Nas velhas trilhas dos antepassados, voltamos na História...
Trilha é onde o progresso ainda não chegou, onde o chão é quase inocente...
Onde o povo nos oferece sombra ou água, nos cumprimenta com respeito...
Mais uma trilha para vocês, da maioria de Zuandeiros...
Trilha de São Cristóvão
(Paulo Boblitz - set/2009)
São Cristóvão é a quarta cidade mais antiga do Brasil, fundada por Cristóvão de Barros em 1 de janeiro de 1590.
Em 1637 foi invadida pelos Holandeses, época em que foi totalmente destruída, incendiada, para que não tivesse nada a oferecer aos invasores, nem gado, nem pastos.
Foi a capital de Sergipe até 1855, quando finalmente logrou êxito a política dos senhores de engenho, que queriam um porto com maior capacidade. Além de prédios históricos, tem como característica principal, sua topografia acidentada, distribuída em centenas de pequenos caminhos naturais.
Um deles foi eleito para a nossa trilha - muitas subidas; muitas descidas...
Saímos do nosso ponto de encontro às 6 e um pouquinho, depois que nos despedimos do Gilton e do filho dele, que estavam indo verificar a trilha programada para o dia 18 de outubro, a que nos levará à cachoeira de Macambira, no município de Itabaiana. O detalhe é que eles foram de bicicleta... Devem ter rodado uns 120 km pelo asfalto, ida e volta, e mais os quilômetros da trilha...
Rodamos aproximadamente 67 km, muito pouco pelo asfalto. Essa é aquela trilha que não cheguei a terminar da primeira vez, e de novo fui o Carniça...
Nossa única baixa foi o Djalma, que quebrou a gancheira do quadro, onde é fixado o câmbio traseiro; como solução, retirou pedaço da corrente, posicionando-a numa catraca só, impossibilitado assim de nos acompanhar. Seguiu com o Eduardo para um ponto de encontro, onde o carro dele pudesse resgatá-lo.
As vistas são belíssimas; as subidas..?, devidamente compensadas pelas descidas...
Aos 47 km por hora, sem pedalar, apenas na banguela, desviando daquilo que temos que desviar, obedeci à ordem de cautela emanada do cérebro, apertando levemente os freios, refreando aquele destempero, pois ralar naquela lixa..?, deve ser parecido com algum filme de terror...
- Boblitz!!!, tô passando pela esquerda!!! - E lá se foi o João de Deus, zunindo desembestado, ribanceira abaixo...
Logo ele..., o que eu achava com a cabeça mais acertada...
Mais na frente num longo trecho de areia solta, onde a bicicleta é quem escolhia por onde trilhava, brinquei com João de Deus:
- Aos brancos e tamancos, devagar vamos chegando...
- Com cerveja..! - ele respondeu...
Quando atravessávamos a cidade de São Cristóvão, já debaixo de um sol infernal, quase no alto daquela ladeira longa, perto do final da cidade, um bêbado, me vendo nas últimas a subir devagar, enquanto trôpego andava, gritou para mim:
- Vorza aí nezi negóc...; divízi tá é brá miiim...
E quase desço da bicicleta, de tanto rir...
Quando o asfalto ia começar a descer, olha lá um dos líderes nos aguardando, apontando a direção nos informando, que moleza só se fosse mais tarde...; era mais trilha a subir, a desviar de valas e buracos...
Numa trilha, passamos uma eternidade subindo, e quando a descida chega, ela passa rápido, gostosa como se alguém ligasse o ar condicionado...
Por volta das 10 e pouco, enfim chegamos na BR-101, já próximos do nosso café reforçado, uma parada técnica a repor energias, baixar o pique dos mais exaltados, suavizar o cansaço dos Carniças...
Ali nos reunimos, Vovô, João de Deus, Raimundo, Suzana, Mundoca, Fernando, Bruno Pânico, eu, Paulo Henrique meu filho mais velho, Sandro, Sílvio e Clayton. Nos aguardando já estavam Barriga e mais uns amigos, pedalando em outro passeio.
Comi que nem um condenado, macaxeira, inhame, ovos fritos e cuscuz de milho, com leite puro. Só de suco de cajá, tomei uns 5 copos... Barriga, inspirado, usou meu nome para mandar um desafio para o Omar, afastado dos pedais por conta do cotovelo quebrado, que quando ele voltasse às atividades ciclísticas, ouviria de mim: "Omar!, vá treinar!; depois volte para poder me acompanhar..!"
Ali na sombra, bicicleta estacionada, repondo energias, ouvindo sorrisos e sorrindo, lembrei daquela piada do maluco que martelava a cabeça, e a cada martelada, dava um grito de dor. Perguntado se sabia que doía, por que é que então continuava martelando!? Ele respondeu: "porque é tão bom quando eu paro..!"
Chegou a hora e fomos embora, pela BR, pelo asfalto do acostamento; uma longa subida nos aguardava, até chegarmos na entrada para o povoado Feijão, e não me perguntem o porquê desse nome...
Parados numa frondosa sombra à beira da estrada de piçarra, resolvemos seguir pelo povoado, mais trilha e mais areia solta. Desembocamos na rodovia João Bebe Água, onde outra longa subida nos aguardava. Lá em cima, um grupo decidiu seguir pela Cabrita, e nós continuamos pelo asfalto, afinal, até para se gostar de trilhas, há um limite...
Passamos pela duplicação da João Bebe Água, na altura da Universidade Federal de Sergipe, onde algumas máquinas trabalhavam. Já quase esgotado, fui ultrapassado por uma carroça; o pobre animal carregava dois outros em cima, que impacientes apenas brandiam as rédeas, como se o eqüino não merecesse respeito. Se eles soubessem como é o esforço para carregarmos as coisas, tratariam o pobre animal, melhor...
É esse tipo de gente que quando melhora um pouco e consegue comprar uma moto ou um carro, sai agredindo a todos pelo trânsito.
Não precisamos de sofisticação; necessitamos apenas de um mínimo, de educação e cultura...
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