Pelas terras, pelo Iguaçu, do Paraná...

As barreiras existem...

As tememos, ignorantes...,

até conhecermos as fúrias,

dos peixes em Piracema,

que zombando de todas elas,

pulam, saltam, vencem-nas,

apenas para cumprir seus compromissos...





Perseguindo Itaipu...
(Paulo R. Boblitz - 7/fev/2015)

- Alguém sabe se é possível atravessar do Brasil para o Paraguai, por cima do paredão de Itaipu?

A discussão estava animada, uns achando que sim, outros que não, e tantos outros em meios termos...


Cliquei no ícone do Google Earth e a imagem era bela, muito bonita...

Quem perguntava era o italiano Corrado Turri, lá da Itália programando mais um passeio pela América do Sul...

Entrei no sítio de Itaipu, descobri o endereço do "Fale Conosco", e o lancei ao Corrado:

- Por que não pergunta para o dono?

A discussão serenou e fez-se o silêncio na internet...

Voltei para a imagem do satélite, dei zoom...; aquilo era enorme...

Voltei no tempo, na minha juventude quando tudo aquilo começou a ser construído...

O "Fale Conosco" ainda estava aberto... Por que não perguntar? Perguntei...

Meia hora depois, lia a resposta do Corrado, um sonoro NÃO...

Larguei as lembranças para lá, encerrei o programa, saí da internet e fui cuidar dos meus assuntos...



Corrado Turri foi a semente do meu passeio, e aqui o agradeço, o homenageio...

Cerca de 20 dias depois, lia estupefato a mensagem do Superintendente Rogel Abib Zattar. Também informava que não era possível, afinal ali não existem os órgãos oficiais de fronteiras..., e de repente dei-me conta da bobagem que havia perguntado...

Continuava o Zattar: "porém, teremos o prazer em recebê-lo, permitindo um passeio interno na usina, em itinerário acompanhado por carro madrinha, ciceroneado por empregados que também praticam o ciclismo..."

Emocionado, levei três dias para responder... Em três dias construí um esboço grosso do que pensava ser o passeio, cerca de 600 quilômetros, saindo das calçadas do Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, coladinho em Curitiba no Paraná. Ali já apresentava a minha amiga Sofia, que sorridente dava pulinhos do meu lado, me empurrando, me cutucando, me lançando beijos... Ali também pedia um tempo para a organização, para a escolha certa do período...

Dia seguinte, 27 de outubro de 2014, era apresentado ao Gerente de Divisão, Francelino Neumann de Lima; trocamos ideias, recebi muitas informações do Lima, que também era praticante do Cicloturismo, aconselhando-me pelos bons caminhos.

Ao Lima, dedico todos os meus dias passados pedalando até chegar em Foz do Iguaçu.

Ao Lima, minha homenagem é especial, porque juntos, não pudemos pedalar...

Ao Lima, todo o meu desejo de uma recuperação total.

Conversamos tudo o que necessitávamos conversar, discutimos tudo o que precisávamos discutir, e chegou a época do silêncio, época em que eu trabalhava no roteiro, mastigava cada altitude, marcava cada detalhe em minha planilha de navegação...

Interrompi meu roteiro que me levaria à Bahia, aquele mesmo que me fez chegar a Baixio, pois que o vírus das grandes subidas havia se instalado em minha cabeça. Zoons e mais zoons eram aplicados a cada noite, demarcando minha rota, meus pontos de parada, minhas preocupações. Lançamo-nos no vazio do que não se conhece, do tudo ou nada, do ter do cumprir, porque não temos vidros a levantar, não temos aceleradores a apertar, não temos nenhuma capota a nos proteger; é chegar, ou chegar...

Irresponsabilidade? Não... Você se conhece, você sabe se é capaz, se aguenta... Então, que ninguém se meta a fazer o que nunca fez...

Roteiro pronto, mais de três meses debruçado sobre o monitor do computador, escrevi para o Lima, mas o silêncio continuou...

Esperei ansioso por quatro dias...; não me contendo, peguei o telefone e disquei. Atendeu-me voz diferente, nome diferente, Valdeci...

E a sensação estranha se confirmou; havia acontecido alguma coisa com o Lima...

Descobri entristecido que ele sofrera um grave acidente. Pedalando, caiu de uma altura de 10,5 metros, repito, caiu, não rolou. A queda foi livre como aquela que experimenta o paraquedista, terminando sobre pedras duras em baque seco. Sabem o que significam 10 metros e meio? Significam a altura de um prédio de 3 andares, mais meio andar...

Limão, seu irmão mais velho, contando-me como acontecera, fez-me ver vários dedos, várias mãos..., de Deus, de Jesus, e de alguns Anjos da Guarda que correram em ajuda do solitário Anjo da Guarda do Lima...

Faltavam 4 dias para meu embarque, e a tragédia não me abandonou os pensamentos dali em diante. Visitaria o Lima, ou tentaria visitá-lo ao final de tudo aquilo que ele tanto ajudara e dera força; o Lima, agora, constava em minhas Orações...

O passeio em Itaipu estava mantido, assim me garantiam Wagner Swiderski, Leandro Vilan, Rodrigo Junges, Mike e Edmar Vidal. Eu pedalaria com eles, custasse o que custasse...

Véspera, preparei Sofia que ficou parecendo uma múmia. Foram metros e metros de filme plástico, proteções dedicadas às partes delicadas de Sofia, que feliz deixava-se enrolar, mesmo com intenso calor.

- Tô bonita!?

- Está linda...

- Tá quente aqui dentro...

Respondi que sim e continuei a enrolá-la, que, aflita, tentava dizer-me alguma coisa:

- Huuumm, huuuumm, huummm...

Entendi ligeiro e lhe fiz dois buracos para respirar...

- Pronto! Ainda comprarei um avião para viajarmos juntos, lá em cima, na cabine...

Ela sorriu e me fez sinal de que tudo estava bem, pois entendia que não podia viajar por entre os passageiros, aprovando todo o meu cuidado em protegê-la...















































Noite em claro, desembarcávamos às 10 horas da manhã, nublada e fria; começava a agonia do recebimento, saber se Sofia estava bem, se nada lhe havia acontecido...

Danificaram-na, produzindo-lhe lágrimas...; mãos descuidadas, mãos indolentes, mãos indecentes, puseram-na em posição inadequada, sem respeito, sem amor, sem sensibilidade...

Desconsolado, tento fazer curativos em Sofia, que teve ferimentos graves na blocagem do eixo dianteiro, perda total na alavanca de travamento da suspensão, e empeno forte no bagageiro que suporta meus alforjes... Passei-lhe a mão no quadro, lhe alisei o guidão, e ali mesmo prometi que só iniciaríamos quando tudo estivesse resolvido.

Sofia sorriu, mulher valente sempre disposta, e quietinha foi-se vendo arrumada, amiga de sempre, para o que der e vier...

Encontramos uma Bicicletaria bem no caminho, fruto de meus cuidados em perguntar aos amigos, que sinceramente ensinaram... Ali, Sofia foi bem recebida e tratada, tornando-se inteira novamente, válida e entusiasmada para a batalha que acabara de ser iniciada... Já era tarde quando a adentrei bonita, no restaurante, meu primeiro almoço fora de hora, ao seu lado, papeando, incentivando, recomendando, ela sempre para mim...

Pelo meio da tarde de um verão quente e luminoso, chegávamos em Araucária, onde quase dormindo, guiado por Sofia, pedalava pelo asfalto sem graça, por entre veículos apressados...

Estávamos também num sábado sem graça, quando a cidade fecha e todos descansam do labor insano do manter-se vivo...

Nosso progresso havia sido tímido, num dia desarrumado e barulhento, apenas 35 quilômetros, 238 metros em subidas acumuladas, duas fotos, do momento em que seguimos nosso destino, e do Iguaçu que superará todas as poluições para tornar-se majestoso...


Para mim e para Sofia, o sono nos aguardava, aquele sono que faz o sonho livre e leve, compensando os cerca de 5 "finas" dos grandes caminhões, talvez por não gostarem de ciclistas, talvez pelo mau sentir de não serem eles ali pedalando...

* * *

2 comentários:

  1. Foi tao real seus comentarios q senti o vento dos caminhoes nas finas...
    Parabens. Limao. 041-9102-5723

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  2. Peregrino, meu nome Heliane, irmã do Francelino Neumann de Lima, hoje 02/11/2015 acabo de chegar do aeroporto de São José dos Pinhais, onde deixei meu irmão, que foi andando para pegar seu voo para voltar à Foz. Agradeço a você e a todos os Amigos que fizeram orações pela recuperação do Francelino, os pedidos foram muitos e sinceros que Deus nos ouviu e concedeu-nos a graça de tê-lo conosco, recuperando-se de forma inimaginável. Em breve ele irá pedalar novamente com vocês. Muito obrigada, que Deus abençoe a todos que nos ajudaram com suas orações.

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