Doidinho

Doidinho estava impaciente para ser publicado...

E eu não lhe tiro a razão..., afinal, quem segura um Doidinho quieto?

Doidinho hoje já está mais grandinho, não faz mais confusões...

Está crescendo e perdendo a graça, igualzinho a todos nós...



Doidinho
(Paulo Boblitz – jun/5)


Doidinho é todo aquele que, na sua santa inocência, comporta-se como um verdadeiro maluquinho, um pião que roda sem sentido, uma roda que gira sem parar, azoado que não pára para pensar, cheio de energias, um capeta!, no sentido real da palavra...

Quem não conhece um doidinho por aí? Ou quem nunca chegou a conhecer um doidinho, ou uma doidinha? Quem até já não foi um doidinho, ou uma doidinha quando criança?

Eu já conheci alguns, posso afirmar, e ainda os conheço... Alguns deixaram de ser; outros continuam sendo até hoje...

O fato é que o mais recente conhecido se chama..., bem..., deixemos esse negócio de nomes para lá, afinal o que importa é a doidice, não o santo maluco... O que importa é que todo doidinho não tem maldade, nem juízo bom em certas horas. O que importa é que todo doidinho vive livre, como o vento e a água, sempre a aprontar, sempre a inovar, sempre a subverter qualquer ordem, seja lá que ordem for...

Havia chegado cansado da roça, lá meio noitinha, doído nas costas, queimado na testa, os pés vermelhos de barro, a camisa úmida de chuva, a barriga roncando nervosa, a paciência no limite, naquele limite que todos nós perdemos a graça, que o insosso toma posse, que o cinzento se faz iluminar...

Quando acabei de estacionar o carro, também todo sujo que nem eu, abri a porta e não acreditei. O mundo inteiro estava cheiroso... Funguei duas vezes para ter certeza, e era perfume mesmo... Não vi ninguém passando; então só podia ser alguém tomando banho pelo condomínio. E que banho! Que sabonete!

O perfume não era do tipo contundente, nem do modelo enjoado...; caía suave e aspirava simpático, adentro no meu nariz. Feminino pela natureza, quebrava minha áspera chegada, suavizando meu vir em casa, desanuviando meu dia duro lá no mato...

Meu filho, capengando com o dedo quebrado, uma bota branca até quase o joelho, chegou-se para ajudar, pois tralha boa de carregar sempre anda comigo: é bota, é garrafa térmica, é corda comprida demais, é marmita da bóia que foi fria, e um outro bocado de coisas que eu acho importantes e necessárias, além da bandeja de ovos, das bananas maduras, da porção de laranjas, de coisas boas da terra.

- Tem alguma coisa pra levar? – perguntou ele.
- Tem... – respondi.
- Que cheiro é esse? – perguntei curioso.
- Foi o doidinho com o desodorante da mãe dele, correndo pra cima e pra baixo...; gastou o tubo inteiro – respondeu sorrindo.

E eu sorri também...

Quem sabe se ele, arriscando umas boas palmadas, não perfumou a vida de nós todos? Não terá sido o bom perfume, quem desfez as rugas do meu semblante? Não foi o doidinho quem produziu a amnésia do dia ruim?

Bom doidinho duma figa..., e subi pensando nele, pirralho peralta como um dia também fui, sentindo o cheiro me acompanhando escadas acima, e a cada fungada, mais uma risada, de coisa inusitada nunca vista, um condomínio inteiro perfumado, cheiroso como sovaco de mãe bonita, e tudo por causa de um doidinho feliz...

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