O Paraíso e o Inferno, podem ser vizinhos...


Prezados amigos,

Retornei ao que achei belo, e mais belezas pude sentir...

Não escolhemos os nossos vizinhos, mas podemos lidar com eles...



O Paraíso e o Inferno, podem ser vizinhos...
(Paulo Boblitz - out/2009)


Algumas coisas nos deixam marcas, e quando elas são boas, queremos repeti-las. Foi assim que acabei voltando a Gaibu neste último fim de semana, desta vez de carro, para mostrar à esposa, o Paraíso que visitei.

O Hotel em que havia ficado estava lotado, que nos indicou uma Pousada logo vizinha; não pensei duas vezes e fechei o pacote para os três dias desse último feriadão.

Como nossos Anjos vivem a conspirar entre si, Omar e esposa estavam indo para Porto de Galinhas, quase colado em Gaibu; estavam indo ser Padrinhos de casamento de alguns noivos bonitos, e de lá seguiriam para umas boas férias merecidas.

Marcamos sair juntos na sexta-feira, seguindo pela estrada convidativa, quase repetindo o passeio que fizemos com as bicicletas, pois por onde passa uma magrinha, não passa um carro...

Almoçamos uma peixada na Barraca do Tibiro, não sem antes beliscarmos o petisco de Lagostim; mais um pouco, seguíamos novamente para pegarmos a Balsa, que no meio do rio deu meia volta para resgatar um boné que o vento levara, de um turista descuidado - assim se traduz a hospitalidade e a prestimosidade do nordestino...

Num fim de tarde de uma sexta-feira, não conseguimos saborear aquele Polvo suculento, nem aquelas Agulhinhas crocantes, no Bar fechado em Bicas, um lugar em que se toma banho de nascentes que descem geladas pelas falésias.

Já de noite, Omar e esposa dobraram para Porto de Galinhas; nós continuamos em frente, pois Gaibu ficava alguns quilômetros adiante, onde por volta das 7 da noite chegamos.

O inferno sempre acaba conseguindo se meter onde os sorrisos prevalecem; parece ser uma regra compensatória, onde ganhamos e perdemos, a depender de como cada um encara a própria contabilidade de ganhos e perdas. Onde enfiávamos a cara, uma corrente atravessada na rua nos aguardava, impedindo o nosso avanço. Gaibu estava fechada, literalmente, pois às 6 da noite, uma espécie de toque de recolher é instalado - mais tarde descobri ser por conta de uma forma de coibirem os abusos de certos motoristas e seus "sons", a infernizarem a cidade inteira.

Numa cidade, pequena é bem verdade, que você não conheça, ainda mais no escuro, todos os caminhos se tornam difíceis... Quase uma hora depois, conseguimos descobrir um conjunto de becos esburacados, ladeados por canais malcheirosos, que nos fizeram enfim chegar à rua dos fundos da dita Pousada Europa Clube.

Vale a pena uma visita ao sítio oficial da região: http://www.cabo.pe.gov.br/index.asp, onde principalmente a História se faz presente, valorizando tudo o que um dia foi duramente conquistado.

Nos instalamos, tomamos um bom banho afugentando o cansaço, e descemos para um gostoso jantar a dois, onde a comida, sempre farta, dá e sobra para dois; aproveitei e reclamei que o chuveiro não esquentava...

Passeamos um pouco na pequena orla de uma Gaibu bastante calma; lá mais adiante, o grande rochedo iluminado que apontei para a esposa, que no dia seguinte escalaríamos.

Voltamos para a pousada, afinal o dia havia sido cansativo, e descobrimos que nossos travesseiros cheiravam como mulas suadas; reclamei e mais uma meia dúzia nos foi apresentado, onde os cheiros variavam do mofo a camelos cansados - preferimos dormir sem os travesseiros, o que me fez acordar no dia seguinte com um baita torcicolo.

Nenhum galo cantou, mas acordamos com o Sol se infiltrando pelas frestas despudoradas; um novo banho gelado e um café da manhã revigorante, nos deixaram preparados para uma série de visitas, todas elas lindas, pois a Natureza se fez pródiga quando misturou inúmeros elementos numa paisagem só. Subimos o paredão, e mais vistas maravilhosas se descortinaram..., coisas brutas suavizadas pela beleza do conjunto, onde rochas vêm sendo moldadas ao longo dos milhares de anos, pelas salgadas lambidas do mar.

Pegamos o carro e seguimos para Calhetas, um lugar onde chegar requer paciência e cuidado, pois a via de acesso é bastante rústica; se melhorar, estraga...

No meio do caminho, um entroncamento: para a esquerda, praia de Calhetas; para a direita, praia do Paraíso.

Resolvemos deixar o Paraíso para o domingo, afinal, tudo aquilo que é bom, deve ser conquistado de forma crescente.

Chegamos numa espécie de clareira forçada, onde deveríamos deixar o carro à sombra de um entrelaçamento de cajueiros, bambus e outras árvores ali dispostas - R$ 2,00 pelo estacionamento, uma placa nos avisava.

Enquanto descíamos uma rampa íngreme, devidamente pavimentada para o nosso conforto, passávamos por algumas construções, uma casa rústica com um pescador a tecer uma rede, uma pequena loja com recordações da região, e enfim o Bar do Artur, um jovem simpático senhor sessentão de cabelos brancos, há pelo menos 30 anos ali instalado, bem organizado e limpo, estrategicamente distribuído em patamares construídos sobre as pedras gigantes do local.

Nos instalamos sob um guarda-sol gigante e apenas ficamos olhando, para a esquerda, para a frente, e para a direita, o que é difícil de descrever em poucas linhas, tamanha formosura de esculturas rochosas naturais, rodeadas por uma areia limpa e grossa, lavadas por um mar anil, onde a brisa vem nos banhar com frescor e maresia, trazendo o som de uma arrebentação gentil, a convidar o banhista a entrar, a servir-se do champanhe espumante do ir e vir das ondas cálidas, onde tudo conspira para você ser mais feliz.

Atrás de nós, um sistema de som na altura correta, a reproduzir os talentos do nosso valente Nordeste, como o carismático Zé Ramalho, Elba Ramalho, Luiz Gonzaga e tantos outros verdadeiros artistas de bom gosto, interpretando composições de conteúdo e valor, que não é samba, não é pagode, não é batuque, mas sim o clássico a espelhar o sertão, o amor, a união, principalmente a luta do bravo homem com a terra seca...

Mais um pouco, um cardápio repleto de coisas da terra: camarão, lagosta, peixe, polvo, e mais as carnes tradicionais; a bebida envereda pelas saborosas cervejas Bohemia e Skol, geladíssimas, passando pelas quentes com seus diversos drinques, terminando nos vinhos finos e interminável lista de sucos de frutas polpudas e saborosas.

Como era cedo, escolhemos um petisco de filé de peito de frango no alho e óleo, batatas fritas crocantes, molho rosé, tudo decorado com folhas de alface, cenoura e beterraba raladas. Quando chegou, descobrimos que não conseguiríamos almoçar, tamanha a quantidade. O que era farto, era também saboroso e bem feito. Sabem quanto paguei? Apenas R$ 16,00.

Querem descobrir a qualidade de um local? É só verificarem as instalações sanitárias...

O Bar do Artur (www.bardoartur.com.br), que nos fotografa e filma, que faz questão de nos visitar à mesa, que nos presenteou cortesmente com um DVD quando fomos embora, a qualificação não é 5 Estrelas; a qualificação, com justiça, é 55 Estrelas.

Voltamos já tardinha para uma Gaibu já quase cheia; descobri onde vendiam e comprei dois travesseiros; descansamos após um banho já com chuveiro quente novo, descemos e fomos passear e bagulhar, um grande sorvete para cada um, umas visitas aos vários bazares, e por último, uma tapioca de amido de mandioca, recheada com queijo e coco. Jantar, nem pensar...

Passeamos mais um pouco pela pequena orla, onde já noite ainda havia banhista tomando banho; descobri a razão da bandeira de Portugal no mastro ali na areia - os donos do Bar são portugueses.

Já estávamos dormindo quando um Forró Pé de Serra estourou em nosso quarto; durou a noite inteira, zabumba, triângulo, sanfona e cancioneiro, pois a Pousada era também um Bar - passamos a noite cochilando e forrozando, enquanto o arrasta-pé lá embaixo pegava fogo.

Domingo de sol bonito, domingo de mais passeios. Bocejando seguimos para a praia do Paraíso, também bonita, também rústica, mas errada quanto ao nome. Paraíso que se preze, deve ser um pouco difícil de se alcançar.

Calhetas, esse é o nome do Paraíso, talvez diferente para despistar...

Comemos uma Cioba bem crocante, acompanhada de macaxeira do mesmo jeito, uma salada preparada de qualquer jeito, nada a ver com o Bar do Artur, onde os sabores se misturam à boa música...

Dali, onde avistamos a praia de Suape, seguimos para Vila de Nazaré, onde visitamos a Igreja N. Sra. de Nazaré, e ao lado as ruínas do Convento Carmelita, tudo muito antigo, cheio de Histórias. Ali está também a antiga Casa do Faroleiro, onde o Farol não mais existe, trocado por um mais novo. Numa outra trilha, as ruínas do Forte velho, baterias onde ficavam canhões, Bica do Ferrugem, Pedra do Cogumelo, e uma vista marciana sem igual.

Quase no final da tarde voltamos para a pousada, tomamos um banho e passeamos pela orla, que é pequena, que tem de tudo... Jantamos um peixe frito no molho branco, e cansados fomos dormir, apenas para acordarmos com mais barulho de uma zorra de "Rave", onde o tum-tum-tum grave, nos estremecia os corações.

Era aquela história da contabilidade, pois não podemos ser felizes o tempo inteiro; outra noite mal dormida, para no dia seguinte, segunda-feira, retornarmos ao nosso lar em Aracaju, um dia inteiro de viagem, onde paramos na cachoeira na entrada para a praia de Tamandaré.

Sobre o Paraíso e o Inferno, creio ser uma questão de opção... Compete a nós o tamanho de cada um, na medida em que valorizamos o que queremos. Se gostamos de Paraísos, é só não pararmos de sorrir; se gostamos de Infernos, é só não pararmos de reclamar...

Visitem Calhetas; ali, rejuvenesci...

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