Pelas terras, pelo Iguaçu, do Paraná... (dia 2)

Tempo não se ganha,

não se usa,

não se perde...

O tempo não está nem aí para você...

Assim, esqueça do relógio,

tome conta só do sol,

mas tenha uma lanterna boa, sempre à mão...




Gastando o tempo...
(Paulo R. Boblitz - 8/fev/2015)

O Paraná é um Estado principalmente cortado por caminhos de norte para o sul, ou do sul para o norte, com apenas a BR-277 a ligá-lo de leste para oeste; dela, saem as inúmeras variantes para cima, ou para baixo.

O Paraná não termina na cidade de Foz do Iguaçu, mas ali encontramos a tríplice fronteira: Brasil, Paraguai e Argentina, um lugar onde dois gigantes se encontram, o rio Iguaçu com o rio Paraná, morrendo o primeiro, engrossando o segundo, e é bem nesse ponto, na foz do rio Iguaçu, onde os três países se apertam as mãos...

Sair da BR-277 era urgente e necessário, pois que o trânsito ali é intenso. Assim, logo na primeira oportunidade, segui pela rodovia do Xisto em direção a Araucária, pois que pela hora, teria que pedalar à noite para chegar em Lapa.

Lapa foi uma agradável surpresa, pela sua arrumação, sua História, seus monumentos, sua cultura. Lapa ficava a uma boa distância de São Mateus do Sul, portanto parada obrigatória para eu e Sofia, pois que pedalar de Araucária até São Mateus do Sul, só se fosse um caso de emergência, ou de competição; não nos enquadrávamos em nenhuma das duas...

Logo na saída de Araucária, o rio Iguaçu se nos apresenta pela segunda vez, agora mais forte, porém ainda não livre da poluição.

Foi um pedal também curto, tranquilo por estarmos num domingo, pois que a rodovia do Xisto (BR-476), também é movimentada.

Passamos por muita batata e cebola, e pelos verdes da erva mate. Em Contenda, como se um pequeno circo lonado, imenso churrasco na arena... O cheiro batia longe, acompanhando os vácuos dos grandes baús dos caminhões...

Chegamos em Lapa, próximos da hora certa de se almoçar; o sol estava firme, o calor também... Tomei um banho (procurem a Pousada Tropeira; tem um pequenino trem estacionado à porta), almocei e retornei para descansar, pois o corpo ainda reclamava da noite em claro, e do pedal anterior, isso mesmo, pois que no dia seguinte, em vez de seguir a rotina do ir para o trabalho, seguiu pela estrada carregado pedalando.

Contenda
Nosso corpo é uma bela máquina de adaptações; condiciona-se no descanso, prepara-se e se fortalece enquanto você dorme e sonha. Assim, se você pretende fazer uma viagem, estabeleça distâncias maiores depois do primeiro ou segundo dias, pois é dessa forma que o corpo é avisado para as diversas jornadas. Para quem pedala, nossos cafés da manhã aqui no Nordeste são mais fortes, por conterem as frutas que hidratam, por conterem a macaxeira, a batata doce e o inhame, bombas de energia... Ovos, gosto deles bem mal passados; também não os dispenso.

O almoço estava divino, espetacular porque unindo qualidade com a fome (procurem O Casarão); a cerveja de Santa Catarina, a Opa, pesada e consistente, mais carboidrato a juntar-se ao físico. Todo e qualquer passeio que faço, não importa a duração, nenhum energético entra em meu corpo, nenhuma química, por mais indicada para o esporte, penetra em meu castelo.

Acordei, olhei para o relógio, resolvi jantar alguma coisa. Peguei um agasalho, afinal estava acima dos 900 metros de altitude, e de dia o sol é uma coisa, mas à noite, a coisa é outra. Pela hora, já era noite, mas quando saí da pousada, precisei retornar para pegar os óculos escuros; terra maluca...

Deixei o jantar para lá, afinal, quem é que janta quando o sol ainda está alto? Fui passear, a serra do Monge estava em reformas e também já não daria tempo para subi-la e depois descê-la em segurança; preferi procurar sua igreja, normalmente obras antigas e bem trabalhadas. Do seu pátio, um lugar bem alto, saboreamos o paredão rochoso mais à frente, onde existem uma cachoeira e a gruta do monge, lugares a serem conhecidos sem nenhuma pressa...

Lapa tem um lugar de destaque na História do Brasil, e dessa História, muita coisa está presente e cultivada na cidade; dia seguinte, uma segunda-feira, feriado no município e desfile cívico em comemoração ao Cerco da Lapa. Aos que quiserem conhecer o tema, acessem o endereço:


Lapa também é a capital do Brasil dos carros antigos.

Conhecemos o Theatro São João, o Panteon dos Heroes, e quando Sofia viu a estátua do Jornalista Francisco Cunha, quis saber das novidades. Expliquei-lhe o que era ser uma estátua e dali partimos, não sem ela vez ou outra dar uma olhada para trás, conferindo... Quando passávamos pelos canhões abandonados pelos Federalistas, durante o Cerco da Lapa, Sofia não se conteve e me arrastou até eles:

- Sofia, isso não é uma bicicleta...

- Como não!?, não tem duas rodas..?

- Nem tudo que tem duas rodas, é bicicleta; você tem duas rodas, é uma bicicleta, é linda e não joga bombas em ninguém...

- Bombas?

- Sim, artefatos que destroem e matam, quando explodem... Você, minha linda, pelo contrário, prolonga a vida de quem com você passeia...

Saímos dali e fomos tomar um sorvete, observar todos aqueles carros que, em corso, circulavam pela rua das Tropas, afinal era domingo caminhando para o anoitecer, horário das coisas acontecerem, bares abertos, cadeiras e mesas nas calçadas, amigos reunidos em sorrisos, conversas muitas festejando, o fim de semana lapeano.

E foi lá que me perguntaram se eu era um General...

Generais não andam de bicicleta, respondi...

Enquanto pensava nas batalhas que já travamos eu e Sofia, a pegava e caminhava para dormirmos, afinal, o dia começava no dia seguinte, segunda-feira, muitos quilômetros, muitas subidas...

Por hoje haviam sido apenas 44,7 quilômetros, 448 metros em subidas acumuladas; estávamos em aquecimento...

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