Analógico ou digital

Pode até haver quem não concorde...,
mas tem muita coisa, que é mais gostoso como antigamente...

Vocês mais jovens é que não conhecem...



Analógico ou digital
(Paulo Boblitz - ago/2005)


Analógico não tem nada a ver com a lógica da Ana, nem digital são os dedos do Tal.

Analogia tem a ver com a lógica sim, pois trata de semelhanças entre coisas diferentes, por exemplo os ponteiros de um relógio, todos eles ponteiros, um anão e parrudo que diz as horas; outro magro e comprido que diz os minutos; outro bem mais magro e também comprido, mas apressadinho, que diz os segundos...

Os três falam da mesma coisa - do tempo...

Digital tem a ver com os dedos, pois temos dez em ambas as mãos, mas engana-se quem acha que digitação é só escrever um texto ou trabalho qualquer no computador.

Digitação é movimento de exercício dos dedos, assim define o meu dicionário, edição de 1963, portanto anterior aos computadores como os conhecemos hoje em dia. Assim, digitamos em um piano também...

Hoje em dia, não digitamos os dedos em exercícios, mas adquirimos a LER (Lesão por Esforço Repetitivo) por tanta digitação.

E é o progresso quem modifica as coisas e os costumes, e as definições também.

Perguntei as horas para o meu filho, e ele, após consulta a alguma coisa de plástico no pulso, informou:

- Dez e cinqüenta e sete...

Olhei para ele e fiquei pensando, não aguardando, o valor exato dos segundos..., mas lembrando daquelas ofertas que terminam em novecentos e noventa e nove, que nos fazem esquecer da milhar inteira.

Então, ponderei:

- Meu filho..! Já são onze horas..!

Ele não entendeu muito bem o que eu quis dizer, pois apenas lera o que no mostrador aparecia: números digitais em cristal líquido. Coisas de japonês.

Quando o tempo era dos suíços, necessitávamos aprender a ver as horas, e brincávamos aprendendo, praticando a tabuada dos cinco...

A tecnologia é sempre o cume do conhecimento, mas é também o seu maior exterminador. Não sabemos mais mexer nas réguas de cálculo, nem consultar tabela de logaritmos; o ábaco ninguém mais sabe o que é, e prova dos noves é coisa de lelé.

Tempo digital deixou de ser vivido, passou a ser acompanhado, e o lemos em seus múltiplos detalhes, até à fração do segundo, o piscar de um olho... - quem sabe a serventia dessa informação?

Tempo analógico é que é o gostoso, daquele que vem redondo, de preferência cheio de rodinhas dentadas no interior, com três ponteiros bem distintos, um anão e dois compridos. Com ele vivemos o tempo, pois somos obrigados ao arredondamento, para mais ou para menos... - quem se importa com exatidão!?

Raciocinamos com frações, com quartos de hora, com metade de hora, com múltiplos de cinco, e determinamos, por analogia, se estamos além ou aquém, se corremos ou deixamos como está, pois com analogia, enxergamos o tempo, temos noção do tempo, vemos ele em movimento circular, imitando nossas vidas, tudo girando sem parar...

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