Relaxar, era só o que eu queria...

Relaxamento significa coisa boa,

mas significa também, coisa ruim...

Relaxar, no meu caso,

era só diminuir a tensão,

musculatura esticada e nervosa...




Relaxar, era só o que eu queria...
(Paulo R. Boblitz - 6/maio/2012)

Relaxar, era o que eu imaginava para aquele domingo... Chegar na Caueira, comer um gostoso camarão que eu já vinha sonhando, e voltar...

Logo cedo, antes que o despertador bancasse o galo, já estava acordado. Quase pronto, dei uma espiada no tempo; estava tudo escuro... Lembrei que já estávamos a caminho do inverno e dei um tempo. Liguei o computador, li algumas mensagens e terminei por achar-me pronto. Despedi-me da esposa e segui meu curso, ainda com os dedos mindinhos meio dormentes do último passeio que me levou até Lagarto, longe que só, e que tive que voltar tudo novamente, noutra lonjura...

Pedalar sozinho, é algo ao mesmo tempo, confortável e desafiante. Confortável porque somos somente nós e nossos barulhos, nosso ritmo e cadência ditados por nós mesmos, sem nenhuma satisfação aos que se sentem líderes; somos líderes de nós mesmos, por isso é desafiante, porque antes de qualquer coisa, estamos prontos para o que der e vier, pois só dependemos de nós.

Segui meu rumo pela orla, marzão à esquerda rugindo e nos trazendo ventos, nenhuma sereia nos querendo atraiçoar... Passei pelo Cemitério dos Náufragos, caso triste da Segunda Grande Guerra, onde muitos corpos vieram ter à terra onde hoje se chama praia dos Náufragos, e logo dobrava para chegar no Mosqueiro, pois em frente, embora haja asfalto, não nos leva a nada...

Cheguei no Ponto do Côco, que tem pastel de tudo quanto você pense, caldo de cana fresquinho, com ou sem limão, e claro, côco verde. Pedi um e uma colher para sorver a lama depois dele partido - dizem que faz mal aos colesteróis...

Quando já terminava de raspar a segunda quenga de côco verde, vi o Vovô chegar, já brincando comigo e minha bicicleta; Jonas e Estela me cumprimentaram e o Antony perguntou para onde eu estava indo - "comer acolá um camarão...", respondi.

Paguei apressado, pois apressado me senti. Vovô ainda pediu para que eu demorasse mais um pouco, mas meu vôo é livre...

Livre significa liberdade, e quando livres, não nos sujeitamos a nenhum senhor; imponho aquilo que me faz bem, na velocidade, na conquista da ladeira, no tempo que faz o coração ameno, do jeito que eu gosto. Olho a rodovia e ela só pertence a mim, e conversamos as nossas várias conversas, como as dos carros que nos ultrapassam, do acostamento intransitável, das subidas que nos requerem a paciência, das descidas que nos requerem o conter, pois que subidas e descidas, até hoje não conseguiram se entender...

Relaxar, era o que eu queria, mas lembrei que o Araujo havia dito que as ladeiras da estrada do Duro, eram muito interessantes. Quando cheguei no dito trevo, olhei a hora e verifiquei ser muito cedo para consumir o camarão que já ansiava a semana inteira... Não titubeei; peguei à direita e segui por onde não conhecia, outro bom fruto que nos enche de alegria, pois não discutimos com ninguém sobre nossas idéias e pretensões - simplesmente seguimos, e pronto..!

Olhei a quilometragem e decidi que minha meta seria o km 50; seriam só 8 quilômetros para atingi-la, e depois voltar pelo mesmo caminho, subindo por todas as ladeiras que havia descido. Não cheguei à ladeira tão esperada, mas chegarei na próxima vez, aliás, chegarei até o Duro, e de lá voltarei pelos 24 km percorridos, para novamente chegar no trevo, aí sim, dirigir-me à Caueira para comer alguma coisa. Nessa pequena incursão, conheci o povoado Paruí, poucas casas de um lado, poucas do outro lado; garotos brincavam com bicicletas, e me olharam com interesse...

Novamente no trevo, segui para a Caueira, já bem próxima dali. Chegando no trevo da Caueira, defronte do posto da Polícia Militar, dobrei à direita para a praia do Abaís, marcando dali até chegar no bar do Galego, exatos 4 km. Ele já me recebeu de bom grado, pois havia me reconhecido de outras vezes anteriores.

Conversamos e pedi o tão sonhado Camarão ao Alho e Óleo, que me chegou acompanhado de arroz branco, vinagrete e farofa, numa porção de deixar qualquer um de água na boca. Galego's Bar, assim se chama o bar do Galego, que também prepara outras coisas, como a que ele me prometeu na próxima visita, um Catado de Aratu... Vinte e quatro reais, eu gastei...

Enquanto preparavam a minha comida, conversava com ele, degustando, já que tenho que dar o bom exemplo, o saboroso suco de mangaba, pois que cerveja contém álcool, e álcool não combina com pedais...

A comida chegou, lambuzei-me todo com o camarão, mas tudo chega nalgum fim, que chegou, quando paguei a conta e fui embora, cheio de preguiça... Havia pedalado cerca de 2 quilômetros, quando dei fé que esquecera minhas caramanholas no freezer do Galego; era preciso retornar para resgatá-las...

Galego quando me viu, estranhou...; disse a ele: "esqueça o dinheiro, mas não esqueça a água..." Ele foi lá dentro e voltou com minhas garrafinhas, todas bem geladas, que chegaram em casa, uma totalmente vazia, e a outra com cerca de 2 dedos d'água, líquido precioso como se estivéssemos nalgum deserto...

A volta, de preguiçosa logo se transformou em coisa gostosa, pois nos aquecemos rápido, e daí em diante, é só vento, ladeiras e descidas, nós e as bicicletas...

Cheguei em casa às duas da tarde, onde o sol castigou o tanto que pôde, mas não é ele quem dita as regras...

Com a camisa do Pedal Suado Aracaju, foram 112,4 quilômetros, 6 horas e 18 minutos sobre a sela, numa velocidade média de 17,8 km/hora, subindo 936 metros no acumulado, queimando 4923 calorias, o que nenhuma academia consegue fazer, pois que bicicleta não significa dever, nem tampouco sofrimento, em frente de um espelho, esse vilão que só dignifica o ego, corrompe o caráter...

Não vejo a hora de chegar no Duro e tudo voltar, porque no fundo, o que queremos é pedalar, e pedalar no sobe e desce das vias, sal e doce encontramos, pelo meio os ventos que nos fortalecem, nos trazem amores...

Não vejo a hora do meu novo passeio, do meu relaxar suando...

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