Economizando energia

(Paulo Boblitz – ago/2007)


Alguém me disse que viu na televisão, que desligando os aparelhos, no dedão, apagando todas aquelas lampadinhas vermelhas ou verdes, chegamos a economizar cerca de vinte e cinco ou trinta reais por mês.

Não pestanejei duas vezes; saí logo desconectando tudo o que era de aparelho da parede. Lá em casa ficou parecendo necrotério...; tudo apagado, sem nada a esperar da vida, de um controle remoto qualquer...

Sentado na sala, olhando tudo aquilo sem brilho, e sendo encarado pela patroa, a perguntar quem iria ficar se abaixando para plugar tudo na tomada de novo, logo pensei numa boa idéia, pois que diante de quaisquer empecilhos, o que mais vale é a criatividade.

- Mulher..! – falei virando para ela – por que não aproveitamos que está tudo desligado, e pintamos o apartamento..?

A aprovação foi imediata, e logo sorri com aqueles vários dias de poupança, sob desculpa de uma poeira que penetraria nos equipamentos, a danificá-los.

Nesse período, teríamos que arrumar outras coisas para fazer, pois ela sem televisão, eu sem o computador, e tudo morto dentro de casa..., o potencial era infinito...

No embalo da idéia, já que à noite estaríamos a dormir, por que não desligarmos também o freezer e a geladeira?

Foi tiro e queda... Além da energia poupada, logo descobrimos que não precisávamos mais comprar comida para a nossa pequena cadela Luna, que passou a amanhecer todos os dias, lambendo aquela poça no chão, com gosto de frango descongelado.

Pintamos o apartamento e, cansados, voltamos a ligar tudo novamente, já que não chegamos a arrumar mais nada para fazer.

A cachorra também logo enjoou de sopa gelada pelo chão, embora tratássemos de temperar a ave no dia anterior, para o degelo durante a noite.

Agora com tudo pintado, já está havendo necessidade de novas cortinas, e o sofá bem que poderia ser substituído.

O tapete central, nem pensar em colocar no lugar novamente. Com a nova luminosidade, manchas que nunca havíamos percebido, apareceram...

A geladeira necessitou ser reparada, pois os longos períodos repetidos de degelo, fez com que o gás fosse embora.

O freezer desenvolveu um barulhinho novo, e agora trepida com intenso vigor – parece até em abstinência alcoólica.

A cachorra sem-vergonha, agora só faz cocô e xixi no antigo lugar das poças que lambia. Diz a mulher que aquele sumo deve ter infiltrado, e agora já fedendo, deve ser sinal de bom lugar para qualquer necessidade...

Moscas estão aparecendo; a mulher querendo tudo novo, e o meu dinheiro indo embora...

Se alguém aparecer com mais alguma informação de poupança..., não vou dar atenção, não vou ouvir, não vou querer saber, e pode ser até que eu ainda venha a xingar.

Por causa de vinte e cinco reais por mês, acabei despertando a sanha gastadora na esposa, que para meu desassossego, estava apenas latente.

Todos aqueles longos anos de catequese com demoradas conversas de aproveitamentos e remendos, foram jogados fora apenas num conselho...

Falando em conselho, acabo de pisar em uma pasta marrom fedorenta da pobre Luna coitada, que, desnorteada, não sabe mais onde fazer as porcarias dela. Para piorar, depois que sentiu novos sabores, não aceita mais aquele resto de macarrão, que com ela aproveitávamos.

Com tanta coisa para a televisão informar, tinham logo que vir com um assunto desses...; olhem só o tamanho do meu prejuízo...

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