Peço perdão

Perdão por incomodá-los; faço isso com boa vontade...

Perdão por ocupá-los...; faço isso também por mim...

Perdão se alguém não gostar...



Peço perdão
(Paulo Boblitz – ago/2004)


Dedicado a todos
que necessitam
pedir ou dar
um perdão.


Peço perdão ao Senhor meu Deus, em primeiro lugar...

Peço perdão ao Senhor meu Jesus Cristo, em segundo lugar, embora eu O confunda com Vosso Pai e, às vezes, fique sem saber a Quem pedir...

Os Dois sempre me deram tudo o que solicitei. Meu medo é que um dia Efetuem alguma cobrança e eu não possa pagá-Los à altura como tantos já pagaram, pois sou fraco e tenho medo de não honrá-Los diante da dor ou do sofrimento.

Peço perdão aos meus amigos e aos amigos que ainda conhecerei, todos irmãos. Fico triste por não ter conseguido conversar com os que já se foram. Quem sabe um dia nos encontremos e lá então conversaremos, creio eu que já perdoado por quem se libertou da gravidade.

Peço perdão por não ter criado, ou por ter criado o que não precisava existir.

Peço perdão por não ter entendido, ou por pensar ter assimilado.

Peço perdão por não ter tido a paciência, ou por tê-la tido em demasia, estragando alguma coisa...

Peço perdão por não ter conquistado pelo perdão, ou pela simpatia, ou pelo amor, ou por ter usurpado alguma coisa que não fazia jus.

Peço perdão por não ter amado a quem necessitava do meu amor, mas eu não sabia, ou se sabia, não me dividi, não me suplantei...

Peço perdão por não ter sorrido na hora certa, ou ralhado quando precisava. As mágoas são diversas eu sei, pelo magoar, pelo dizer, pelo fazer, mas não conhecemos o futuro e nem o verbo a ser pronunciado.

Peço perdão por não ter trabalhado, por não ter produzido, por não ter gerado, ainda que continue sem saber o que poderia ter construído.

Peço perdão por ter sido fraco, ou por ter sido forte, quando as situações exigiam o contrário...

Peço perdão se não ensinei, e se não aprendi, pois existimos por alguma razão...

Peço perdão por não ter visto, embora tenha a mim sido mostrado...

Peço perdão por não ter esquecido, ou pelo esquecimento daquilo que não poderia esquecer.

Peço perdão por não ter sido leal, seja pelo egoísmo ou pela inveja, pela comodidade ou pela ignorância.

Peço perdão por ter sido arrogante, ou por ter sido humilde quando precisava reagir.

Peço perdão por ter sido perdulário, ou magnânimo quando o certo era cortar.

Peço perdão por não ter ousado, ou por ter sido precipitado quando o correto seria calar e ouvir...

Peço perdão por não ter chorado, ou por chorar quando devia ter enfrentado.

Peço perdão por ter adoecido, quando devia sustentar, mas isso independe de nossa vontade.

Peço perdão quando sucumbi aos vícios, quando devia ter honrado minha saúde para um futuro de velhice.

Peço perdão por não me lembrar do quê ser perdoado, ou do quê a ter que pedir, ou de quem a ter que solicitar.

Peço perdão por não ter sofrido como vejo tantos a sofrerem, ou por não ter agradecido por tantas felicidades que eu conquistei e que vi acontecer...

São tantos os perdões a solicitar e a perdoar, que me vejo perdido entre as lágrimas que teimam em marejar, com a dor do aperto no coração, embriagado entre os remorsos e ressentimentos que se embaralham em minha tela, pelas lembranças que o olhar vazio arranca do horizonte do passado. O suspiro é cansado e abatido, quando deveria ser de valentia. Mais um perdão, por favor.

Perdão por ter sido exibido, quando ao meu lado havia um humilde.

Perdão pelos orgulhos tolos, pelos empacar, pelos não arredar, pelos gritar, pelos calar, pelos silêncios malignos ou cheios de ódio, pelos revides físicos ou verbais, pelas vinganças pensadas ou executadas, pelas futilidades ou vaidades, pelas nulidades materiais que o dinheiro compra, pelas coisas boas jogadas no lixo das frivolidades.

Perdão por somente agora eu o estar pedindo.

Perdão por não ter unido, por não ter apaziguado, perdão por tudo aquilo que separei.

Perdão por ter sido omisso e distante, surdo e cego, por não ter orientado, ou por não ter sabido encaminhar. Perdão por não liderar.

Perdão pela falta de sensibilidade, pelo não agradecer quando deveria, pelo não reconhecer quando recebido. Perdão, perdão, perdão...

Perdão por não ter sabido cultivar a humildade, nem utilizá-la, mesmo achando bonito quem a pratica.

Perdão meu Deus, por sofrer por quem eu amo, por enxergar os erros de quem me preocupo, e de nada poder fazer para ajudar, ou por não saber como mostrar, ou intervir, ou resolver. Perdão por perguntar: por quê o Senhor deixa acontecer?

Perdão pela vergonha que sinto por tudo o que eu fiz e que não fiz, quando poderia ter sido diferente se eu tivesse o dom da compreensão, ou da paciência, ou da compaixão, ou da sabedoria, ou da lealdade, ou da experiência do sempre mais velho, que sabe porque é velho, que é velho porque sabe, que sabe porque vive na velhice...

Hoje olhamos à volta e não vemos mais aquele brilho de outrora. Vemos a poeira do desânimo, o arroxear das pancadas que foram dadas e recebidas, os frutos bons que vingaram, as daninhas que forçaram seus caminhos nas pedras duras das palavras e das ações. Juras foram esquecidas, sentimentos suprimidos, sangue do sangue a misturar, e evaporar ao som das partilhas daquilo que foi conquistado em conjunto, com amor, com sacrifício, com padecer e noites em claro. Meu coração chora sem lágrimas, sem o doce sabor salgado da infelicidade que é passageira, mas com o cruel aperto do nó que não desata, com o volume diminuído dos pulmões que um dia aspiraram as flores prometidas do para sempre, com o acre sabor do saber sem volta impotente, câncer da família desfeita a dar exemplos, sorrisos transformados em caretas, suspiros que se tornaram xingamentos. Ele chora palpitando pela ausência da lealdade, em ardor silencioso das incompreensões e das incompetentes faltas do renunciar.

Perdão por não ter cumprido com meu papel, no ato da peça que me valia, esquecendo a fala não querendo sopro do palco, improvisando onde não inventamos, apenas vivemos, apenas devemos fazer a nossa parte, sempre bem feita, conforme o que foi contratado, prometido e selado diante do Senhor.

Perdão Meu Grande Pai Todo Poderoso, em ver tudo isso e nada fazer, apenas me intrometer, sem sangrar, sem nenhuma dor direta sentir, e apenas daqui de longe constatar que não somos o que somos, mas apenas o que fomos.

Perdão meu Bom Deus, por ter que pedir perdão. Perdão por, às vezes, não saber ou não querer ouvi-Lo.

Perdão...

* * *

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