Pedais...

Pedais são leves; são pesados...

Pedais não se entendem; são desnorteados...

Pedais são machos; são femininos...

Pedais adultos, viram meninos...



Pedais...
(Paulo R. Boblitz - dez/2010)


O vento parado não zoa nada. A pequena folha cai reta, sem volteios. As árvores não se mexem, as palmeiras dormem...

O tempo está quieto... Apenas a pequena folha se move, tenta se juntar às tantas outras já no chão, pintando-o de amarelo. Estendo a mão e ela se assusta...

Enxugo a pequena gota que ensaia escorrer na fronte, e espero, aguardo pela próxima animação, na paisagem quente cheia de miragem...

Só falta o outro pistoleiro para sacarmos das armas, num desafio que sempre um vai embora e o outro fica, pois parece uma rua deserta, portas trancadas, todos espreitando, sem movimento, apenas as cores dizendo haver vida, no pó que hora dorme, na pedra que se esquenta, nas galhadas que descansam...

Apenas eu, esbaforido, lançando ondas de calor no ar, ali parado também querendo vento...

Sento no quadro e me deixo ficar, mirando o nada; sempre há paz nesse momento...

Sinto dois olhos me fitando, viro e noto a pequena mãe no ninho, ocupada mantendo a vida. Lanço-lhe um sorriso e penso: não passamos de uma paisagem emoldurada nalguma parede...

O calor aos poucos se demonstra, o suor em gotas, cada uma procurando seu próprio rumo, trilhando rugas, por entre cabelos e pelos, pingando se lançando ao mundo...

Tudo trilha nessa vida...

Sinto um ventinho e me alegro, mas ele logo escapa e vai embora. Talvez tenha sido meu Anjo, indo para a sombra...

Olho para trás; não vem ninguém...

Apuro os ouvidos; apenas meus apitos soam...

Fecho os olhos; só a minha mente fala...

Prendo a respiração; o coração se anuncia...

Me abaixo e num pequeno estalo, liberto minha pequena garrafa do quadro, que vou desatarraxando lento, como se a vida, dali dentro não fuja. O cristal balança e me lança um raio, espelha o Sol que em tudo banha... Sorvo pequeno gole, um mais outro, trago delicioso que acalma a goela... A sede agradece e até sorri, pede mais, e mais um pouco...

Água, jóia rara quando estamos ao ermo, requer parcimônia, como com o bem que se custou, como aquele amor que se conquistou, como o brilho dos olhos que com o belo se contentou, sorriso sempre da alma, que mais amor repleta, mais ilumina...

Molho os lábios com a língua; sinto o sal da Terra...

Suspiro solto; deixo o cansaço seguir seu destino...

Miro novamente a pequena ave, mando-lhe minha alegria, desejo-lhe uma boa prole, monto e vou embora. O vento agora anda comigo...

Olho para trás e vejo minha poeira, pequenos grãos que alçaram vôo...

Sorrisos me alcançam; são crianças pedalando... Por instantes param e me observam, bem sérios empunham firmes os guidões; já sonham com a liberdade...

Aceno e vou seguindo, pois agora, sou eu como criança...

* * *

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