Em qualquer lugar que chegamos, encontramos sempre aqueles mais empolgados, ou, aqueles mais afoitos, ou, aqueles mais exibidos...
Eles também crescerão...
Brigadista especial
(Paulo Boblitz - jan/2006)
Brigadista é todo aquele que, na hora H, quando o bicho está queimando, ele corre para tentar apagar, junto com os outros brigadistas, que sempre treinam mantendo a forma. Em cada unidade, a Petrobrás mantém um campo de treinamento onde simula vários tipos de incêndio.
Em Urucu não poderia ser diferente, e lá havia também uma turma de brigadistas.
Certa vez, na hora do almoço, na nossa mesa sentou-se o colega todo prosa, com um macacão cheio de cores, cheio de fechos ecler nos punhos, nos ombros, nas pernas, em tudo quanto era lugar. O macacão tinha faixa inclinada, faixa horizontal, faixas em todas as direções, bandeira do Brasil num ombro, bandeira do Pará no outro, tinha amarelo, tinha verde, azul, laranja, branco e quem sabe até mais algumas outras cores.
"Isso era para chamar a atenção" - explicava o colega brigadista - "de propósito...", pois identificava o brigadista no meio dos outros simples mortais.
Antes mesmo de alguma coisa pegar fogo, o sujeito já era um herói...
E aí, como nossa turma era afiada, tanto quanto afinada, começamos a fazer perguntas, e a cada pergunta obtínhamos uma resposta, cada vez mais empolgada, nem um pouco desconfiada...
A hora do almoço era o nosso descanso, a hora em que mais descontraíamos, e sempre almoçávamos a turma inteira. Isso tinha uma explicação lógica, como o transporte que trazia todos ao mesmo tempo, o entrosamento bom do grupo, que era bastante unido, e novamente o transporte, que levava todos de uma só vez.
Interrompendo a nossa curiosidade sobre o traje do rapaz, o Custódio, levantando-se para pegar mais suco, delicado perguntou ao grupo se alguém mais também queria, no que respondi de imediato:
- Quero..! Me traz dois copos, por favor... - pedi de propósito, pois os copos eram do tipo descartável, daqueles que não têm rigidez nenhuma. Assim, como fazer para trazer três?
Ele fez que sim com a cabeça, deu meia volta e saiu andando. Quando tinha andado dois passos, parou, virou-se indignado e perguntou:
- E eu.!?
E sorrindo levantei, e com ele fui pegar suco de cupuaçu, deixando a mesa mangando dele, pois com copo mole daquele jeito, só cabia um em cada mão.
Voltando à mesa com o meu suco, que lembra muito o gosto da graviola, virei bem sério para o colega brigadista e perguntei:
- Você tem medo de onça?
- Têênho..!, mas quem não tem!?
E aí, entre um gole e outro, respondi:
- Eu..., estando do seu lado..., teria menos...
Um colega, já percebendo alguma armadilha no ar, perguntou:
- Pur quêê!?
- Vai que a onça pense que ele é uma arara grande, vai comer ele primeiro..., né não!?
E começaram a chamar o colega de arara, arara para lá, arara para cá, e do dia seguinte até meu último embarque, nunca mais o vimos com aquele macacão vistoso de brigadista pára-quedista especial.
* * *
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