, coço aqui...,

tanta coceira...

Corro aqui, corro acolá...,

tanta doideira...


Neurônios
(Paulo R. Boblitz - out/2014)

Já vi por aí que devemos usar a mão esquerda, quando normalmente utilizamos a direita.

Devemos ainda mudar as coisas que necessitamos, de lugar, dificultando assim, aquele conforto a que nos acostumamos. E por certo, muitas outras coisas, a fim de que nossos neurônios, enfrentando novas dificuldades, continuem em reprodução.

Não sei e nem vou discutir se são verdades ou apenas mitos, ou micos, espalhados pela internet...

Sei apenas que a Inspiração, se nos chega em profusão, por incrível que pareça, quando estamos em franca produção, até mesmo quando parecemos cansados; experiência própria...

Enquanto andando pelos meus 25 quilômetros diários, em média, pois às vezes andava mais, bem mais, carregando minha mochila com 13 a 14 quilos à bordo, escrevia crônicas na cabeça, várias delas num dia só, apenas para perdê-las quando parava, quando necessitava tomar um banho, quase sempre muito frio, quando a tudo interrompia porque tinha que jantar, algo misturado com a hora do almoço, porque ele havia sido de laranjas, chocolate, pão com queijo de ovelha, e muita água que pegava pelo caminho, nas diversas fontes potáveis ao longo do Caminho de Santiago de Compostela.

Não importavam as bolhas conquistadas, nem tampouco os castigos que o sol impingia às minhas panturrilhas; era começar a andar, e a coceira de escrever se estabelecia, e não havia jeito, pois era andar ou ficar parado para escrever, e não se chegar a lugar algum...

Nos albergues, impossível com aquela gente toda, todas aquelas línguas, concentração... Assim, matando a sede com a vontade, enquanto ia degustando quase 1 litro de caña (chope) São Miguel, o santo mais simpático da Espanha, escrevia o pouco entrelaçado que me sobrava...

Na roça, no próprio trabalho, na bicicleta, enquanto corpo e mente se movimentam, se vão cansando, inspirações vão se chegando...

Durante o banho, às vezes é o momento em que ela ataca furiosa, quando fico nervoso até poder sentar-me diante do computador, antes que tudo aquilo vire fumaça... Não, ainda não sentei pelado, pior ainda molhado ou ensaboado...

Deito e já estou embalado sonolento; ela chega barulhenta e me faz levantar, e eu levanto, porque não se consegue dormir sob buzinas que ficam a martelar...

Do mesmo jeito que as atividades produzem mais atividades em cascatas, a indolência gera a preguiça e o sono, o olhar vazio sem horizontes...

Se você quer produzir, não pare; os neurônios agradecem... Agradecidos, criam, sonham em voz alta e você inventa, seja lá o que for...

Mas, e o cansaço? O corpo cuida e avisa, dá sinais e você boceja; entra noutra onda...

Dormir é bom, faz você voar por aí; dormir demais, faz doer os ossos..., então, mexa-se! Aprenda a tocar piano...

Mas cada um, lembre-se, tem sua própria dosimetria...

Seja como for, tenha um espírito forte.

Ele é a mãe, ou o pai, de todas as valentias...

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