Trilha de São Cristóvão

Nas velhas trilhas dos antepassados, voltamos na História...

Trilha é onde o progresso ainda não chegou, onde o chão é quase inocente...

Onde o povo nos oferece sombra ou água, nos cumprimenta com respeito...

Mais uma trilha para vocês, da maioria de Zuandeiros...



Trilha de São Cristóvão
(Paulo Boblitz - set/2009)


São Cristóvão é a quarta cidade mais antiga do Brasil, fundada por Cristóvão de Barros em 1 de janeiro de 1590.

Em 1637 foi invadida pelos Holandeses, época em que foi totalmente destruída, incendiada, para que não tivesse nada a oferecer aos invasores, nem gado, nem pastos.

Foi a capital de Sergipe até 1855, quando finalmente logrou êxito a política dos senhores de engenho, que queriam um porto com maior capacidade. Além de prédios históricos, tem como característica principal, sua topografia acidentada, distribuída em centenas de pequenos caminhos naturais.

Um deles foi eleito para a nossa trilha - muitas subidas; muitas descidas...

Saímos do nosso ponto de encontro às 6 e um pouquinho, depois que nos despedimos do Gilton e do filho dele, que estavam indo verificar a trilha programada para o dia 18 de outubro, a que nos levará à cachoeira de Macambira, no município de Itabaiana. O detalhe é que eles foram de bicicleta... Devem ter rodado uns 120 km pelo asfalto, ida e volta, e mais os quilômetros da trilha...

Rodamos aproximadamente 67 km, muito pouco pelo asfalto. Essa é aquela trilha que não cheguei a terminar da primeira vez, e de novo fui o Carniça...

Nossa única baixa foi o Djalma, que quebrou a gancheira do quadro, onde é fixado o câmbio traseiro; como solução, retirou pedaço da corrente, posicionando-a numa catraca só, impossibilitado assim de nos acompanhar. Seguiu com o Eduardo para um ponto de encontro, onde o carro dele pudesse resgatá-lo.

As vistas são belíssimas; as subidas..?, devidamente compensadas pelas descidas...

Aos 47 km por hora, sem pedalar, apenas na banguela, desviando daquilo que temos que desviar, obedeci à ordem de cautela emanada do cérebro, apertando levemente os freios, refreando aquele destempero, pois ralar naquela lixa..?, deve ser parecido com algum filme de terror...

- Boblitz!!!, tô passando pela esquerda!!! - E lá se foi o João de Deus, zunindo desembestado, ribanceira abaixo...

Logo ele..., o que eu achava com a cabeça mais acertada...

Mais na frente num longo trecho de areia solta, onde a bicicleta é quem escolhia por onde trilhava, brinquei com João de Deus:

- Aos brancos e tamancos, devagar vamos chegando...

- Com cerveja..! - ele respondeu...

Quando atravessávamos a cidade de São Cristóvão, já debaixo de um sol infernal, quase no alto daquela ladeira longa, perto do final da cidade, um bêbado, me vendo nas últimas a subir devagar, enquanto trôpego andava, gritou para mim:

- Vorza aí nezi negóc...; divízi tá é brá miiim...

E quase desço da bicicleta, de tanto rir...

Quando o asfalto ia começar a descer, olha lá um dos líderes nos aguardando, apontando a direção nos informando, que moleza só se fosse mais tarde...; era mais trilha a subir, a desviar de valas e buracos...

Numa trilha, passamos uma eternidade subindo, e quando a descida chega, ela passa rápido, gostosa como se alguém ligasse o ar condicionado...

Por volta das 10 e pouco, enfim chegamos na BR-101, já próximos do nosso café reforçado, uma parada técnica a repor energias, baixar o pique dos mais exaltados, suavizar o cansaço dos Carniças...

Ali nos reunimos, Vovô, João de Deus, Raimundo, Suzana, Mundoca, Fernando, Bruno Pânico, eu, Paulo Henrique meu filho mais velho, Sandro, Sílvio e Clayton. Nos aguardando já estavam Barriga e mais uns amigos, pedalando em outro passeio.

Comi que nem um condenado, macaxeira, inhame, ovos fritos e cuscuz de milho, com leite puro. Só de suco de cajá, tomei uns 5 copos... Barriga, inspirado, usou meu nome para mandar um desafio para o Omar, afastado dos pedais por conta do cotovelo quebrado, que quando ele voltasse às atividades ciclísticas, ouviria de mim: "Omar!, vá treinar!; depois volte para poder me acompanhar..!"

Ali na sombra, bicicleta estacionada, repondo energias, ouvindo sorrisos e sorrindo, lembrei daquela piada do maluco que martelava a cabeça, e a cada martelada, dava um grito de dor. Perguntado se sabia que doía, por que é que então continuava martelando!? Ele respondeu: "porque é tão bom quando eu paro..!"

Chegou a hora e fomos embora, pela BR, pelo asfalto do acostamento; uma longa subida nos aguardava, até chegarmos na entrada para o povoado Feijão, e não me perguntem o porquê desse nome...

Parados numa frondosa sombra à beira da estrada de piçarra, resolvemos seguir pelo povoado, mais trilha e mais areia solta. Desembocamos na rodovia João Bebe Água, onde outra longa subida nos aguardava. Lá em cima, um grupo decidiu seguir pela Cabrita, e nós continuamos pelo asfalto, afinal, até para se gostar de trilhas, há um limite...

Passamos pela duplicação da João Bebe Água, na altura da Universidade Federal de Sergipe, onde algumas máquinas trabalhavam. Já quase esgotado, fui ultrapassado por uma carroça; o pobre animal carregava dois outros em cima, que impacientes apenas brandiam as rédeas, como se o eqüino não merecesse respeito. Se eles soubessem como é o esforço para carregarmos as coisas, tratariam o pobre animal, melhor...

É esse tipo de gente que quando melhora um pouco e consegue comprar uma moto ou um carro, sai agredindo a todos pelo trânsito.

Não precisamos de sofisticação; necessitamos apenas de um mínimo, de educação e cultura...

* * *

Questão de justiça

Este é um adendo importante à crônica já publicada "O Paraíso ainda existe".

Com ele, fazemos justiça aos 6 bravos companheiros que pedalaram de Aracaju até quase Recife.

Confiram abaixo, para orgulho de todos eles...



Questão de justiça
(Paulo Boblitz - set/2009)

Ontem, quando eu pedalava, o amigo me abordou:

- Mas Boblitz!, você não citou os nossos nomes..! A gente saiu dois dias antes..!

- É..., embora eu tenha citado o fato, não os citei nominalmente...; foi um esquecimento imperdoável...

Ele se referia à trilha Maceió - Recife, mas haviam saído de Aracaju, onde todos moramos. Enquanto fomos de ônibus, eles foram pedalando.

Como justiça não tem tempo certo para ser aplicada, nunca é tarde...

Os injustiçados, na ordem alfabética, foram:

- Edmundo Barriga
- Djalma Gustavo
- Gilton Mello
- Raimundo Mundoca
- Ricardo Hsu
- Thiago Hulk

A relação acima está na ordem alfabética sim, pois se chamarmos Edmundo, ninguém conhece...

São uns animais..!; pedalaram em 5 dias, 530 quilômetros, dos quais 185 no primeiro dia, 110 no segundo, ambos contra o vento, que estava com a peste!, ainda por cima transportando bagagem...

Só em pensar, a bunda dói...

Vamos raciocinar...; dirigindo, podemos dizer que estamos confortáveis, mas dirigirmos 4 horas na mesma posição, é cansativo... Imaginem então pedalar 13 ou 14 horas, quase que seguidas!?

A bunda de vocês, não está doendo?

Não tiveram carro nenhum de apoio! Foram na marra e na raça, reparando aqui, acolá, algum pneu...

Eles são aqueles que saíram na quinta-feira logo cedo, debaixo de chuva forte, daqui de Aracaju. A primeira noite foi dormida na praia do Pontal do Peba, em Alagoas, depois que cruzaram o maravilhoso rio São Francisco.

Na segunda noite, pernoitaram na praia do Francês, onde os resgatamos por volta das 4 horas da manhã, de uma madrugada enluarada e fria. Mais duas horas e saímos todos de Maceió, primeiro dia nosso, terceiro dia deles...

Pedalaram neste terceiro dia, exatos 120 quilômetros.

No quarto dia, com bastante sol, ladeiras e rodovia, foram 90 quilômetros, onde por volta do segundo terço desse trajeto, Barriga e Hulk se envolveram no acidente que tiraria Hulk do passeio - ele deslocou o ombro.

No quinto dia, apenas 25 quilômetros de trilha pela Mata Atlântica, desgastante pelo tipo de terreno, e praia de Calhetas, vizinha à de Gaibu, onde estávamos.

Em cinco dias, quase cruzaram Portugal de norte a sul (550 km); fizeram dois terços do Caminho de Santiago, se tivessem partido de Roncesvalles (792 km); teriam quase cruzado a França em seu ponto médio (642 km), de leste a oeste, e por apenas 10 km, não teriam cruzado a Alemanha em seu ponto médio também, mesmo sentido leste-oeste.

É muito chão, podem acreditar... Se tivessem um gerador instalado na bicicleta, teriam vindo gerando, calculando por baixo, uns 60 W cada um, uma lâmpada razoável, acesa durante o trajeto...

É bastante energia... Agora entendo por que o Gilton come tanto...

* * *

Cuspindo o fel

Fel é coisa amarga...; fel é azedume, é mau humor...

Azedos, nos tornamos feios; a antipatia prevalece...

O normal assim é que se compliquem, as coisas que desandaram...

Descubram como é fácil, e pratiquem...



Cuspindo o fel
(Paulo Boblitz - set/2009)


Existem aqueles dias em você foi magoado, ou injustiçado, ou de alguma forma ofendido; existem aqueles dias em que você sofreu um bom prejuízo... Nestes dias, costumamos querer dar porradas em alguém...

Já notei que até certos animais são assim; Pombinho, o meu cavalo, é dessa forma...

O quê fazer então para descarregarmos? Descontamos em quem nada tem a ver? De jeito nenhum...

Descobri que posso dar porradas em mim mesmo.

É só pegarmos a bicicleta, de preferência contra o vento, e pedalarmos até as pernas gritarem Basta!

É tiro e queda...

Para não pararmos de vez, vamos suavizando o pedal, diminuindo o ciclo, até que lentos, descobrimos que a raiva também já passou...

Aí podemos enfim dar uma paradinha, sorver uns goles d'água, e se dermos sorte, nos encontrarmos com algum outro ciclista, não nas mesmas condições, e batermos um papo, e seguirmos pedalando...

Se não encontrarmos ninguém, podemos simplesmente parar numa barraca, pedir um coco verde gelado, uma tapioca de goma de mandioca no queijo e na manteiga, e saborear enquanto o sangue esfria sob a brisa gostosa, que sempre nos sopra quando estamos suados.

Um bom descanso faz bem ao corpo, aclara as idéias, afugenta os maus agouros...

Pagamos a conta já sorrindo para a Atendente, nos despedimos com uma boa noite, montamos novamente e já podemos devagar seguir curtindo, a paisagem, o trânsito, as luzes que passam riscando, as gentilezas que vamos angariando, enquanto a cabeça mais calma vai processando, muitas das vezes encontrando as soluções necessárias.

Ruim é quando a raiva é logo no começo do dia; o jeito então é recolher o cenho, contar e recontar até que as dezenas se tornem enfadonhas.

Se a raiva é na boca da noite, então é só trocar de roupa..., não esquecendo do capacete..!

Não me entendam também que é para subirmos calçadas, buscarmos buracos para cairmos com as duas rodas... Aí a raiva só aumentaria, quando descobríssemos o valor dos reparos...

Assim, como podem ver, dar porradas em si mesmo, como qualquer coisa nesse mundo, requer um pouco de treinamento...

Isso também não quer dizer que quando me virem em arrojada carreira, será por conta de algum desassossego; eu poderei apenas estar treinando...

E para vocês verem como bicicleta é coisa boa, com raiva ou sem ela, sempre estamos em treinamento...

* * *

Laranjeiras

Cumpri minha promessa; rezei no alto da ladeira, lá de onde avistamos as grandezas do Pai...

Talvez mais próximos do Céu, sejamos ouvidos com maior clareza...; que minha amiga seja protegida...

Laranjeiras é uma ilha no meio de tanto verde, a cor da vida...

Estejam à vontade no meu blogue.

E que se sintam contagiados, assim como confesso que estou...



Laranjeiras
(Paulo Boblitz - set/2009)

Foram quase 76 Km entre ida e volta, debaixo de chuva na maioria... É o tempo chuvoso indo embora; a Primavera se chegando, as ondas de calor se insinuando...

Saímos cedo, ali pelas 6 e mais um pouco. Tchê estava lá mas resolveu pedalar até o Mosqueiro. Tinha compromisso às 9...

Saímos Zé Luiz na liderança, Tzara na vice, Torres com seu guidão levantado, Marília e Moisés namorados, e eu fechando o grupo, 6 ao todo, num dia chuvoso, dia molhado, nuvens pesadas no horizonte, água com porcarias a ser levantada, pelos pneus com cravos, pelos pneus lisos - tempo de pedalar calado...

Pegamos o centro da cidade, e de lá seguimos em ziguezague cortando caminho, seguindo por uma periferia não muito lembrada, cuidado nosso para não sermos abordados, e mais um pouco a estrada livre...

Subindo e descendo, passando marchas, já estávamos devidamente encharcados, cada um com um trilho nas costas, das sujeiras do chão...

Domingo, dia calmo, dia gostoso...; passamos por uma Assembléia, do lado de fora um carro de som a chamar os fiéis, que mais seriam o orgulho do Pai, se no campo Dele estivessem navegando - é o dinheiro da fé...

Passamos de Laranjeiras e fomos até a usina de açúcar Pinheiro, vistas até se perderem, de plantação de cana...

Torres brincou na Portaria, perguntando se tinham rapadura...

Pelo caminho, água na boca logo se criou, pois Zé nos mostrou um estradão a ligar o Município à outra BR, a que vai para Areia Branca e Itabaiana. Ficou a promessa de lá voltarmos no verão.

Laranjeiras está apenas a 9 metros acima do nível médio do mar, mas para lá chegarmos, temos que pedalar por boas montanhas, hoje pavimentadas e habitadas. Tem cerca de 30.000 habitantes, duas fábricas de cimento importantes, uma de fertilizantes, desculpem aqui se por acaso erro nos municípios...

Cidade antiga, era para ser a capital de Sergipe, não logrando êxito por uma manobra política do Barão de Maruim; tem um casario colonial de fazer inveja a qualquer outra grande e velha região.

Pedalamos sobre pedras toscas e desiguais, as melhores faces voltadas para cima, num calçamento para lá de centenário, que a cada dia vai encurtando pela lógica intromissão do progresso e seus confortos.
Paramos e observamos, várias mulas encilhadas, povo tradicional se locomovendo.

Seguimos até a Igrejinha Bom Jesus dos Navegantes, com sua ladeira infernal... Apenas Zé Luiz e Moisés a subiram devidamente montados; o resto só conseguiu chegar até o meio dela, muito boa para bodes e cabras...; terminamos empurrando ladeira acima, para ver na outra colina, a Igreja do Senhor do Bonfim.

Cumpri minha promessa à amiga de longe, de além mar, e rezei um Pai Nosso; pedi que a protegesse, pois vive em missões de buscas e salvamentos, e patrulhamento também - fez aniversário ontem, dia 19 de setembro...; parabéns para você, Ana...

Olhando as tantas montanhas, a igreja soberba lá no alto, lembrei de Santiago, do Camino (Caminho), das tantas subidas e descidas que andei, dos tantos quilômetros que percorri, e mais agradeci...

Não fosse a alegria que vamos trocando pelo caminho, o trabalho todo seria estafante; trocamos energias, nos revezamos, nos incentivamos, nos solidarizamos - isso faz qualquer caminho menor...

Hoje, eu e Marília aproveitamos melhor: aprendemos a soltar as mãos do guidão e pedalamos, livres, como se estivéssemos a voar...

Cheguei tarde em casa; lavei minha tralha, pois não tem graça sujarmos para os outros limparem, almocei, dormi um pouco e agora escrevo, enquanto a lembrança não vai embora.

Domingo que vem? Quem é que sabe? Para algum lugar estaremos pedalando...

* * *

As Mulheres e seus pedais

As mulheres não são menores e nem maiores, não são melhores e nem piores. As mulheres..., são mulheres..., o nosso outro lado que complementa, que apazigua, que nos medica a alma e suaviza.

Tristes dos machistas e feministas, pois recusam o equilíbrio, radicalizam na incompetência...

O mundo sem as mulheres, seria cinzento...; meu blogue sem elas, seria insosso.

Parabéns a todas vocês.



As Mulheres e seus pedais
(Paulo Boblitz - set/2009)


Quem pensa que mulher pedalando é desajeitada, está completamente enganado; deixam muitos marmanjos para trás...

Quem pensa que mulher numa trilha cheia de lama, tem problemas com aquele salpicar, está redondamente enganado, pois a lama é para todos, assim como o Sol, assim como a paisagem sempre bela de vales soberbos e verdejantes...

Nossos passeios, em trilhas ou sobre o asfalto da cidade, não seriam os mesmos se não fossem as mulheres, que pedalam formando poemas sobre duas rodas, embaralhando-se com as outras flores do campo, coloridas e no cheiro sempre perfumado...

Se não existe tal Artigo, aqui externo minha reprimenda, pois que todo Estatuto deveria trazer em seu escopo, em letras garrafais, que: SÓ SE PEDALA, SE TIVER MULHER NO MEIO...

As mulheres quebram qualquer rigidez no grupo, atuam como catalisadoras para o equilíbrio sempre procurado, pois são elas a parte delicada, a que requer a atenção, a que exige de todos nós o bom senso e os bons modos.

Se estamos num passeio sobre o asfalto, são elas as flores em movimento; se estamos por entre veredas, em trilhas estafantes, são elas as melhores flores do caminho.

Homem pedalando é algo como um quadrado girando; mulher pedalando, é a própria esfera perfeita e suave, sempre elegante na postura, pois que elas sentam, e os homens se escancham...

Ver um homem pedalando é algo que não se deve olhar; ver mulheres pedalando, é algo que se devia proibir em prol da segurança, pois que são a própria maestria das curvas, a combinar com tudo aquilo que na bicicleta gira - nada sobra, nada falta...

Nossa Língua, tão rica e exuberante, está a dever com a mulher que pedala, pois que ciclista é comum de dois, mas mulher pedalando é diferente...; deveriam ser chamadas de pedáhlinas, uma mistura de pedais com as dáhlias, lindas flores cheias de cores...

De longe, têm mais fôlego que todos nós, pois pedalam e conversam, o passeio todo...

São firmes e compenetradas, pois não esquecem de nos mostrar os obstáculos pelo caminho; magras ou cheinhas, em balanço vão pedalando, seguindo as regras e sorrindo, ajeitando a mecha do cabelo que cai, a fivela do capacete que entorta, a barra da blusa, o dedinho da luva...

Polarizadoras, onde estão, sempre tem muita gente em volta.

Românticas, observam as belezas com maior cuidado.

Cautelosas, seguem qualquer trilha sem maiores acidentes.

Alegres, transformam qualquer ambiente...

As bicicletas rangem menos, os pássaros cantam mais, o Sol mais brilha, os buracos somem, as dores vão embora, a música..?, de onde é que sai essa música que escutamos..?

Se pedalar é gostoso, pedalar com mulheres é muito mais...

* * *

O Paraíso ainda existe

Meus amigos,

A crônica é grande como grande foi o passeio, mas lê-la não cansa como pedalá-la.

Estão todos convidados para conhecerem o percurso de Maceió até Recife. O bom seria que vocês também estivessem lá, ou quem sabe numa outra trilha, outras belezas...

Faz bem ao coração, às pernas, e principalmente à alma.



O Paraíso ainda existe
(Paulo Boblitz - set/2009)


Deus um dia expulsou o homem do Paraíso...

Não creio que deve ter sido bem assim; Deus não faria isso... Deus havia criado o homem com carinho e sabedoria; jamais o expulsaria de casa.

Como bem feito que Deus a tudo faz, o homem quis ser independente, como aquela criança que um dia descobre que já pode caminhar com as próprias pernas, e parte para conquistar a vida.

O homem e a mulher enfim partiram, mas não deixaram de amar o Pai...

Agora com todos em silêncio, apenas esfriando o sangue em contemplação, descubro que nunca abandonamos de fato, o Paraíso...; ele está o tempo inteiro junto a nós, e só o adentramos quando nos desfazemos de todas as nossas tribulações, nos afastamos do burburinho citadino, e comungamos com tudo aquilo que é de Deus.

Ao meu redor, o Paraíso...

O mar esplêndido, azul piscina...; o vento a zoar e refrescar à sombra das palmeiras que se agitam, pequenos grãos a saltitar, a andar construindo dunas...; o verde da grama rala a contrastar com a areia alva, choupanas simples a acomodar, a receber com carinho e sorrisos, qualquer visitante que tenha vindo em paz...

O cansaço nos tira o ar, reposto em longas aspirações; o batimento cardíaco vai se amainando, se animando em calma, diante de tanta beleza que nos enche os olhos, da face e da alma...

Obrigado meu Deus, por tanta paz, por tanta alegria de cores em movimento, simpatias ao meu redor, apenas em contemplação, pois a linguagem é uma só - tentar entender a tudo o que se vê, como se tudo fosse uma Oração...

Um sorriso nos arranca a atenção, afinal a comida chegou, simples como o lugar, temperada com o prazer em receber, que enche o bolinho frito de macaxeira, o cuscuz de milho soltinho, o suco de goiaba cheiroso, o café encorpado e quente, o pãozinho fofo a ser recheado com o ovo caipira mexido - sabor nenhum exótico; sabor nenhum falso...

O primeiro braço perde a imobilidade e se estende - está cheio de vontade e fome, arrancando logo grandes nacos, não de sabedoria, mas de pura energia, bombas que não explodem, nem tampouco viciam, mas tão somente na quantidade certa, alimento a combater o débil, a encher o saco vazio... A alma já se alimentou pouco atrás, e continuará se alimentando em expressões, em devaneios, em suspiros, em amor, pois que o lugar inteiro nos ama, nos acolhe em aconchego.

O Sol, a parecer em ciúmes, nos queima sem dó - brincam comigo, onde arrumei joelheiras?, ainda mais vermelhas? Ele nos tira a água, nos tira o fôlego; Deus nos dá a vontade, nos anima a garra.

Brincamos enquanto podemos, mas é chegada a hora; a preguiça precisa ir embora...

Seguimos pela beira do mar, deixando rastros que ele daqui a pouco apagará; a areia nos prende, nos agarra, parece querer que dali não saiamos...

O Paraíso não foi feito para sempre..., afinal os outros dele também têm direito..., e mais Paraísos à frente nos aguardam..., mais mensagens de amor do Pai, como pedras brutas esculpidas, falésias altas coloridas, um mundo de algas descoloridas, pois que também abandonaram o mundo em que viviam... Nascentes que brotam das pedras, o doce a namorar com o sal...

Quem não desceu da bicicleta tomou queda, pois Paraísos também são estranhos, pregam peças a nos lembrar, que a vida não é somente bela...

Areia solta sobre pedra lisa, receita certa do desajeitado tombo... Omar quebrou o cotovelo..., nossa primeira grande perda..., nossa primeira boa lição, de que o positivismo continua, de que a dor não elimina o ânimo, de que o passeio acabado não nos azeda o espírito...

Omar sobreviveu, sorriu e curtiu, ajudou e se preocupou, enfim passeou um novo passeio...

Suamos e nos enchemos de dores, nos queimamos e ficamos marcados, abandonamos o conforto e o fácil, e pedalamos..., fazemos mais força, bufamos e vamos nos revezando, nos ajudando, nos alegrando em palavras boas, em amores a comungar com Deus, que lá de cima Se orgulha, em ver filhos adoidados, curtindo o que Ele fez de belo...

Cada um se apóia, cada um se ensina, cada um transmite a experiência, cada um se preocupa em melhoras, seja lá do que for, se equipamento ou técnica, se piada velha ou nova...

Almoçamos..., uma peixada antecedida pelo arroz branco, que tem gosto mesmo puro, que desce sozinho como o maná, que vai satisfazendo a fome, suavizando-a pelo peixe colorido e pelo pirão encorpado, que chegam pouco depois.

Outro Paraíso a ser deixado para trás..., sorrisos sendo trocados por luvas, capacetes, água fresca nos cantis; o pedalar requer atenção, e cada coisa em seu devido tempo...

Seguimos em busca de nossa travessia, uma balsa pequena que nos obriga a desatrelar o reboque; ônibus, reboque, bicicletas, alguns carros de passeio, tudo espremido de uma margem à outra, momentos de apenas prosas... Ali me despeço dos pedais naquele dia, 80 quilômetros percorridos, mais 40 a percorrermos; vou de ônibus, ao Omar fazer companhia...

Chegamos já noite no hotel, onde alguns mais apressados já estavam, onde alguns ainda vêm pedalando pelo caminho...; nos instalamos, tomamos um banho regenerador, saímos em busca de novos ares; alguma festa deve ter acontecido, pois a cidade inteira fervia, gente à beça passeando, andando para lá e para cá; nos alimentamos e hidratamos, e voltamos todos para uma boa noite de sono.

Assim termina nosso primeiro dia...

...

Manhã ensolarada já promete, hoje o dia será do Sol, que aliado às subidas do asfalto, arrepios da Terra no passado, nos tirarão as energias, produzirão mais baixas...

Tomamos um café bem reforçado: lingüiças, macaxeira, cuscuz de milho, ovos mexidos, sucos diversos, pães, bolos, café e leite - ninguém joga muita conversa fora, pois a fome é evidente; apenas sorrisos são abundantes, pois não atrapalham o mastigar...

Hora da "fota", a foto oficial do grupo; saímos com destino a Gaibu, praia formosa, outro Paraíso. Recuperado, vou pedalando mais 20 quilômetros, mas vou também ficando para trás, atrasando o grupo. Tomo uma decisão não muito difícil - vou de ar condicionado...

E seguimos de ponto em ponto, parando a cada sombra boa, aguardando cansados ciclistas, especialistas do ciclo, que chegam em busca de frutas e sempre água, sempre ela a esvair-se em prantos, pelos vários poros que se multiplicam...

Num canto debaixo de uma palmeira, nossa segunda baixa com paciência nos aguardando..., Thiago com um saco de gelo sobre o ombro, deslocado quando atropelou o Barriga, que caiu à frente dele, apenas pouco arranhado conseguindo seguir em frente...

Seguimos adiante numa rodovia, fria cheia de curvas e subidas, onde todos só se preocupam em chegar, cada vez mais correr para não se atrasar, de vez em quando olhando cada um de nós a pedalar, a fazer esforço que ele sentado no conforto, apenas sonha algum dia em também fazer - alguns buzinam, outros acenam, simpáticos à boa idéia, quem sabe mais um adepto conquistado?, mais um a criar coragem de numa sela sentar, e pedalar, e suar, e pôr a saúde em dia?

Partimos novamente, pois à frente sempre tem gente seca, sem água principalmente; atendemos e aguardamos, pois os de trás logo também chegarão. Fernando decide parar e seguir com a gente, os joelhos estão doendo; mais um pouco chegam João de Deus e Bruno, estão cansados e muito atrasados - vamos todos de ônibus, pois o sentido é o grupo, a união que liga o pedal à convivência, produz o Paraíso conjunto...

Chegamos a Gaibu, que mais parece um formigueiro, gente chegando e gente indo embora, todos se divertindo ao modo deles. Ruas estreitas, muitos carros estacionados, fora os que vêm em sentido contrário, nos obrigam a parecermos guardas de trânsito, fazendo parar e encostar, para que o Caldas, cuidadoso em nada ralar, imprima lento avanço, onde ninguém fica impaciente, afinal isso é Nordeste, lugar por si só hospitaleiro...

O hotel é de primeira e todos já estão na piscina, dentro d'água se refrescando, cervejas bem geladas hidratando, a boa prosa acalmando, os "causos" sendo repassados, pois cada grupo tem sempre o seu, coisa normal num grande percurso, onde as variáveis estão sempre presentes...

Vêm muitos Zuandeiros nos ajudar, afinal ainda não chegamos - é preciso desatrelar o grande reboque, colocá-lo em posição adequada, retirar as bicicletas nele guardadas, buscar bagagens no microônibus, enfim, apear para descansar, máquinas e gente...

Almoçamos às 4 da tarde, novamente peixe saboroso, desta vez um filé chamado à moda Suape, e outro peixe inteiro à moda Gaibu, tudo molhado ao som de cerveja e vinho..., e bastante pão ao azeite e sal, umas gotinhas de limão...

A cidade ferve e continua fervendo, a noite cai e num mastro sobressaem, sob iluminação adequada, as bandeiras do Brasil, da União Européia, e de Portugal, nosso amigo de além mar, quem nos trouxe a formidável língua...

Músicas aqui e ali, bares com suas especialidades...; preferimos um à beira-mar, em plena areia de maré vazia, ao som das ondas quebrando ao longe, da brisa morna que nos aconchega, ao pé de um rochedo que sustenta um velho forte, com a Lua cheia em cumplicidade, nos misturando as luzes e matizes, os sabores dos tira-gostos, dos caldinhos quentes dos frutos do mar, da macaxeira frita crocante, das cervejas absolutamente geladas, da água de coco que já vem pela Natureza embalada...

Omar acende um robusto charuto, cubano segundo ele, fedido segundo poucos..., e tudo se mistura mais um pouco, luzes, sombras, brisas, sons, sabores e odores... Felizes retornamos ao hotel, onde ao pé da piscina tem ainda gente proseando; alguns já foram dormir faz tempo, pois é o cansaço enfim quem determina, a duração de cada conversa.

Nossa segunda noite se estabelece; mais um pouco só se ouvirá o mar, em constante carícia à terra, no vai e vem infinito, sob os cuidados do vento - a paz toma conta do lugar; lá no alto a Lua cheia observa, devendo sorrir contente, por seu manto suave a todos envolver e enternecer.

Assim termina o nosso segundo dia...

...

Partimos por volta das 8 horas da manhã, de um dia quente e ensolarado; o calor ainda ficaria maior, pois a nossa trilha foi em direção à exuberante Mata Atlântica que circunda Gaibu, com suas magníficas árvores de grande porte, cantos variados dos pássaros que ali habitam, cheiro indisfarçável de Natureza pródiga.

Areia solta, areia úmida, lama de caulim, troncos e cipós a exigirem cuidados, orquídeas e tantas flores silvestres, raios de sol intrometidos formando luzeiros, de um céu que nunca é azul...

O homem na terra precisa habitar, afinal também é um dos donos dela, mas não necessitaria destruir...

E o homem está destruindo aquele Paraíso...

O mais puro dos capitalismos, a mais ferrenha especulação... Poderosos situando-se atrás dos miseráveis, que nada têm a perder, que nada têm a ser tomado, que nada têm para ser em multas, cobrado - a Lei se torna, na prática, inaplicável...

A mata é derrubada, a madeira queimada ou vendida por poucos valores, tal é sua abundância, e mananciais começam a secar... Passamos por duas lagoas já completamente secas, a principal, a lagoa do Zumbi.

Em seus lugares, centenas ou milhares de pequenos afluentes de água suja e fedorenta, esgotos gordurosos dos tantos casebres, serpenteando em meandros pelo chão que um dia foi puro, criando e engrossando riachos fétidos a desaguarem no mar, igual ao que vimos próximo, na noite anterior, vez por outra se insinuando quando o vento fazia a curva...

O homem é parte de Deus, mas é também o pior dos animais... É egoísta e só quer tudo para si, não dando chances de dividir com a própria Natureza, quem fez tudo com a dose certa de Deus.

Passa arame farpado e apenas aguarda, quando a poeira da celeuma se aquietar, entregar a posse por conta de poucos trocados, a quem tem fácil para pagar.

O homem não é apenas animal; é também estúpido...

Mais alguns anos, nenhuma daquelas belezas existirão; cederão lugar a muros altos, que por maior consumo, no esgoto aumentará, a podridão que mata, que afugenta o animal dito não racional.

Um crime como o suicídio, cometido contra si mesmo, plantado agora para ser colhido mais tarde, em escassez e poluições; gente que de longe, em cada uma das mansões, encherá a visão com linda vista, para si e convidados, de um mar repleto de podridão, de uma região que um dia foi Paraíso...

E não existem autoridades, nem tampouco instituições, que dêem um basta na situação; esse basta só chegará, quando todos eles estiverem satisfeitos, quando os efeitos da grilagem não puderem ser desmanchados. Aí eles fecharão as portas, trancarão as porteiras, decretarão Área de Proteção, já com o bolso cheio, dos favores que foram trocados...

Felizes todos nós que ainda conseguimos, embora não por inteiro, vermos aquela beleza toda, ainda que agredida; mais alguns anos, só existirão muros, ruas repletas de gente que não pensa, problemas para a sociedade, que de pescadores e simplórios, perdendo a inocência, tornaram-se mercadoria para turistas, atrás de coisas somente fáceis, num lugar onde antes só existia dignidade.

Estão trocando a sanfona pelo reggae, a macaxeira pela droga, o sorriso franco pelo sexo barato, a liberdade pelo aliciamento; uma triste e constatada realidade...

A trilha retornou muda, uns seguindo até Calhetas, outra praia também maravilhosa, e outros voltaram para o hotel; estava chegando a hora da partida, de mais um Paraíso abandonarmos...

Chegamos na praia de Boa Viagem por volta das 5 horas da tarde, onde almoçamos na Churrascaria Ponteio, comida farta, comida esperta, onde o nosso amigo Tchê, um gaúcho visitando o banheiro, viu na parede um vasilhame de Listerine, anti-séptico bucal; achando que era detergente, desprezou os copinhos ao lado, fez espirrar direto na mão, que insistente tentou ensaboar, esfregando uma na outra - esse foi o Tabaréu do dia...

Dali seguimos para o Marco Zero da cidade, onde chegamos por volta das 7 da noite, e definitivamente fomos embora, cansados e cheios de glórias, de mais histórias a nos enriquecer a vida, de mais exemplos servirmos aos outros, de que se pode quando se quer.

Passamos a noite no microônibus; dormimos sentados de qualquer jeito, sonhando com mais Paraísos, com mais união em outros passeios.

Deixamos todos os Paraísos para trás, pois que assim como um dia aconteceu, também precisamos tocar a vida, nunca longe do Pai, orando e agradecendo, por termos tido os momentos que tivemos...

O Paraíso sempre anda junto a nós; compete a cada um querer vê-lo...

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Fatos e estatísticas:

1 - Na verdade, comecei esta crônica alguns dias antes do passeio, e parei quando necessitei ir além da introdução. Passei pouco mais de uma semana, e também durante o passeio, a ouvir a palavra "Paraíso" sendo citada com insistência, apesar de manter o meu segredo sobre o título e o conteúdo. Isso prova que interagimos, que acabamos tendo uma afinidade pelo pensamento comum, assim como comum é o pedal.

Mas talvez seja obra de nossos Anjos da Guarda, que conversando animadamente entre si, acabam praticando a fofoca, sendo o meu, o maior deles. Pode ser ainda pura coincidência, mas pessoalmente, não gosto dessa palavra...

2 - Saímos de Aracaju por volta da meia noite de sexta-feira, já dia 5 de setembro. Na quinta-feira bem cedo, já haviam partido 6 companheiros; pedalaram 185 Km na quinta-feira, e 110 Km na sexta-feira.

3 - Paramos já próximos de Maceió, na praia do Francês, para resgatá-los.

4 - Iniciamos nosso caminho às 6 horas da manhã, num belo amanhecer cheio de luz no horizonte; as águas das Alagoas são na cor azul piscina...

5 - Nossa primeira balsa foi na travessia de Barra de Santo Antonio para a Ilha da Crôa, muito próximos de uma grande ponte, há muito tempo inacabada, sem as respectivas cabeceiras.

6 - Nosso primeiro café da manhã foi na Barraca do Pituba, na Ilha da Crôa, Alagoas, na praia do Carro Quebrado, pois um dia ali uma Brasília ficou atolada, a maré encheu e a destruiu, sendo ali abandonada. Dela hoje só resta o nome...

7 - Atravessando a Praia dos Morros, lugar de falésias magníficas, pedras esculpidas e polidas pelas marés, 8 pessoas ali caíram. Omar foi o único que não deu sorte...

8 - Nossa travessia de Ilha da Crôa para Barra de Camaragibe, aconteceu em pequenas canoas.

9 - Nosso primeiro almoço aconteceu em Porto da Rua, na Barraca do Tibiro.

10 - Pegamos a segunda balsa em Porto de Pedra, 80 quilômetros já pedalados.

11 - Paramos em Barreira do Boqueirão, em Japaratinga, ainda Alagoas, para um delicioso banho de bica, água natural gelada, a descer em torrentes pela colina.

12 - Nosso primeiro pernoite aconteceu na Pousada Brisa Dourada, em São José da Coroa Grande, já Pernambuco.

13 - Entramos na estrada para a praia de Tamandaré, e ali tomamos um banho de cachoeira, água muita a descer pelas pedras, em ruidosas cascatas de espuma.

14 - Nosso segundo pernoite foi em Gaibu, no Hotel Caravelas de Pinzón

15 - Nossa trilha no terceiro dia, passou pela Mata Atlântica ao largo da Lagoa do Zumbi, onde constatamos muita devastação por conta de invasões, depois seguindo até a praia de Calhetas.

16 - Almoçamos em Recife, por volta das 5 da tarde, na Churrascaria Ponteio, na praia de Boa Viagem, onde banhista esperto lê o cartaz e respeita os tubarões.

17 - Chegamos ao Marco Zero da Cidade de Recife, por volta das 7 da noite; dali são contados os diversos quilômetros, para cada canto de Pernambuco.

18 - Voltamos para Aracaju passando por Gravatá, Caruaru e Garanhuns, todos em Pernambuco; Palmeiras dos Índios e Arapiraca, todos em Alagoas; Propriá, Maruim e Aracaju, já todos em casa, nesse gostoso Sergipe, onde chegamos às 5 da manhã, já da terça-feira.

19 - Tchê é uma expressão herdada dos índios Guaranis. Na Língua Tupi-Guarani, significa "Amigo".

20 - Quase esquecia...; não convém soltar pum num microônibus, fechado e climatizado, cheio de gente, lotado... Creio que quem deixou escapar aquele silencioso e fratricida fantasma, deixou por estar dormindo..., embevecido em sonhos e relaxado, embora também acredite que depois da arte, o peidão tenha acordado, por duas simples razões: pelo gás sulfídrico a gerar uma reação de auto-salvamento, ou pelo esquentar acentuado das paredes da rugosa cavidade...

É preciso um certo cuidado, por parte desses mais folgados, a se acostumarem em exercícios de contenção, pois que num recinto completamente lacrado, onde até as janelas têm travas, poder haver um acidente, pois que tal fumaça incolor, além de feder adoidado, ainda seqüestra o oxigênio... Ainda bem que ali só existiam atletas, portanto bons de capacidade pulmonar, resistentes além do limite normal, a uma respiração parada...

Quem assim proceder, por esculhambação ou precisão, é de bom alvitre e procedimento, no dito cu instalar, uma bolinha de Naftalina...

Não é nenhuma droga, mas é bem capaz de deixar-nos a todos drogados, tamanha lufada indesejável, que até a língua adoçou.

Isso, não tenho certeza, deve ser crime ambiental...

21 - Quase ia esquecendo... (2) - o próximo passeio já está marcado: 18 de outubro - Ribeira - Itabaiana - Cachoeira de Macambira. Basta uma visita aos Zuandeiros:
http://www.zuandeiros.com.br/


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