O Duro pode esperar... (i de ii)

Gostoso é não programar,

assim de pronto resolver,

assim de surpresa se engajar...


O Duro pode esperar... (i de ii)
(Paulo R. Boblitz - 19/mai/2012)

Vovô estava com o capeta nos couros, e já era a terceira vez que dávamos a volta completa pela Orla, com seus bares repletos de gente feliz, comendo e conversando...

28, 30, depois vi que chegamos até 32 km por hora. A favor do vento, ele ajudava, mas quando iniciávamos o retorno, ele batia de frente em nossas velas...

- Vovô!? Quê que tá acontecendo? - perguntei.

- Tô treinando pra sábado... - ele respondeu com a voz bem grave.

- E o quê que vai ter no sábado..?

- Vou com o Gilton até Nossa Senhora da Glória...

Fiquei calado, mas por dentro pensando... "eles subiriam a Cafuz, depois uma boa subida até Itabaiana, e mais subidas até Ribeirópolis, continuando a subir até Glória... A coceira coçou mas fiquei quieto, porque o Duro estava na cabeça...

Noite seguinte, Vovô bem calmo a pedalar... Até achei bom, porque já havia caminhado cerca de 10 km, acelerado..! Na volta, pela nova ciclovia da av. Beira Mar, cada junta de dilatação das placas de concreto, me faziam parecer um bom vagão em sua viagem tranqüila para algum recanto gostoso: tru-tuc..., tru-tuc..., tru-tuc..., tru-tuc...

Calmos e calados numa noite fresca de outono, pedais macios sem pressa, tru-tuc..., tru-tuc..., tru-tuc..., fazendo os pneus a cada fenda atravessada, o sossego subindo pelas pernas, o ritmo cadenciado daquele som, deixei a coceira tomar conta e me resolvi...
- Vovô!? Quem mais vai com vocês? - perguntei.

- Certos, só eu e Gilton...

- Pois podem contar comigo...

E novamente calados, continuamos até o ponto onde sempre nos separamos, Vovô para o lado dele, eu para o meu...

Gilton foi um bom amigo quando percorremos o Caminho da Fé, e mais uma vez quando percorremos a Estrada Real; Vovô é outro bom amigo, sempre disposto a mostrar novos caminhos, porque conhece a cidade como a palma da própria mão.

Não pedalei na sexta-feira, revisando a tralha e a bicicleta; o dia havia sido chuvoso e a meteorologia prometia chuva para o sábado e o domingo. Seria gostoso pedalar pingando...

O despertador tocou, ouvi a chuva lá fora e fiz corpo mole, mas, compromisso era compromisso... Cheguei atrasado 10 minutos, e encontrei Vovô a postos. Ele olhou para mim mas não deu a bronca; apenas perguntou:

- Cadê o Gilton..?

Fiz que não sabia e ficamos os dois ali em pé aguardando o dorminhoco, que atrasou uma hora; ele ainda havia marcado com o Humberto Nunes, encontrarem-se no posto do Motinha, e o Humberto, pensando que o Gilton já tivesse partido, saiu em disparada, e não fosse o nosso grito, teria passado direto a fim de pegar-nos à frente, um troço meio maluco de imaginar, uma pessoa lá na frente, correndo atrás de pessoas que na verdade estão lá atrás...

Uma hora, exata uma hora o tempo que esperamos pelo Gilton, até que ele chegasse dizendo que havia pegado no sono novamente. Enfim partimos, naquilo que seria um dia muito divertido...

A chuva me apertava desde quando saí de casa, e nos acompanhou até cerca de Ribeirópolis, quando se rendeu ao bom tempo... É gostoso quando pedalamos, o encontro com a doce água que cai dos céus, mas sair de casa, já chovendo..? Por isso não falei nada sobre o atraso do Gilton...

Paramos em Areia Branca; motivo?, a fome... Macaxeira, inhame, cuscuz e carnes, café, leite e suco; tomei suco de maracujá, que me acompanhou por um bom tempo... Até ali já havíamos reparado 2 pneus, o do Gilton e o meu.

Em Itabaiana, Gilton e Humberto se distanciaram, enquanto eu e Vovô seguíamos em nosso ritmo. Chegamos em Ribeirópolis e notei que vovô se encostava para o posto de combustíveis. Perguntei se ele ia botar gasolina, mas ele estava apenas procurando pelos dois que haviam se distanciado.

Não vimos ninguém e seguimos em frente, e quando já estávamos chegando em Aparecida, Vovô, inquieto perguntou em que diabos de buraco aqueles dois haviam se metido. Mal terminou a pergunta, meu telefone tocou:

- Boblitz! O que foi que aconteceu? Vocês estão aonde? - Gilton perguntou.

- Acho que próximos de Aparecida. Vocês estão aonde?

- Em Ribeirópolis, esperando por vocês...

Ficou a crítica do Vovô:

- Tá vendo? Se você não estivesse com o telefone, eles estariam esperando a gente, talvez até voltado para tentar nos encontrar pelo caminho, enquanto nós estaríamos nos adiantando cada vez mais... Se saímos em grupo, o grupo tem que andar junto...

Em Aparecida nos reunimos novamente; faltavam apenas cerca de 22 km para Nossa Senhora da Glória, onde chegamos faltando 10 minutos para as 3 da tarde. Vovô, Gilton e Humberto, ficaram no Frank's Hotel, e eu fui para o Avelan Plaza Hotel, muito bom por sinal, ar condicionado silencioso, até com elevador.

Tomamos banho e nos encontramos para comer alguma coisa; descobrimos um lugar que só servia macarrão, o Macarrão ao Vivo, onde você escolhe o tipo de massa, e sai recheando com tudo o que você imaginar, terminando com um molho a cobrir tudo - delicioso...

Ao todo foram 119,8 km, em 8 horas e 11 minutos, numa velocidade média de 14,6 km/hora, 6329 calorias para o espaço, 1.468 metros em subidas acumuladas.

Depois da macarronada, na volta, descobrimos uma sorveteria caseira. Naquela noite haveria festa na cidade, e o som já estava sendo testado lá no palco.

Dormir, era tudo o que eu precisava, e de madrugada, uma leve cãibra na batata da perna direita me acordou. Mais um pouquinho, virei para o outro lado e voltei para o sono...

* * *

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