Chegados em Gramado... (4 dias)

Criança é todo ser que ainda se encanta,

que consegue, nas simplicidades poucas,

extrair sorrisos...,

ainda que não mais inocentes,

mas que bem fazem, à alma e ao coração...


Chegados em Gramado... (4 dias)
(Paulo R. Boblitz - 16 a 19/set/2013)

Gramado é uma cidade muito linda, arrumadinha, limpa, organizada, cordial, educada, não tem semáforos e se você pisar na faixa, todos param para você atravessar.

Quando chegamos, o termômetro, aliás existem vários pela cidade, informava 7 Graus, esses mesmos Graus ou próximos deles, que nos acompanhariam pelos 4 dias ali.

O dia inteiro havia sido consumido pelo caminho; merecíamos uma Fondue...

Tomamos um banho quente gostoso, e querem saber? Ao ensaboarem os pés, equilibrem-se bem; não encostem a bunda na parede azulejada, porque é como levar um choque, não elétrico, mas de gelo que chega a espetar...

Sair do quarto quentinho é outro crime, ainda mais quando o carro não está assim tão perto...

Procuramos a informação da Fondue na recepção, estávamos hospedados na Pousada das Papoulas, lugar tranquilo, acolhedor e silencioso, e fiquei sabendo até que ganharia um desconto na hora de pagar, porque o rapaz havia solicitado que informássemos que havia sido ele a nos recomendar... Pegamos o carro e saímos em busca do Vue de la Vallée (http://www.vuedelavallee.com.br/); fazia muito frio, e garoava... O Garçom, atencioso e conversador, nos empurrou tanta coisa, nos empanturrou com tantas frutas, carnes e pães, e diga-se de passagem, um chocolate e queijo derretidos, que até esquecemos do desconto...

Deram-nos um tratamento sem igual, próximos de uma lareira gostosa, mesa bem iluminada, porque Fondue no escuro, nunca mais, como da vez em que comi em Poços de Caldas, sem saber o que comia...

Informamos que não comíamos carne de gado, então ele trouxe pequenos filés de frango e porco, queijo derretido numa terrina de barro esmaltado, com uma pequena vela debaixo, e o mais bonito, uma pedra redonda, agora sei que de pedra sabão, com bordas em cobre, e debaixo dela um fogareiro mais assanhado, a álcool.

Espetar o pão e lambuzar no queijo, era moleza, mas aquelas carnes e aquela pedra..?

- Ô gente boa!?, ensina nóis..!

E o rapaz não se fez de rogado, pegou o saleiro que despejava um sal finíssimo, circulando toda a pedra, que já estava bem quente e seca, sem gordura alguma. Espetou um filézinho e o deitou na pedra quente, que fez chiado...; mais um pouquinho o espetou novamente e o virou. O sal temperava e não deixava grudar na pedra. A mesa encheu-se de tantos pequenos potes, cada um com um sabor diferente de molho disso e daquilo.

O balde com minhas garrafinhas de cerveja no gelo, o suco da mulher à frente dela (ela não bebe), e nos divertimos espetando coisas, comendo bem, saboreando dos odores aos sabores, da luminosidade e do bom gosto, do aconchegante que se é estar num lugar tranquilo sem televisão ou som, pessoas conversando em voz baixa, boas conversas...

Aí chegou a vez das frutas, e das geleias, que confesso já nem lembro mais, pois eram tantos os potinhos, uma verdadeira salada, tudo para ser mergulhado no chocolate quente, espetadinho...

Querem saber? Se forem até lá nesse lugar, peçam um rodízio só! Nós pedimos dois, e nem chegamos na metade...

A noite já ia alta e não havia muito mais coisas a fazer, até porque estávamos cansados e pesados, o frio nos inibia, a chuva nos fazia sempre correr. Voltamos para o hotel e fomos dormir, não sem antes passarmos pela recepção e pegarmos tudo o que era de folhetinho...


Terça-feira, 17/set: o dia era nosso, sem nenhum compromisso, ou seja, se atrasássemos, não atrasaríamos ninguém..., aliás, as coisas só abrem depois das nove, acho que para isso mesmo, aproveitarmos a preguiça, um artigo a que muita gente não se pode dar ao luxo; passear é bom, por isso... Partimos para Canela, onde visitaríamos tudo o que encontrássemos com teto, pois chovia. De Gramado para lá, a primeira visita foi na fábrica Lã Pião Maria Bonita, bom trocadilho para quem vai gastar dinheiro... Vizinho, visitamos o Mundo a Vapor, logo na entrada uma locomotiva em tamanho natural, despencada do segundo andar e nariz enterrado na calçada.


Lá dentro, tratores, olaria, hidrelétrica, serraria, moinho, fábrica de papel, pedreira, metalúrgica, uma porção de coisas, um mundo a vapor, tudo em miniatura, funcionando de verdade pelo vapor, até um relógio a vapor, algumas máquinas de verdade em tamanho natural, uma oficina alemã com o ferramental da época, e sem deixar de existir, justa homenagem aos irmãos Urbani, que construíram aquelas tantas pequenas máquinas; finalizamos com um trenzinho que a gente embarca e dá uma voltinha.


Parece que não, mas o tempo voa, e já era hora do almoço. A chuva havia parado e decidimos visitar o Parque do Caracol, uma cascata que despeja seu mundo d'água bem lá no fundo, mas antes precisávamos almoçar, o que fizemos no caminho num gostoso restaurante dito caseiro, o Restaurante Tempero & Sabor Serrano, onde, desculpem, saboreei minha deliciosa Edelbrau (http://www.edelbrau.com.br/). O Parque do Caracol é bastante grande, então prepare-se para andar, subindo e descendo pelas trilhas que te levam aos vários pontos daquele rio. Existe uma escada metálica, a da perna bamba, que nos leva até lá embaixo. No início informa que são 730 degraus, mas quando você está quase lá, descobre a placa que diz serem 751.
Na verdade paramos num ponto em que dali não se pode passar, pois ela continua ainda mais uns cem degraus para baixo, mas está faltando corrimão, constantemente molhada, e deve ser usada apenas pelos que ali efetuam algum tipo de manutenção. As pernas ficam bambas na descida, e ficam bambas na subida...

O teleférico estava fechado para reformas, creio até em reconstrução; demos azar, mas dali seguimos para o Parque dos Paredões, onde as vistas dos dois únicos mirantes, são de tirar o folego, mas estava ficando tarde, minha máquina avisando que a bateria estava indo embora. Seguimos para o Parque da Ferradura, mas já estava fechado, por causa da hora, anoitece rápido e eles não querem ninguém perdido por lá. Ficamos de voltar logo cedo num dos outros dias. Estávamos bem cansados de tantas trilhas e escadarias percorridas, assim, na volta paramos numa padaria, compramos água, sucos, um bom vinho, pães e biscoitos. Nosso jantar já estava pronto...


Quarta-feira, 18/set: acordamos bem dispostos, com uma baita preguiça de sair da cama, mas era preciso, pois o tempo rugia... Abri a cortina e pude vislumbrar os 50 Tons de Cinza lá fora, com algumas gotas a escorrerem pelo vidro lúcido. No frio, tome um bom banho e ele vai embora. Descemos para o café e conversamos bastante com as moças que nos atendiam; informavam-nos do passeio de Maria Fumaça em Bento Gonçalves. Convenceram-nos que deveríamos realizá-lo através de uma empresa turística especializada, e são várias. Por que? Porque tudo tem horário e você sozinho não conhece os horários, nem do trem, nem das degustações, enfim, ficaríamos batendo cabeça que nem bobos, e se estivesse dirigindo, não teria provado os vinhos, os espumantes, a cachacinha com gosto de fruta, e acho também que nem desfrutado das coisas que desfrutamos, pois o Guia vai informando a cada coisa. Foram pegar-nos no hotel, nos levaram num monte de lugares, nos levaram para um bom almoço, depois nos deixaram no hotel novamente, 12 horas de um dia todo, coisa que se tentássemos fazer, não sei se conseguiríamos realizar um terço dele, pois as vinícolas não atendem a poucas pessoas, senão a um grupo formado.

O passeio de Maria Fumaça, em si, tratando aqui do trem, para ser bem sincero, não é lá assim tão deslumbrante... Você não vê quase nada, porque do lado esquerdo é barranco para cima cheio de mato, do lado direito é barranco para cima cheio de mato, não pode colocar a cabeça para fora, não existem curvas acentuadas, o trem se sacoleja mais do que motor diesel desregulado, e o percurso não é longo. Falando agora das atrações, elas não são comuns. Gente vestida a caráter, cantando em italiano ao som de uma bela Banda, interpretando, tudo como devia ser antigamente. Não resisti e dancei com uma senhora figurante, até porque o balanço do trem ajuda, nesse negócio de você ir de um lado para o outro. De qualquer maneira, o apito, os vapores, até mesmo a rusticidade dos vagões, nos remetem aos tempos de nossos avós, ou bisavós...

O passeio termina e seguimos para o almoço, rodízio de tudo quanto é coisa italiana, muito gostoso, onde fui entender o significado de Galeto ao Primo Canto, ou seja, o galinho se sente corajoso e então canta pela primeira vez, isso em torno dos 27 dias, aí vem um desregulado e lhe corta o pescoço, depois nos prepara ao som de ervas e boa grelha, bem tenro e saboroso. Isso me lembra de um amigo que guardava uma grande verdade: se você for servir no Exército, nunca seja voluntário..!

Outra coisa é a cerveja... Se vocês estiverem em Santa Catarina ou Rio Grande do Sul, sempre perguntem se eles têm cervejas locais, nada disso dessas convencionais que estamos cansados de conhecer. A cerveja lá da região, local, caseira ou que tenha lá o nome que tiver, pesa na língua... Garanto que não tem nada a ver com essas coisas aguadas que conhecemos... Tomava uma e até cheguei a pensar que daria um belíssimo de picolé, tamanha a textura, a forma como ocupa o lado interno de nossa boca. Até o arroto é diferente...

As vinícolas, e foram duas de bom tamanho (Salton, e Garibaldi), são um charme e pura cultura, mas está tão moderno o jeito de fabricação, que confesso não ter tido aquela inspiração, aqueles suspiros que diante de algo maior, soltamos, porque é tudo inoxidável, esteiras que transportam garrafas malucas em curvas e mais curvas. Os tonéis são apenas História, embora a qualidade tenha melhorado. Não digo aqui que gostaria de ver alguém pisando nas uvas, mas aquele escurinho que havia entre as barricas e tonéis, hoje mais se parecem com vitrines, tudo certinho e brilhando. Os tonéis viraram museu, como pude ver na Vinícola Garibaldi, onde comprei Grapa, a aguardente da uva, onde um sujeito pegou uma espada e pôu!, à lá Napoleão, lascou no gargalo do champanhe...

Os queijos são outra perdição, ainda mais quando o italiano que os fabrica é bom de conversa. Juro que aquele vendia geladeira para esquimó, anos de conversas moles jogadas em todos nós, clientes com a mão estendida para receber um pedacinho de cada joia do fedor. Arrependo-me de não ter comprado o parmesão...

Por último, a visita à grande loja da Tramontina, bonita de verdade, espaçosa, bem decorada, repleta dos tantos aços que ela fabrica, mas para quem está de avião, aço é excesso de bagagem, com certeza, e Tramontina tem em todo lugar, igual feijão com arroz...

Nesse dia passeamos por Nova Petrópolis, Feliz, Alto Feliz, São Vendelino, Farroupilha, Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Garibaldi, por fim Gramado, já de noite, cansados da maratona. Juro que o Guia, inteligente e senhor das boas informações, informou tudo sobre cada lugar e suas peculiaridades, mas querem saber? Está tudo misturado na minha memória RAM...


Quinta-feira, 19/set: o dia era nosso novamente, e até havia amanhecido bonito, perfeito para visitarmos o Parque da Ferradura e o máximo do que pudéssemos, pois dia seguinte partiríamos para Torres, logo depois do almoço. O Parque da Ferradura é muito bonito, com trilhas que literalmente lhe tiram o folego, como uma que o faz descer pelo paredão até a base da cascata do arroio Caçador, que se juntará ao rio Caí, entre ida e volta, creio que pelo menos por umas três horas, porque saímos do nível 750, e descemos até aos 400 metros, ou seja, um desnível de 350 metros; devia ter fotografado a placa que indicava. Até virei para a esposa e lhe disse que fosse, pois a ficaria esperando cá em cima...


Mesmo naquelas trilhas mais fáceis, cada uma levando em direção a um mirante, subidas e descidas, e escadarias, não faltavam. Assim, visitar cânions, cascatas, trilhas, é coisa para quem tem muito tempo, e boas pernas; as nossas já tinham dado o que podiam... No caminho para a antiga e bela casa da Família Franzen, um castelinho com um arroio a lhe passar ao lado, paramos no Mundo Gelado, um conjunto de câmaras frigoríficas que simulam um grande iglu e onde eles dizem que a temperatura chega nos 10 Graus negativos. Se chega nós não sabemos, mas meu nariz estava completamente duro e vermelho. Seguimos então para o Castelinho que mostra ferramentas antigas, tradição de uma época que deve ter sido bem difícil, mas sobrepujada pelo empenho, dedicação e trabalho, expressões que sempre se transformam em progresso e coisas duradouras.

Precisávamos almoçar, então fomos para a Terra Mágica Florybal, território dos dinossauros e do chocolate. Restaurante amplo, já quase no fim do atendimento, repleto de uma garotada, talvez umas 250 abelhinhas zoando com suas mochilas coloridas, correndo, cantando, principalmente sorrindo, encerrando aquilo em que eles esbanjaram energia capaz de acender muitas lâmpadas, pois que a primeira coisa por onde passamos, é por dentro da Mina do Chocolate, depois embrenhamos pelas várias trilhas, cada uma com tema diferente, até um teatrinho de fantoches, mina
preciosa, gigantes, escorregadores, enfim, por tudo o que, se você quiser, embarcará você na velha máquina do tempo e dos sonhos. Como bons aperitivos, aqueles dois copinhos de chocolate derretido nos levaram direto para a trilha do restaurante, onde teríamos forçosamente que passar na volta, mas pelo piso inferior, uma grande loja cheia de chocolates, quadrados, redondos, pretos, brancos, pintados, rabiscados, enfim, coisa para endoidar qualquer chocólatra.

Novamente foram muitas subidas e descidas, muita coisa engraçada pelo meio, até que cansados nos demos por vencidos, não sem antes de passarmos naquela loja de tantos sonhos. Saímos dali passando pouco das 5 da tarde; nosso dia, assim como aquele que derruba de cansaço as crianças cheias de vida, também nos encerrava, avisando que já era hora do descanso, e desembrulhamos o primeiro pequeno chocolate, e enquanto seguíamos por Canela, já mordiscando o segundo, e sabendo que meteríamos os dentes no terceiro, não resistimos e a tentação nos parou na última loja da fábrica Florybal, antes de chegarmos em Gramado, onde compramos muitos outros chocolates, todos eles deliciosos, com menta, com licor, amargos, ao leite, e acabamos jantando chocolate com queijos fedorentos, vinho seco e biscoitos deliciosos, afinal, dia seguinte teríamos que partir, não sem antes visitarmos outras alegrias...

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