Caravelas aladas

Dos sonhos, chegam as realidades.

Nas realidades, precisamos sonhar...

Dos sonhos, chegamos às conquistas.

Nas conquistas, voltamos à realidade...

Acordar? Ninguém disse que é preciso...



Caravelas aladas
(Paulo R. Boblitz - 19/set/2010)


Num ronco surdo, todos os motores aguardavam apenas o sinal, a largada para todos os alazões saírem correndo pela pista de rolagem, singrando os ares...

A estática se faz presente, consentindo, e bufando, todos os lobos uivam em desabalada carreira; saem à caça...

Velas infladas, lemes apontados, proa no rumo predestinado, glórias no porvir incerto, com as glórias do passado...

Alguns graus à esquerda, nova correção à direita, o Sol laranja nasce e incendeia, repleta em luz o coração, sublima os pensamentos, arranca suspiros de liberdade. Orações flutuam agradecendo, estampadas em sorrisos ante a perfeição, horizonte impecável onde reina a paz, o paraíso...

A caravela sacode e estala; ela também parece gostar...

Os motores agora são mais calmos, ronronam em cruzeiro solitário, missão de praxe a ser cumprida.

As horas passam, o dia voa, o tempo parece estar parado em tanto azul; hoje é dia só de festa, e um bolo nos aguarda.

Mais um pouco, os ponteiros avisam que a comida dos alazões turrões está minguando; já é hora de voltar...

Um curva preguiçosa, um afrouxar das rédeas, uma descida programada, o lar a se aproximar, pela proa a ser mirado, belo porto a deslizar, novamente numa pista a cavalgar, refrear as baforadas na tarde quase fria, taxiar exuberante cheios do orgulho de mais um dia conquistado, o Sol a roubar reflexos em alegria, instrumentos piscando em harmonia, desarmados em sincronia com o parar, enfim o último rufar das pás, o freio pisado, a rampa à terra lançada, alegria da boa chegada aportando no chão bem-vindo, amado e acolhedor...

A nau lançando sua sombra, tenta ainda navegar, mas até essa se acalma, pois logo a noite vem e mistura tudo numa sombra só...

Parabéns!, lança o homem das raquetes, jogando também o seu sorriso, enquanto a loba vai passando, com alegrias, seus pensares, suas recordações...

As luzes já estão acesas como velas em saudar, brindando o bom retorno, o aniversário ansiado...

Estouram as rolhas, os brindes são erguidos, a comemoração se espalha, pois novos horizontes serão pesquisados, eldorados descobertos, azuis de mar e céu num doce encontro.

Caravelas de prata...


A noite se instala, o sono chega e vencedor derruba o ânimo; amanhã é outro dia...

Um zíper corre abrindo o macacão, o capacete é pendurado, o feminino aparece e logo a loba se recolhe.

Os sonhos se aproximam, os uivos clamam contra a lua, a felicidade se chega e tudo dorme.

O aconchego acaricia a alma, enfim descansa...

* * *