Luna...

Racional é o que raciocina,

que pensa e que inventa,

que faz, desfaz, promete...

Mas a razão nem sempre é lógica...


Luna...
(Paulo R. Boblitz - mai/2012)

Nossa Luna é uma Yorkshire mestiça. Desde o começo, ela foi rejeitada...

Vou explicar melhor: ainda filhote, bem banhada e perfumada, lacinho na cabeça, nos foi oferecida, precisamente à minha esposa, que a acolheu com bastante amor e carinho.

Foi Luna quem quebrou nosso paradigma, de que não se cria cães em apartamentos...

Foi escondida por três dias, tempo em que eu descobri que ela estava sendo criada, rendendo-me também aos encantos que ela nos fornecia; esposa e filhos, todos envolvidos na conspiração de criá-la...

Até tentei fazer ver a problemática de se ter um cão num apartamento, mas fui vencido, principalmente pelos olhares, pelas expectativas, pelos amores que até já respingavam sobre mim, ao ver aquela pequenina mocinha sempre com a língua de fora...

A partir daí, Luna finalmente passou a ter trânsito livre pelos todos cômodos, mas Luna nunca foi um filhote mediano. Ela não roia as coisas...

Descobrimos que ela trazia uma séria doença dentro de si, e achamos a solução depois dos 4 ou 5 Veterinários. Hoje ela está boazinha...

Depois apareceu a Malu, também filhotinha, e eu, fraco pela maturidade, concordei em também criá-la. Malu é uma salsicha, ou melhor, uma Dachshund, cuja personalidade é marcante e muito forte. Parece que ela sabe que é nobre...

As duas se dão muito bem...

Mas voltemos a Luna.

Luna é dramática, é sensível, é sobretudo, amorosa... Noutro dia, meu filho trouxe um filhote que ele começou a criar - ela simplesmente ficou maluca, diante de um ser pequenino e indefeso, grunhindo e chorando, como se muito preocupada estivesse.

Quando meu filho não está em casa, ela se queda deitada em algum recanto, como se a existência só fizesse sentido com a presença dele.

Pois bem, minha filha ganhou um aquário e com ele dois peixinhos... Há dois dias, Luna não arreda pé do pequeno recipiente de vidro, como se o pequeno peixinho dourado fosse uma criatura muito especial para ela, que chora, que nos suplica alguma explicação, ou até mesmo uma maior aproximação, daquilo que ela elegeu como Ser a ser amado.

Há dois dias que Luna permanece deitada aos pés do aquário, de vez em quando lhe dando uma olhada, a ver se os peixinhos ali dentro estão bem. Se fosse um gato, até que poderia estar a paquerá-los para comê-los, mas ela é apenas uma pequena cadela...

Longe disso, Luna é apenas muito sensível, um punhado de amor a proteger a quem ela sabe amar...

Enquanto Malu, no seu jeito indiferente, até meio distante, nos ama do seu jeito, Luna nos informa que se preocupa, que participa em nossos modos de vida, que ama a tudo que amamos...

Luna não sabe o que é a vida, cuja experiência se resume a um pequeno apartamento, no entanto se encanta com dois seres náuticos, coisa que ela nunca viu, mas sabe que têm vida, que tem ânimo, e que sobretudo é bem amado por gente que ela também ama.

Passei agora por ela, e ela está lá, deitadinha, de vez em quando lançando um olhar para um peixinho, que nada sem perceber, que algum anjo zela por ele...

Bem... A crônica atrasou e hoje já são cinco peixinhos. Faz mais de mês que Luna passa o dia inteiro aos pés do aquário...

Sabem o que é mais bacana nisso tudo? É que aprendemos sempre, seja lá com quem for...

* * *

O Duro, enfim chegou...

Treinar é repetir,

é superar o já alcançado,

é manter o esperado,

é sentir-se pronto...


O Duro, enfim chegou...
(Paulo R. Boblitz - 27/mai/2012)

Sexta-feira de noite, olhando a previsão do tempo em meu blogue, para o domingo, estava lá: "pancadas de chuva à tarde, e uma seta apontando a predominância do Sol"

O Tempo vira como viram as idéias, porque pela manhã da mesma sexta-feira, podia observar relâmpagos e chuvas no mesmo domingo...

Particularmente prefiro pedalar na chuva ou em tempo bastante nublado, porque o Sol me maltrata até na sombra...

O nariz é o mais atingido, não porque ele seja grande, mas porque é nariz...

As orelhas, essas grandes e de abano, também sofrem bastante, porque o capacete não é chapéu...

Tenho correntes nos pulsos, marcas que o Sol deixa, entre as luvas e as mangas da camisa que se retraem.

Um amigo, quando me vê depois de um pedal longo, costuma me chamar de Quati, pois que igual àquele mamífero, também fico com os olhos brancos, por conta dos óculos escuros, enquanto tudo à volta está vermelho que nem camarão...

Das gozações não me incomodo, mas com o Sol, este sim, o respeito e temo. Descobri uma bandana que não passa de um tubo, e neste domingo estive testando. Um outro amigo me presenteou com máscaras de Médico, que também testarei.

Tudo o que tampa o nariz, também reduz a respiração, essa que nos requer a boca aberta de vez em quando, porque de vez em quando nossas entradas de ar, tornam-se pequenas...

Enfim o domingo chegou; o passado havia me trazido de Glória, quando no sábado cheguei à Glória... Agora, o Duro me aguardava...

Seis e vinte da manhã, cruzava com Vovô e seguia em frente. No Ponto do Côco, encontrei o Torres que também pedala com o Pedal Suado Aracaju, e mais um pouquinho chegavam Estela e Jonas. Meu caldo de cana já havia sido aproveitado e fui embora. Torres ainda me alcançou na metade do caminho para a Caueira, adiantando-se em seguida, pois estava com pressa. No caminho, ainda cruzei com cinco ciclistas retornando, mas não os reconheci.

Cheguei no trevo que nos leva até o Duro, e o Torres já quase desaparecia na curva mais adiante, quase chegando na Caueira. Dei uma paradinha, bebi água, enxuguei o suor que era pouco, pois estava com a bandana a cobrir orelhas e nariz, e a respiração até ali havia sido perfeita. Montei e parti, passei pelos povoados Paruí, Água Boa, Nova Descoberta, enfim chegando no Duro, lá na BR-101. Comprei água e comecei tudo de novo; o sol não estava de brincadeira, nem tampouco o vento...

Quase meio dia e meia, sentava para pedir meu Catado de Aratu, uma delícia, refogado na manteiga com molho de tomate. Descansei o quanto pude, mas havia a volta. Prometi ao Galego lá voltar, para comer um dos Robalos que vi na mesa ao lado.

Desta vez, sem esquecer nenhuma caramanhola, parti cheio de preguiça e sono; o relógio marcava 2 da tarde em ponto; três horas mais tarde, eu chegava em casa...

Foram 142,8 quilômetros, 8 horas e 58 minutos sobre a sela, 5.841 calorias para o beleléu, numa velocidade média de 15,9 km/hora, com as subidas acumuladas em 1.062 metros, um bom circuito para quem quiser treinar ladeiras, pois que metade delas é contra o vento.

Quanto à chuva, esta só caiu longe de mim, como a brincar de pega-pega comigo; a chuva ganhou todas...

* * *

É gostoso colocar coelho para andar...

A vida é, por si só, alegria...

Somos alegres, por natureza...

Para sorrir, qualquer oportunidade é boa...


 
É gostoso colocar coelho para andar...
(Paulo R. Boblitz - mai/2012)

Não há tarefa, nem atividade, que nelas não encontre brincadeiras.

Brincar é entreter-se, é folgar com o tempo que lhe cobra, fazendo, mas divertindo-se...

Você quer brincar? Basta pensar...

Coelhos são todos aqueles à nossa frente, que elegemos como tais, metas a serem ultrapassadas, e isso faz com que o desafio torne-se mais animado.

Na verdade, coelho é aquele atleta que existe para pôr o atleta principal para correr. O coelho tem existência muito curta...

O coelho nunca vence...

O coelho só existe para que outros se tornem vencedores...

Esse é o coelho oficial que todo Treinador se utiliza, mas dos coelhos que me refiro, duas coisas podem acontecer:

1 - colocarmos o coelho para correr atrás de nós, quando ele não nota nossa aproximação, e sofre a ultrapassagem...

2 - colocarmos o coelho para mais correr à nossa frente, quando ele percebe que está na iminência de ser ultrapassado. Aqui é necessário um pouco de maldade, pois que nos achegamos e nos deixamos notar, momento engraçado em que o coelho aperta o passo...

De uma forma ou de outra, somos nós quem colocamos os coelhos para correr, ou andar...

Voltava outro dia para casa, andando com minhas botas que percorreram o Caminho de Santiago de Compostela, quando estabeleci o meu coelho à frente, e como predador fui me aproximando sem fazer alarde.

Quando estava emparelhado para ultrapassá-lo, reduzi a marcha e passamos, por poucos segundos, a andar iguais. Foi o suficiente para ele apertar o passo, no que permiti, até que o metro e meio fosse estabelecido, pois lá na frente estava a determinante, uma rampa que quebrava a monotonia da horizontalidade.

Quando as pessoas ultrapassam, ou estão próximas de ultrapassar os próprios limites, tudo parece conspirar contra, porque tudo atrapalha. Nesse caso, eram as bermudas do coelho, que a todo tempo as ajeitava, embora eu não pudesse notar nada de errado. Quando dominamos uma situação, a tudo podemos observar de um plano mais elevado...

A rampa se aproximava, e quando ela chegou, apertei finalmente o passo, abrindo mais as passadas, imprimindo força no ritmo, e o coelho, visivelmente cansado, agora desnorteado pelo contragolpe, rápido ficou para trás, cada vez mais para trás...

Lembre-se de nunca humilhar alguém, porque tudo não passa de treinamento, misturado com brincadeira... Competimos somente quando em pé de igualdade...

Mais à frente, parei, abaixei-me e fiquei a mexer no cadarço de minha bota; o coelho enfim retomou a dianteira, creio que alegre e feliz...

Os coelhos devem ser respeitados, porque eles o ajudam a manter o ritmo, a romper limites...

Quando você estabelecer um coelho, não o derrube, não o maltrate, embora você o use sem que ele saiba que está sendo usado...

É só uma questão de estratégia...

* * *

O Duro pode esperar... (ii de ii)

E como o Sol,

o dia seguinte acorda novo,

tudo de novo a repetir,

o mesmo filme de trás adiante...


O Duro pode esperar... (ii de ii)
(Paulo R. Boblitz - 20/mai/2012)

Por volta das 7 e meia, depois do fortificado café da manhã com muitas frutas, saí ao encontro do grupo para desejar-lhe boa sorte.

Só os fortes, lá se encontravam...

Foram muitos os convites para que eu também fizesse a trilha com eles, e até o Caldas informou que eu estava fazendo falta, mas estava decidido a voltar sozinho para casa. Depois de muitas mãos apertadas, despedi-me alegre de todos eles.

Dez minutos depois, debaixo de uma leve garoa, partia sorrindo com os avisos recebidos, o mais interessante deles, o de que pegaria vento contra. Tentavam dissuadir-me de minha solitária jornada...

A garoa logo se transformou em chuva mais grossa; o vento estava mais forte que o normal, não me permitindo aproveitar as descidas com boa velocidade, pois os pingos doíam entrando nos olhos, um bom momento para chorarmos, pensei, pois que as gotas se misturariam...

Por volta do meu km 13, cruzei com 3 ciclistas; nos cumprimentamos com muita alegria. Na ordem, passei pelo povoado Algodão, depois por Nossa Senhora Aparecida, Queimadas, com sua bela montanha a ser vencida, tanto na vinda quanto agora na volta, e por fim em Ribeirópolis, para em seguida chegar em Itabaiana. A paisagem é marrom, tudo seco a maltratar o sertanejo, pior ainda aos animais que ele tanto gosta...

Em Queimadas, lembrei do que comentamos eu e Vovô, sobre a ladeira do Cafuz. Para quem vai só até Areia Branca, a ladeira do Cafuz é um grande troféu, mas para quem segue até Itabaiana, pior ainda até Nossa Senhora da Glória, a Cafuz não é assim tão importante. Na região de Ribeirópolis, têm umas ladeiras enjoadinhas...

Próximo de Aparecida, enquanto eu penava numa subida, duas moças sobre uma moto, no mesmo sentido, passaram devagar me cumprimentando efusivamente; ah, se a esposa tivesse visto aquilo...

E o vento não dava trégua. Em Aparecida já não mais chovia, e quando parti depois do almoço em Itabaiana, o céu já estava completamente azul. O vento havia sido forte o bastante para empurrar toda a frente fria...

Quase uma da tarde, chegava na Churrascaria Recanto da Serra do Pirata, com a serra ao fundo dominando tudo; não estava com fome, mas ainda faltavam 60 quilômetros...

Enquanto passava por Itabaiana, terra dos caminhões, descobri que os motéis têm entradas e saídas especiais para eles, bem como para os carros pequenos. Imaginei um casal na boleia de um caminhão, entrando no motel para namorar, pior ainda, imaginei 10 caminhões entrando no motel... Talvez as vagas sejam limitadas...

Almocei e cheio de preguiça parti de novo. Quando passava por Areia Branca, cerca de 20 ônibus carregando a torcida do time de Itabaiana, começaram a passar por mim. Fizeram uma festa boa comigo, dedos em V de vitória, bandeiras agitadas, palavras de incentivo, e a todos eles fui devolvendo o V da vitória, e o polegar positivo... Soube no dia seguinte, que eles sagraram-se campeões. Parabéns aos itabaianenses torcedores.

Agora faltava chegar na Cafuz, depois em Outeiros e finalmente em Aracaju. Em Areia Branca, por ser alta, já dá para vislumbrarmos alguns prédios de Aracaju, mas, da Cafuz até Outeiros, existem subidas aborrecidas, e agora mais próximo do litoral, o vento apertava mais ainda...

Em pedais solitários, conversamos muito com nós mesmos, mas até ali eu já havia esgotado tudo o que era de conversa. Precisava ocupar-me com alguma coisa. Normalmente tomamos conta dos caquinhos de vidro, mas lembrei do que já havia observado em pedais anteriores: parafusos...

Incrível a quantidade de parafusos, novos e velhos, de todos os tipos e tamanhos, porcas, pinos, até pregos, que vamos encontrando ao longo do acostamento. Fiquei imaginando com quantos quilos eu já estaria, se a todos eles eu colecionasse...

Cheguei em casa às 5 da tarde, logo ligando para o Gilton para que ele tranqüilizasse a todos. Foram 118,4 quilômetros pedalados, em 8 horas cravadas, a uma velocidade média de 14,8 km/hora, 4428 calorias derretidas num total de 1.143 metros em subidas acumuladas.

Foi um fim de semana bastante suado, e também molhado...

Agora, que venha o Duro...

* * *

O Duro pode esperar... (i de ii)

Gostoso é não programar,

assim de pronto resolver,

assim de surpresa se engajar...


O Duro pode esperar... (i de ii)
(Paulo R. Boblitz - 19/mai/2012)

Vovô estava com o capeta nos couros, e já era a terceira vez que dávamos a volta completa pela Orla, com seus bares repletos de gente feliz, comendo e conversando...

28, 30, depois vi que chegamos até 32 km por hora. A favor do vento, ele ajudava, mas quando iniciávamos o retorno, ele batia de frente em nossas velas...

- Vovô!? Quê que tá acontecendo? - perguntei.

- Tô treinando pra sábado... - ele respondeu com a voz bem grave.

- E o quê que vai ter no sábado..?

- Vou com o Gilton até Nossa Senhora da Glória...

Fiquei calado, mas por dentro pensando... "eles subiriam a Cafuz, depois uma boa subida até Itabaiana, e mais subidas até Ribeirópolis, continuando a subir até Glória... A coceira coçou mas fiquei quieto, porque o Duro estava na cabeça...

Noite seguinte, Vovô bem calmo a pedalar... Até achei bom, porque já havia caminhado cerca de 10 km, acelerado..! Na volta, pela nova ciclovia da av. Beira Mar, cada junta de dilatação das placas de concreto, me faziam parecer um bom vagão em sua viagem tranqüila para algum recanto gostoso: tru-tuc..., tru-tuc..., tru-tuc..., tru-tuc...

Calmos e calados numa noite fresca de outono, pedais macios sem pressa, tru-tuc..., tru-tuc..., tru-tuc..., fazendo os pneus a cada fenda atravessada, o sossego subindo pelas pernas, o ritmo cadenciado daquele som, deixei a coceira tomar conta e me resolvi...
- Vovô!? Quem mais vai com vocês? - perguntei.

- Certos, só eu e Gilton...

- Pois podem contar comigo...

E novamente calados, continuamos até o ponto onde sempre nos separamos, Vovô para o lado dele, eu para o meu...

Gilton foi um bom amigo quando percorremos o Caminho da Fé, e mais uma vez quando percorremos a Estrada Real; Vovô é outro bom amigo, sempre disposto a mostrar novos caminhos, porque conhece a cidade como a palma da própria mão.

Não pedalei na sexta-feira, revisando a tralha e a bicicleta; o dia havia sido chuvoso e a meteorologia prometia chuva para o sábado e o domingo. Seria gostoso pedalar pingando...

O despertador tocou, ouvi a chuva lá fora e fiz corpo mole, mas, compromisso era compromisso... Cheguei atrasado 10 minutos, e encontrei Vovô a postos. Ele olhou para mim mas não deu a bronca; apenas perguntou:

- Cadê o Gilton..?

Fiz que não sabia e ficamos os dois ali em pé aguardando o dorminhoco, que atrasou uma hora; ele ainda havia marcado com o Humberto Nunes, encontrarem-se no posto do Motinha, e o Humberto, pensando que o Gilton já tivesse partido, saiu em disparada, e não fosse o nosso grito, teria passado direto a fim de pegar-nos à frente, um troço meio maluco de imaginar, uma pessoa lá na frente, correndo atrás de pessoas que na verdade estão lá atrás...

Uma hora, exata uma hora o tempo que esperamos pelo Gilton, até que ele chegasse dizendo que havia pegado no sono novamente. Enfim partimos, naquilo que seria um dia muito divertido...

A chuva me apertava desde quando saí de casa, e nos acompanhou até cerca de Ribeirópolis, quando se rendeu ao bom tempo... É gostoso quando pedalamos, o encontro com a doce água que cai dos céus, mas sair de casa, já chovendo..? Por isso não falei nada sobre o atraso do Gilton...

Paramos em Areia Branca; motivo?, a fome... Macaxeira, inhame, cuscuz e carnes, café, leite e suco; tomei suco de maracujá, que me acompanhou por um bom tempo... Até ali já havíamos reparado 2 pneus, o do Gilton e o meu.

Em Itabaiana, Gilton e Humberto se distanciaram, enquanto eu e Vovô seguíamos em nosso ritmo. Chegamos em Ribeirópolis e notei que vovô se encostava para o posto de combustíveis. Perguntei se ele ia botar gasolina, mas ele estava apenas procurando pelos dois que haviam se distanciado.

Não vimos ninguém e seguimos em frente, e quando já estávamos chegando em Aparecida, Vovô, inquieto perguntou em que diabos de buraco aqueles dois haviam se metido. Mal terminou a pergunta, meu telefone tocou:

- Boblitz! O que foi que aconteceu? Vocês estão aonde? - Gilton perguntou.

- Acho que próximos de Aparecida. Vocês estão aonde?

- Em Ribeirópolis, esperando por vocês...

Ficou a crítica do Vovô:

- Tá vendo? Se você não estivesse com o telefone, eles estariam esperando a gente, talvez até voltado para tentar nos encontrar pelo caminho, enquanto nós estaríamos nos adiantando cada vez mais... Se saímos em grupo, o grupo tem que andar junto...

Em Aparecida nos reunimos novamente; faltavam apenas cerca de 22 km para Nossa Senhora da Glória, onde chegamos faltando 10 minutos para as 3 da tarde. Vovô, Gilton e Humberto, ficaram no Frank's Hotel, e eu fui para o Avelan Plaza Hotel, muito bom por sinal, ar condicionado silencioso, até com elevador.

Tomamos banho e nos encontramos para comer alguma coisa; descobrimos um lugar que só servia macarrão, o Macarrão ao Vivo, onde você escolhe o tipo de massa, e sai recheando com tudo o que você imaginar, terminando com um molho a cobrir tudo - delicioso...

Ao todo foram 119,8 km, em 8 horas e 11 minutos, numa velocidade média de 14,6 km/hora, 6329 calorias para o espaço, 1.468 metros em subidas acumuladas.

Depois da macarronada, na volta, descobrimos uma sorveteria caseira. Naquela noite haveria festa na cidade, e o som já estava sendo testado lá no palco.

Dormir, era tudo o que eu precisava, e de madrugada, uma leve cãibra na batata da perna direita me acordou. Mais um pouquinho, virei para o outro lado e voltei para o sono...

* * *

Relaxar, era só o que eu queria...

Relaxamento significa coisa boa,

mas significa também, coisa ruim...

Relaxar, no meu caso,

era só diminuir a tensão,

musculatura esticada e nervosa...




Relaxar, era só o que eu queria...
(Paulo R. Boblitz - 6/maio/2012)

Relaxar, era o que eu imaginava para aquele domingo... Chegar na Caueira, comer um gostoso camarão que eu já vinha sonhando, e voltar...

Logo cedo, antes que o despertador bancasse o galo, já estava acordado. Quase pronto, dei uma espiada no tempo; estava tudo escuro... Lembrei que já estávamos a caminho do inverno e dei um tempo. Liguei o computador, li algumas mensagens e terminei por achar-me pronto. Despedi-me da esposa e segui meu curso, ainda com os dedos mindinhos meio dormentes do último passeio que me levou até Lagarto, longe que só, e que tive que voltar tudo novamente, noutra lonjura...

Pedalar sozinho, é algo ao mesmo tempo, confortável e desafiante. Confortável porque somos somente nós e nossos barulhos, nosso ritmo e cadência ditados por nós mesmos, sem nenhuma satisfação aos que se sentem líderes; somos líderes de nós mesmos, por isso é desafiante, porque antes de qualquer coisa, estamos prontos para o que der e vier, pois só dependemos de nós.

Segui meu rumo pela orla, marzão à esquerda rugindo e nos trazendo ventos, nenhuma sereia nos querendo atraiçoar... Passei pelo Cemitério dos Náufragos, caso triste da Segunda Grande Guerra, onde muitos corpos vieram ter à terra onde hoje se chama praia dos Náufragos, e logo dobrava para chegar no Mosqueiro, pois em frente, embora haja asfalto, não nos leva a nada...

Cheguei no Ponto do Côco, que tem pastel de tudo quanto você pense, caldo de cana fresquinho, com ou sem limão, e claro, côco verde. Pedi um e uma colher para sorver a lama depois dele partido - dizem que faz mal aos colesteróis...

Quando já terminava de raspar a segunda quenga de côco verde, vi o Vovô chegar, já brincando comigo e minha bicicleta; Jonas e Estela me cumprimentaram e o Antony perguntou para onde eu estava indo - "comer acolá um camarão...", respondi.

Paguei apressado, pois apressado me senti. Vovô ainda pediu para que eu demorasse mais um pouco, mas meu vôo é livre...

Livre significa liberdade, e quando livres, não nos sujeitamos a nenhum senhor; imponho aquilo que me faz bem, na velocidade, na conquista da ladeira, no tempo que faz o coração ameno, do jeito que eu gosto. Olho a rodovia e ela só pertence a mim, e conversamos as nossas várias conversas, como as dos carros que nos ultrapassam, do acostamento intransitável, das subidas que nos requerem a paciência, das descidas que nos requerem o conter, pois que subidas e descidas, até hoje não conseguiram se entender...

Relaxar, era o que eu queria, mas lembrei que o Araujo havia dito que as ladeiras da estrada do Duro, eram muito interessantes. Quando cheguei no dito trevo, olhei a hora e verifiquei ser muito cedo para consumir o camarão que já ansiava a semana inteira... Não titubeei; peguei à direita e segui por onde não conhecia, outro bom fruto que nos enche de alegria, pois não discutimos com ninguém sobre nossas idéias e pretensões - simplesmente seguimos, e pronto..!

Olhei a quilometragem e decidi que minha meta seria o km 50; seriam só 8 quilômetros para atingi-la, e depois voltar pelo mesmo caminho, subindo por todas as ladeiras que havia descido. Não cheguei à ladeira tão esperada, mas chegarei na próxima vez, aliás, chegarei até o Duro, e de lá voltarei pelos 24 km percorridos, para novamente chegar no trevo, aí sim, dirigir-me à Caueira para comer alguma coisa. Nessa pequena incursão, conheci o povoado Paruí, poucas casas de um lado, poucas do outro lado; garotos brincavam com bicicletas, e me olharam com interesse...

Novamente no trevo, segui para a Caueira, já bem próxima dali. Chegando no trevo da Caueira, defronte do posto da Polícia Militar, dobrei à direita para a praia do Abaís, marcando dali até chegar no bar do Galego, exatos 4 km. Ele já me recebeu de bom grado, pois havia me reconhecido de outras vezes anteriores.

Conversamos e pedi o tão sonhado Camarão ao Alho e Óleo, que me chegou acompanhado de arroz branco, vinagrete e farofa, numa porção de deixar qualquer um de água na boca. Galego's Bar, assim se chama o bar do Galego, que também prepara outras coisas, como a que ele me prometeu na próxima visita, um Catado de Aratu... Vinte e quatro reais, eu gastei...

Enquanto preparavam a minha comida, conversava com ele, degustando, já que tenho que dar o bom exemplo, o saboroso suco de mangaba, pois que cerveja contém álcool, e álcool não combina com pedais...

A comida chegou, lambuzei-me todo com o camarão, mas tudo chega nalgum fim, que chegou, quando paguei a conta e fui embora, cheio de preguiça... Havia pedalado cerca de 2 quilômetros, quando dei fé que esquecera minhas caramanholas no freezer do Galego; era preciso retornar para resgatá-las...

Galego quando me viu, estranhou...; disse a ele: "esqueça o dinheiro, mas não esqueça a água..." Ele foi lá dentro e voltou com minhas garrafinhas, todas bem geladas, que chegaram em casa, uma totalmente vazia, e a outra com cerca de 2 dedos d'água, líquido precioso como se estivéssemos nalgum deserto...

A volta, de preguiçosa logo se transformou em coisa gostosa, pois nos aquecemos rápido, e daí em diante, é só vento, ladeiras e descidas, nós e as bicicletas...

Cheguei em casa às duas da tarde, onde o sol castigou o tanto que pôde, mas não é ele quem dita as regras...

Com a camisa do Pedal Suado Aracaju, foram 112,4 quilômetros, 6 horas e 18 minutos sobre a sela, numa velocidade média de 17,8 km/hora, subindo 936 metros no acumulado, queimando 4923 calorias, o que nenhuma academia consegue fazer, pois que bicicleta não significa dever, nem tampouco sofrimento, em frente de um espelho, esse vilão que só dignifica o ego, corrompe o caráter...

Não vejo a hora de chegar no Duro e tudo voltar, porque no fundo, o que queremos é pedalar, e pedalar no sobe e desce das vias, sal e doce encontramos, pelo meio os ventos que nos fortalecem, nos trazem amores...

Não vejo a hora do meu novo passeio, do meu relaxar suando...

* * *