Cuspindo o fel

Fel é coisa amarga...; fel é azedume, é mau humor...

Azedos, nos tornamos feios; a antipatia prevalece...

O normal assim é que se compliquem, as coisas que desandaram...

Descubram como é fácil, e pratiquem...



Cuspindo o fel
(Paulo Boblitz - set/2009)


Existem aqueles dias em você foi magoado, ou injustiçado, ou de alguma forma ofendido; existem aqueles dias em que você sofreu um bom prejuízo... Nestes dias, costumamos querer dar porradas em alguém...

Já notei que até certos animais são assim; Pombinho, o meu cavalo, é dessa forma...

O quê fazer então para descarregarmos? Descontamos em quem nada tem a ver? De jeito nenhum...

Descobri que posso dar porradas em mim mesmo.

É só pegarmos a bicicleta, de preferência contra o vento, e pedalarmos até as pernas gritarem Basta!

É tiro e queda...

Para não pararmos de vez, vamos suavizando o pedal, diminuindo o ciclo, até que lentos, descobrimos que a raiva também já passou...

Aí podemos enfim dar uma paradinha, sorver uns goles d'água, e se dermos sorte, nos encontrarmos com algum outro ciclista, não nas mesmas condições, e batermos um papo, e seguirmos pedalando...

Se não encontrarmos ninguém, podemos simplesmente parar numa barraca, pedir um coco verde gelado, uma tapioca de goma de mandioca no queijo e na manteiga, e saborear enquanto o sangue esfria sob a brisa gostosa, que sempre nos sopra quando estamos suados.

Um bom descanso faz bem ao corpo, aclara as idéias, afugenta os maus agouros...

Pagamos a conta já sorrindo para a Atendente, nos despedimos com uma boa noite, montamos novamente e já podemos devagar seguir curtindo, a paisagem, o trânsito, as luzes que passam riscando, as gentilezas que vamos angariando, enquanto a cabeça mais calma vai processando, muitas das vezes encontrando as soluções necessárias.

Ruim é quando a raiva é logo no começo do dia; o jeito então é recolher o cenho, contar e recontar até que as dezenas se tornem enfadonhas.

Se a raiva é na boca da noite, então é só trocar de roupa..., não esquecendo do capacete..!

Não me entendam também que é para subirmos calçadas, buscarmos buracos para cairmos com as duas rodas... Aí a raiva só aumentaria, quando descobríssemos o valor dos reparos...

Assim, como podem ver, dar porradas em si mesmo, como qualquer coisa nesse mundo, requer um pouco de treinamento...

Isso também não quer dizer que quando me virem em arrojada carreira, será por conta de algum desassossego; eu poderei apenas estar treinando...

E para vocês verem como bicicleta é coisa boa, com raiva ou sem ela, sempre estamos em treinamento...

* * *

Um comentário:

  1. Costumo fazer isso sempre!!
    Não só no momento da raiva mas tbm qdo estou triste, alegre...
    É uma tática mto boa =)

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