Voltando para casa... - Santa Rosa de Lima - Florianópolis

São os riscos que tornam as aventuras, mais saborosas...

São os riscos que nos demarcam, as atitudes...

São as atitudes que demonstram, nossas valentias...

Viver a dois é tudo isso, temperado com virtudes,

com bom senso, sabedoria, zelo e amizade...


Voltando para casa... - Santa Rosa de Lima - Florianópolis
(Paulo R. Boblitz - 25/set/2013)

Nosso último dia estava para ser percorrido; seria um dia movimentado...

Santa Rosa de Lima é bem arrumadinha, tranquila e silenciosa, com uma bela passarela coberta sobre o rio Braço do Norte, e a igreja Santa Rosa de lima, bem defronte a ela, a esperar pelos fiéis...


Se o caminho de Rio Fortuna até Santa Rosa de Lima havia sido bonito, o de hoje seria muito mais, até chegarmos em Anitápolis, sempre com o rio Braço do Norte a nos rugir pela esquerda, e mais acima, cedendo vez ao rio do Povoamento, aqui acolá, todos eles domados por represas gerando energia, pequenas pontes unindo margens, vida que passa sobre vida que segue, vidas gerando trabalho e riquezas...

Quando lá estive no ano passado, pedalamos eu e Hila Rocha, pelos caminhos à esquerda do rio do Meio, quando passamos pela primeira ponte coberta da região, depois pela igreja de Santa Catarina; hoje trafegava com a esposa, pelos caminhos à direita daquela serra que separava os dois vales, o do rio do Meio, e o do rio Braço do Norte, porém, para quem está pedalando, a estradinha pelo rio do Meio, é muito mais severa, pois para chegarmos em Anitápolis, é necessário subirmos a serra, quase aos 800 metros, para depois descermos tudo de novo, chegando assim em Anitápolis, cidade simpática, rodeada de morros que a transformam como se numa pedra incrustada em tão bela jóia.


Agora largaríamos a estrada de chão e pegaríamos o asfalto, nele observando o que o vento havia feito na noite anterior, pois estava cheio de galhos e folhas, resultado daquela revolução que fez faltar energia. Em Rancho Queimado demos uma pequena entrada, mas logo fomos embora, pois nosso destino era Angelina, onde almoçaríamos e visitaríamos o Santuário de N. Sra. de Angelina, uma subida por uma passarela em ziguezague, passando pelas 15 Estações, uma subida de cerca de 90 metros, um bom exercício a fazer a digestão, pois que depois há que se descer aquilo tudo. A igreja de Angelina é muito bonita, com o Santuário às suas costas, repleto de águas que se misturam ao silêncio das reflexões.


Almoçamos no Sens Hotel e Restaurante, comida gostosa e farta, bem movimentado. Enfim, partimos para São Pedro de Alcântara, e comecei a ficar preocupado, pois a hora já ia avançada, dando-me conta só ali naquele momento, que havia esquecido que de Angelina para São Pedro de Alcântara, a estrada é de chão, um longo trecho a ser percorrido devagar. Teríamos que passar pela cidade sem fotos, ou corríamos o risco de perder o avião, pois antes de pegá-lo, ainda precisávamos entregar o carro, o dono fazer a vistoria dele, passarmos num posto de gasolina para o entregarmos com o ta
nque cheio, enfim chegarmos ao aeroporto, nos apresentarmos, despacharmos a bagagem e embarcarmos.

Depois de quase 40 anos de casados, cada um de nós já conhece o outro de cor e salteado, e quando a esposa olhou para a minha expressão, ficou mais preocupada do que eu, mas logo a tranquilizei, pois qualquer coisa, ficaríamos mais um dia em Santa Catarina; não há nada que não possa ser resolvido, afinal, logo cedo só lembrei de ligar o GPS, depois de havermos percorrido quase 12,5 quilômetros.

Passamos no mesmo lugar onde no ano passado havia sido perseguido por dois enormes cães, naquele dia em plena ladeira pesada, adrenalina a mil, que se pudesse os teria matado de tanta raiva, por terem interrompido minha subida... Diminuí a marcha, apontei mostrando à esposa donde eles tinham saído, lá de baixo, e o lugar aqui em cima onde nos encaramos, e hoje sorrindo, não lembro quem de nós três, tinha a cara mais feia e mais malvada...

Logo chegamos numa grande placa dando-nos as boas-vindas a São Pedro de Alcântara, mas cadê São Pedro, que não chegava..? Finalmente chegou, diminuí a marcha e em pouco tempo atravessamos a cidade. Agora seria asfalto e descida, até Florianópolis. Olhei o relógio; o tempo estava apertado, e de novo a preocupação se achegou, pois não era só chegar em Florianópolis; haveríamos de enfrentar o trânsito...

Resumindo, as vias são expressas, muito bem sinalizadas, e para cada lado que a seta mandava, nós seguíamos, até que chegamos a parar..., naquele gargalo em que a obra afunila, obrigando três faixas a passarem apenas por uma, nos exercitando a paciência, mas finalmente nossa vez chegou, mais um pouco atravessávamos a ponte que liga o continente à ilha, nos emburacávamos pelo lindo túnel, saindo agora em terreno conhecido, já bem próximos da Locadora e do Aeroporto. Faltavam apenas 10 minutos para a hora em que prevíramos entregar o carro, quando chegamos na Locadora, enfim, havíamos chegado..., aquele momento em que damos tudo por encerrado... Dali para a frente, era só uma questão de transporte, um compromisso com a volta para casa, a tudo novamente lidar...

Foram 2.181 quilômetros percorridos em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, de muitos encantos ensolarados, e outros encantos debaixo de frio e chuva. Encerrávamos assim, nossa comemoração de aniversário de 40 anos de casamento, dois meses e meio antecipados, uma vida inteira, como nos bons pedais pelas montanhas, quando encaramos as subidas, as descidas, as paisagens lindas, as paisagens feias, o liso asfalto, as pedreiras que vez ou outra furam nossos pneus, obrigando-nos a parar e reparar, mas que pedalamos com prazer, destemor e valentia...

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Um comentário:

  1. Belíssimo!! muito gostoso acompanhar seus relatos, sempre muito envolventes.
    abraços

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