O pimeio dente

Quem já foi criança, é bem capaz de não se lembrar... Quem já viu acontecer, pu sheto me daá rajão...

Lembei desha históia, quando minha amiga agóinha me contô como faiava o pópio nome déia... Quando ela quiansha, né!?

Tá aí no bog...; minha amiga não!, a históia...



O pimeio dente
(Paulo Boblitz - ago/5)


- Mamãe!, meu dente tá mole... - falou a criança, balançando o dentinho com a ponta do dedinho.

- Vem aqui meu anjo...; deixa a mamãe examinar...

O irmão mais velho, fedorento e com espinhas, foi logo fazendo inferno:

- Vai ter de arrancar... - enquanto falava, ia fazendo uma careta de dor, levando as mãos à bochecha, como se tudo estivesse inchado.

A criança olhou apavorada para a mãe, que já estava com os braços abertos sorridente, esperando para ser a sua primeira dentista.

O irmão mais velho não podia deixar passar a ocasião, e novamente fuzilou:

- Eles dão uma injeção desse tamanho... - e abriu os dedos polegar e indicador, diante dos olhos já arregalados da criança, agora já com a boca aberta em análise pela doutora da casa.

E continuou:

- Eles usam um alicate desse tamanho, ó! - e fez o tamanho da ferramenta, bem maior do que o normal.

- E quando eles arrancam o dente, vem até pedaço de juízo, fora a ruma de sangue também...

A criança, já apavorada, perguntou:

- É er-áde, ãe?

- Claro que não! Manda ele ir cagar...

- Ái a-á! - falou a criança com os dedos da mãe em sua pequenina boca, examinando-lhe a dentição.

E o irmão mais velho soltou uma risada sem tamanho, certo que havia cumprido a sua missão, como quem a informar que por aquilo tudo ele já passara.

Como a oportunidade era difícil de se repetir, não deixou por menos, continuando a enjoar o irmão mais novo:

- E vai ficar um buraco assim, ó! - e fez o tamanho do buraco...

A criança olhou para a mãe, pedindo ajuda, e ela prontamente:

- Manda ele tomar banho...

- Ái o-á ânho...

E o irmão mais velho aí é que ria, e o pior!, já estava contaminando a própria mãe, que já começava também a achar a situação engraçada.

A criança, completamente cercada pelas adversidades, vendo a sua esperança, a sua mãezinha querida, logo ela!, também a abandonando, traiu-se em início de choro.

Os olhos a denunciaram, criaram água e mais brilharam mudando de cor, anunciando em muda mensagem, o desconforto do temor, a sensação do abandono, do ninguém mais gosta de mim... Tudo parecia desmoronar para a criança; até a Santa à sua frente, já queria mangar.

- Prooonto... - disse a mãe.

Fez-se um silêncio de repente; os olhos da criança enxugaram, o irmão mais velho parou com a macaquice, e todos ficaram a contemplar...

A mãe, com o pequeno dentinho entre os dedos, um pouco vermelho de pouco sangue, o exibia para o mundo, principalmente para a criança, em amorosa lição que operação de mãe não dói...

A criança já passava a língua pelo buraco, e estendia seu pequeno braço para pegar o que havia sido seu.

A mãe, antes de dá-lo, recuou um pouco a mão, avisando:

- Vamos guardá-lo de recordação..!

E a criança, tomando o dentinho com curiosidade e fazendo que sim com a cabeça, o observava com atenção, em pé por entre as pernas da mãe, já esquecida do seu primeiro problema existencial, assim como esquecido estava do irmão mais velho, agora sem muita graça e ação.

- Agora assobia! Assobia que eu quero ver... - provocou novamente o irmão mais velho, não inteiramente derrotado...

- Fái tomá fanho..! - falou soprando a criança, tentando assobiar, saindo correndo pelo mundo a anunciar, mostrando a sua grade aberta a todos os amiguinhos, com orgulho comentando:

- Foi minha mãe que aancou..!, e eu nem choei...

* * *

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