O Duro pode esperar... (ii de ii)

E como o Sol,

o dia seguinte acorda novo,

tudo de novo a repetir,

o mesmo filme de trás adiante...


O Duro pode esperar... (ii de ii)
(Paulo R. Boblitz - 20/mai/2012)

Por volta das 7 e meia, depois do fortificado café da manhã com muitas frutas, saí ao encontro do grupo para desejar-lhe boa sorte.

Só os fortes, lá se encontravam...

Foram muitos os convites para que eu também fizesse a trilha com eles, e até o Caldas informou que eu estava fazendo falta, mas estava decidido a voltar sozinho para casa. Depois de muitas mãos apertadas, despedi-me alegre de todos eles.

Dez minutos depois, debaixo de uma leve garoa, partia sorrindo com os avisos recebidos, o mais interessante deles, o de que pegaria vento contra. Tentavam dissuadir-me de minha solitária jornada...

A garoa logo se transformou em chuva mais grossa; o vento estava mais forte que o normal, não me permitindo aproveitar as descidas com boa velocidade, pois os pingos doíam entrando nos olhos, um bom momento para chorarmos, pensei, pois que as gotas se misturariam...

Por volta do meu km 13, cruzei com 3 ciclistas; nos cumprimentamos com muita alegria. Na ordem, passei pelo povoado Algodão, depois por Nossa Senhora Aparecida, Queimadas, com sua bela montanha a ser vencida, tanto na vinda quanto agora na volta, e por fim em Ribeirópolis, para em seguida chegar em Itabaiana. A paisagem é marrom, tudo seco a maltratar o sertanejo, pior ainda aos animais que ele tanto gosta...

Em Queimadas, lembrei do que comentamos eu e Vovô, sobre a ladeira do Cafuz. Para quem vai só até Areia Branca, a ladeira do Cafuz é um grande troféu, mas para quem segue até Itabaiana, pior ainda até Nossa Senhora da Glória, a Cafuz não é assim tão importante. Na região de Ribeirópolis, têm umas ladeiras enjoadinhas...

Próximo de Aparecida, enquanto eu penava numa subida, duas moças sobre uma moto, no mesmo sentido, passaram devagar me cumprimentando efusivamente; ah, se a esposa tivesse visto aquilo...

E o vento não dava trégua. Em Aparecida já não mais chovia, e quando parti depois do almoço em Itabaiana, o céu já estava completamente azul. O vento havia sido forte o bastante para empurrar toda a frente fria...

Quase uma da tarde, chegava na Churrascaria Recanto da Serra do Pirata, com a serra ao fundo dominando tudo; não estava com fome, mas ainda faltavam 60 quilômetros...

Enquanto passava por Itabaiana, terra dos caminhões, descobri que os motéis têm entradas e saídas especiais para eles, bem como para os carros pequenos. Imaginei um casal na boleia de um caminhão, entrando no motel para namorar, pior ainda, imaginei 10 caminhões entrando no motel... Talvez as vagas sejam limitadas...

Almocei e cheio de preguiça parti de novo. Quando passava por Areia Branca, cerca de 20 ônibus carregando a torcida do time de Itabaiana, começaram a passar por mim. Fizeram uma festa boa comigo, dedos em V de vitória, bandeiras agitadas, palavras de incentivo, e a todos eles fui devolvendo o V da vitória, e o polegar positivo... Soube no dia seguinte, que eles sagraram-se campeões. Parabéns aos itabaianenses torcedores.

Agora faltava chegar na Cafuz, depois em Outeiros e finalmente em Aracaju. Em Areia Branca, por ser alta, já dá para vislumbrarmos alguns prédios de Aracaju, mas, da Cafuz até Outeiros, existem subidas aborrecidas, e agora mais próximo do litoral, o vento apertava mais ainda...

Em pedais solitários, conversamos muito com nós mesmos, mas até ali eu já havia esgotado tudo o que era de conversa. Precisava ocupar-me com alguma coisa. Normalmente tomamos conta dos caquinhos de vidro, mas lembrei do que já havia observado em pedais anteriores: parafusos...

Incrível a quantidade de parafusos, novos e velhos, de todos os tipos e tamanhos, porcas, pinos, até pregos, que vamos encontrando ao longo do acostamento. Fiquei imaginando com quantos quilos eu já estaria, se a todos eles eu colecionasse...

Cheguei em casa às 5 da tarde, logo ligando para o Gilton para que ele tranqüilizasse a todos. Foram 118,4 quilômetros pedalados, em 8 horas cravadas, a uma velocidade média de 14,8 km/hora, 4428 calorias derretidas num total de 1.143 metros em subidas acumuladas.

Foi um fim de semana bastante suado, e também molhado...

Agora, que venha o Duro...

* * *

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