nada se ganha,
nada se perde,
tampouco se deixa de notar...
Rumo a Gramado... (segundo dia)
(Paulo R. Boblitz - 13 e 14/set/2013)
Rotas planejadas - Verde ou Laranja; rota realizada - vermelha |
Partimos para o que seria um dia de muitas perdições...
Navegadora atenta, informava sempre a próxima marca, que eu anotava mentalmente e verificava no hodômetro parcial do carro, zerado sempre onde o Roteiro mandava. No quilômetro 8,8, disse-me ela:
- Cruzamento em T - dobrar à esquerda...
E dobrei, e seguimos confiantes pela estradinha gostosa que estava a nos levar até Luiz Alves, pois a próxima marca, 14,5 km, ainda estava longe. Assim, quando esbarramos no asfalto da rodovia, descobri que algo estava errado, muito errado... Mais à frente, dois homens trabalhando; cruzamos a rodovia e perguntamos, e eles nos responderam aquilo que nos aumentou ainda mais a confusão...
Eu sabia que aquela parte havia sido refeita, pois pretendia dar um pulo em Ilhota, dar um abraço na bela amiga Jamile, que um dia nos recepcionou, mas para chegarmos em Ilhota, teríamos que atravessar o rio numa balsa, e voltarmos, mais outra balsa... Isso era sinônimo de atraso, por isso havia refeito o roteiro, pegando à direita lá naquele km 8,8, porém esquecido de modificar o digitado "dobrar à esquerda". O erro havia sido meu, e só o pude verificar quando chegamos em casa, quando baixei todas as rotas.
- Mulher!, fecha o roteiro e vamos embora... Agora é na base da boca - disse à esposa, tranquilizando-a, e seguimos para Luiz Alves pelo asfalto mesmo, onde visitamos a bela igreja São Vicente de Paula, abasteci o carro, merendamos alguma coisa, nos abastecemos com água e com mais informações. Dali retomaríamos o roteiro novamente, agora com destino a Itoupava Central.
Nosso destino final era Timbó, mas antes passaríamos em Pomerode; havia muito dia pela frente...
Zeramos o hodômetro e seguimos confiantes; do nosso lado direito, subiam as imagens de um riacho gostoso e cheio de vida, nos acompanhando nas tantas curvas que a estrada Ribeirão da Onça nos obrigava a dar. Rodávamos agora pelo asfalto, e o dia já havia esquentado novamente...
Cerca de metade do caminho até nossa primeira marca, no km 15,4, nos deparamos com uma placa que informava a direção do Alambique Wruck. Parei, consultei a esposa se queria conhecer, anotamos a quilometragem para depois estabelecermos a diferença nas próximas marcas, e dobramos à esquerda, estradinha de chão que subia um gostoso morro...
Chegamos, nos identificamos num interfone, e um sotaque carregado nos solicitou aguardar, até que o portão automático começou a andar... Lá dentro nos aguardavam dois irmãos descendentes de alemães e russos, sorrisos largos, logo aparecendo um pequenino copo para que eu provasse da tal branquinha, mas que nada, era bem amarelinha, envelhecida há pelo menos uns 8 anos em tonéis de carvalho. A mulher olhou para mim, lembrou que eu estava dirigindo, e enquanto aspirava aquele aroma delicioso, piscava-lhe também o olho, concordando.
Mostraram a fabricação inteira, desde a moagem, tudo limpinho, cheio de vapores, até o galpão onde fica estocada em barris de carvalho. Comprei uma caixa..., e ganhei uma garrafinha como brinde, de vidro, daquelas que cabem no bolso do paletó.
Nossa próxima parada seria uma fábrica de cerveja, a Das Bier, mas não demos sorte; não era dia de atendimento... Fomos em busca da Cascata Carolina, saindo do asfalto por estradinha sinuosa de terra, uma espécie de parque aquático, que também estava fechado, porque ainda em tempo de frios, ninguém quer saber de banhos a céu aberto...
Estávamos contentes, eu ainda também orgulhoso da navegadora, pois tudo vinha batendo certinho, os cruzamentos em T, em V, os trevos e tantos outros sinais que a gente vê daqui de cima, já viajando antecipado enquanto o vai construindo. Mais um pouco dobrávamos à direita na estrada da Carolina; já estávamos bem próximos de Itoupava Central...
Cruzamos a rodovia, pois assim o roteiro e a navegadora mandavam, e logo parávamos debaixo de uma placa que indicava a Cristallerie Strauss. Fomos visitá-la, mas a loja da fábrica estava em horário de almoço. Seguimos em frente, tudo certinho batendo em cada marca, mas a estrada começou a virar estradinha, estreitando-se cada vez mais, até que me vi diante de uma subida possível apenas para tratores, ainda assim, 4 por 4..., ou, se estivesse de bicicleta, empurrando...
Parei numa sombra, desci do carro e fui até uma casa que acabáramos de passar; bati palmas e o morador nos veio atender. Disse-lhe que estávamos seguindo para Pomerode, e ele devolveu-me um bom sorriso, explicando:
- Essa subida, há muito que não é usada, e ali pela esquerda, a ponte caiu...
Eu teria que voltar tudo e dar uma grande volta; O Google Earth havia me enganado... Aqueles cerca de 8 quilômetros que faltavam, transformaram-se em quase 40 quilômetros, levando-nos até quase Blumenau, nos fazendo passar por Itoupavazinho, coisa que fizemos e até agradecemos, porque as belezas se multiplicaram; outras subidas viriam pela frente...
Chegamos em Pomerode por volta das 3 da tarde, demos uma volta e fomos até o Zoológico, afinal bicho também é gente... Encantadores são os pássaros com suas multicores vivas e carregadas, infelizmente por trás de vidros que não permitem boas fotografias, enchendo-as de muitos reflexos.
Admirava os animais, ao mesmo tempo em que também descobria em todos eles, aquele olhar de enfado, aquela sensação de que o pobre coitado sabe que vive numa prisão, vendo a vida passar todos os dias iguais, sempre duas pernas a lhes dispararem relâmpagos em flashes... Simplesmente não dão bolas para nós... Creio até que tenha visto uma Lontra pirada da cabeça, pois enquanto as outras descansavam, essa não parava de subir e descer pelas toras grossas de sua jaula, em círculos, na mesma velocidade...
O dia estava mais quente que o anterior, e tivemos que partir para Timbó, onde chegamos ali pelo fim da tarde. Ficamos instalados no Timbó Park Hotel, onde pernoitaríamos 2 noites, com diárias de ciclistas. Tomamos um bom banho, lavamos alguma roupa e saímos para jantar, a nossa maior perdição do dia...
Timbó simplesmente é cheia de Mãos Inglesas, e quanto mais eu trafegava na minha mão, aliás a mão de todos nós, mais eu era empurrado para o desconhecido, pois era noite, carros atrás querendo passar, inferno que não acontece quando se está de bicicleta. Juro que circulamos Timbó por duas vezes, pois começamos a reconhecer que por ali já tínhamos passado.
Foto do galpão central; ao fundo, comunicações entre eles (cabe muita gente) |
Iguais a esse, vários... |
Havia esquecido de pôr a máquina fotográfica para carregar, assim precisei utilizar o telefone celular, perdendo muita qualidade. O dia também estava muito quente, creio até que vinha piorando a cada dia, fato que teria sua explicação dias depois, com a tremenda quantidade de chuvas que cairiam. Visitamos o Museu da Cerveja, a Vila Germânica onde se desenrola a Oktoberfest, fizemos compras e voltamos ainda em tempo de almoçar no Thapyoka, delicioso restaurante com pratos de encher os olhos, onde tomei três entradas de uma espécie de caipirinha, uma garrafa de cerveja, porque estava realmente muito quente lá fora, comprei meu vinho e dei-me por satisfeito. As sobremesas são uma afronta, pois você fica numa indecisão de dar dó, porém deixei essa dor para a esposa.
Logo cedo, antes de partirmos para Blumenau, no café da manhã, reunidos, um casal de ciclistas, e muitos casais admiradores de pássaros, trilheiros que amam embrenharem-se nas matas, atrás de suas presas livres, gravá-los e filmá-los, até catalogá-los, vez ou outra descobrir novas espécies etc. Gente muito doida, comportados e sorridentes, mochilas às costas, quarentões, cinquentões, sessentões, até jovens, todos com cajados às mãos, e muito equipamento. O casal de ciclistas era de São Paulo, e deveriam estar a iniciar o Circuito Vale Europeu.
Na saída, encontramos dois senhores idosos que conversavam bem na entrada do hotel; um deles trabalhava lá, e o outro estava numa bicicleta Monark, barra circular. Paramos para dar bom dia e perguntarmos o bom caminho para Blumenau. O que estava na bicicleta virou-se para mim e perguntou se sabia onde ficava Charaguá!? Não entendi e repeti nosso desejo sobre Blumenau, pois não lembrava de nenhuma Charaguá! naquelas proximidades.
Então o outro idoso começou a nos contar a boa piada, justo a que eles ainda riam quando chegamos; foi assim:
Um viajante que passava, meio perdido que estava, parou e pediu uma informação:
- Por favor, senhor, sabe onde fica Jaraguá?
E o senhor era um alemão, que lhe respondeu:
- O senhorr ssobe a môro, depôs désse a môro, e pronto!, já está em Charaguá!
O viajante, agradecido, resolveu fazer um elogio ao velho senhor:
- Puxa!, o senhor é um puro alemão..!
No que o alemão se virou e respondeu:
- Purro é o senhor!, que non sabe onde fica Charaguá...
E eu passei uns quatro dias rindo sozinho...; ainda sorrio quando lembro dela...
* * *
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