A Espiriteira do Cyrino

O fogo descobriu o homem,

o homem o dominou,

e desse dia em diante,

tudo foi alumiado, e cozinhado...


A Espiriteira do Cyrino
(Paulo R. Boblitz - set/2016)

Gostoso quando a gente descobre ideias boas, iluminadas... Assim conheci a espiriteira do Cyrino, que nas horas vagas, exercita sua terapia, cria e inventa, produz utilidades...

Vi o vídeo, dentre os tantos inúmeros sobre espiriteiras já vistos, e aquele me fascinou, pela simplicidade, praticidade, leveza, utilidade, beleza, e tantas outras coisas mais...

Ajeitei-me na cadeira, vi o filme até o fim, anotei seu endereço e logo estava a encomendar...

Demorou a chegar, é bem verdade, porque o Cyrino postou do interior de São Paulo, mas também não foi aquela demora toda...

Caprichada, bem embalada, aguardava-me a chegar do trabalho...

Mas o que é uma espiriteira? A resposta é qualquer fogareiro a álcool...

Espírito vem do Latim "spiritus", que significa respiração ou sopro, mas pode ser também coragem ou vigor; uma espiriteira tem tudo isso...

O homem descobriu o fogo, dominou-o, e um dia criou o vinho, e com o vinho, tornou-se poeta e inventor, e foi assim que ele também dominou o espírito do vinho, aquele álcool que o embebedava, que pegava fogo, que alumiava a noite...

Espiriteira pois, porque vem do "Espírito do Vinho", pequeno recipiente onde era despejado o álcool, o próprio espírito do vinho, aquele ingrediente que nos deixa leves, sábios falantes e ricos... 

Era menino quando boquiaberto, vi meu pai retirando o espírito da garrafa, sorridente diante de minha admiração, a ver a chama azul a percorrer o vidro, a ouvir o uivo daquilo aprisionado, ganhando liberdade...

É a espiriteira quem nos aquece o delicioso fondue, que junto com o bom vinho, nos traz mais calor, mais amor...

Não é o espírito, esse que nos empolga quando pedalamos, quando nos deslumbramos com a Natureza? Não é o espírito, esse que nos empurra aos desconhecidos e às aventuras? Não é o espírito, esse que nos conforta com tão pouco quando acampamos?

Se você que me lê, já tem um espírito forte, reforce-o, revigore-o com tamanha espiriteira, levíssima, provida de formidável coragem, pois ferveu minha água em instantes...

Fosse eu seu construtor, a chamaria de Dercy, é, aquela mesma, a Gonçalves, que despejava o bom fogo temperado...

Fiz todos os testes com minha Dercy, vigorosa nas chamas e no calor, linda no azul bem limpo que não suja, dançarina sob os ventos que lhe turbilhonam, econômica no gastar, fácil no apagar, mais fácil ainda no acender...

Apenas uns lembretes: jamais a acendam dentro da barraca; jamais descuidem do mato seco ao seu redor...

Recomendo de todo coração; a danada faz arroz, macarrão, faz também feijão, estrala ovos, frita tudo e faz pudim, pudim sim!, ou você não tem imaginação?

Me fez lembrar dos meus bons tempos em que acampava, sopa rala com salsicha na brasa, praia deserta onde lançávamos nossos foguetes; o sputnik ainda fazia sucesso...


juniorcyrino82@gmail.com

No Facebook, procurem por Junior Cyrino (Universidade Vila Velha - UVV - Todafoto)

Esclarecimentos:

1 - usei um espelho para melhor visualização; o dia estava bem claro, prejudicando o contraste das chamas

2 - a pequena panela ficou suja onde utilizei o isqueiro para novamente acender

A propósito: se você pretende sair por aí com uma espiriteira e um bom espírito, recomendo Cicloturismo - Antonio Olinto e Rafaela AsprinoSão divinos, seus manuais...

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Na vida, tudo é por conta das motivações...

Nem tudo que se escreve é fantasia,

nem tudo que se escreve é verdadeiro...

Na cabeça da gente,

é onde, de repente,

acontece toda a magia...


Na vida, tudo é por conta das motivações...
(Paulo R. Boblitz - julho/2016)

Hoje quando saí do trabalho, resolvi passar no supermercado, para comprar algumas frutas, umas maduras, outras de vez...

Passear pelo supermercado é algo, acima de tudo, colorido, pois o que não falta é rótulo disso e daquilo. Todo mundo compenetrado, olhares da gôndola para o carrinho...

Minha lista de compras, há muito que é moderna, pelo Whatsapp; vou comprando, e deletando... Mas nem sempre foi assim: minha primeira lista, a esposa escreveu de um fôlego só, ou seja, numa única mensagem, e a cada item, eu tinha que ler tudo aquilo de novo...

Comprei isso e aquilo, e mais aquilo outro; deu vontade de comprar um vinho...

Terminei minha maratona pelos corredores, dirigindo-me ao Caixa, uma mocinha simpática, a quem entreguei o meu cartão de crédito.

Item a item foi passando pelo registro, que apitava quando concluído.

Digitei minha senha, recebi minha notinha e fui em busca da saída, empurrando aquele meu trem.

Chovia grosso, descobri com desagrado, pois meu carro estava distante; teria que esperar a chuva passar...

Estávamos, eu e o meu carrinho, bem na entrada principal, aquela por onde todos passam, entrando ou saindo; à minha direita, uma mistura de bar, cafeteria e lanchonete, com pessoas alegres conversando...

E foi aí que me veio a vontade: aquela pressão ventosa que necessita despressurizar; não daria para disfarçar...

À minha esquerda, uma varanda comprida, sem ninguém à vista; de qualquer forma, estaria mais próximo do carro, e andei até não mais poder, porque havia um final.

Olhei para trás, não vi ninguém, então deixei escapar, isso que todos vocês também deixam; somos todos iguais...

É interessante, como ficamos mais leves...

Em menos de meio minuto, a câmara já estava novamente carregada; não pestanejei...

Enquanto aquela pequena nuvem escapava, notei um movimento ao meu lado; era uma linda mulher que se achegava.

Um relâmpago azul rasgou ligeiro minha massa cinzenta: enfrentaria a chuva, e o malcriado fedorento me acompanharia...

Se eu me molhei? Nem senti, porque ao mesmo tempo em que apertava o passo, passava-me pela cabeça, aquilo que a linda mulher estaria pensando:

- "Cabra macho!!! Queria que meu marido fosse assim..."

Já no carro, ponderei: "Vou pra casa como herói, não como cagão..."

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