O mundo é de escolhas,
certas...,
erradas...,
ou mais ou menos...
Na hora de responder,
não seja racional...
Não, não choveu... Lembrei quando trabalhei nos cafundós da selva amazônica, onde chove todos os dias, se não de dia, pela noite com certeza...
Não encontramos janelas, aquelas aberturas que se nos apresentam com imagens deslumbrantes, horizontes vistosos, mundos grandes a perder de vista; por isso poucas fotos...
E chegaram as grandes subidas, aquelas longas onde ninguém pode perder tempo, onde os mais lentos ocupam a terceira faixa, bem por cima do acostamento.
3 - você não olha para trás, afinal você controla o dragão pelo retrovisor, não lhe dando aquela segurança que ele gostaria de ter, para poder balizar entre você e outra coisa, para ver se consegue passar sem arranhar o veículo dele...
4 - você desconcerta o dragão, quero dizer, o motorista, que o vê dando sinal positivo com o polegar voltado para cima, braço esquerdo levantado, personalidade forte atuando, e você, de repente, de obstáculo, transforma-se em autoridade, em Delegado..., mas, atenção, portanto, ao som que lhe vem atrás, pois ele se transformará de agudo para o grave (desaceleração), sinal de que o respeito se fez presente, sinal de que ou ele passará ao largo, ou esperará a oportunidade certa para lhe ultrapassar.
5 - você, um Cicloturista, portanto sem aqueles fones perigosos no ouvido, terá se feito respeitar, e nesse momento, instante em que as velocidades foram baixadas para um patamar seguro, abrirá dando passagem, sendo camarada, educado e humilde. Garanto que ainda receberá uma buzinada em cumprimento...
Todas as minhas subidas por onde não havia o acostamento, deram-se desta forma, o que não diminui o estresse, pois que o futuro ainda não aconteceu, e porque não acontecia, ficava de prontidão, tenso para esperar um sujeito agressivo, ou dorminhoco, ou cristalizado, ou mesmo assassino, momento em que deveria estar pronto a me defender, jogando-me para fora do caminho dele.
Porto União da Vitória teve seu nome assim definido, por conta da descoberta de um vau pelo rio, onde a boiada podia atravessá-lo andando, encurtando o caminho da tropa. Por muito pouco, cerca de 150 metros apenas, não adentrei no Estado de Santa Catarina quando fui jantar, em Porto União, cidades coladas e entrelaçadas.
Já na ponte, sabia que deveria procurar a primeira entrada para o rio, para fotografar a igreja em forma de embarcação, ali descobrindo um mural a fazer referência à passagem da tropa pelo Iguaçu.
Ao chegar no Hotel Riad, às 3 e quinze da tarde, depois de pedalar 89,7 quilômetros, subir 880 metros durante o dia, queimado 4.777 calorias, em 8 horas e 13 minutos, enquanto conversava na Recepção, Dona Nayara apareceu sorridente e hospitaleira com uma garrafa d'água na mão, a me bem receber, a dar-me as boas vindas à cidade, a perguntar se havia feito uma boa viagem. Confesso que fiquei surpreso com a Primeira Água de minha vida, pois que em Recepções de Hotéis, primeiro atendem-se às formalidades.
A Primeira Água de minha vida...
(Paulo R. Boblitz - 10/fev/2015)

Brincávamos, fazendo um trocadilho, que a diferença de uma estação para a outra, era que numa chovia todo dia, e na outra, chovia todo dia, o dia inteiro...
Lembrando do barulho das araras e dos vinte e um, pegamos a estrada por entre o nevoeiro, lanternas vermelhas piscando em cada lateral dos alforjes, lanternas brancas piscando à frente; muito gostoso pedalar pelo friozinho; você sua do mesmo jeito...
Já iniciávamos subindo, sem nada aquecido...
O Sol sempre nasceu às minhas costas... |
Adiantando aqui para vocês, foi um dia muito quente, bastante cansativo, porque não somos máquinas, mas sim movidos a paixões, visões, emoções, e nesse dia, quase todas as subidas estressaram; foi um caminho sem sabor, sem as pitadas daquele humor que o fazem pensar, refletir, admirar...
Até Sofia parecia meio desencantada, logo ela sempre disposta, sempre pronta a me carregar, a instigar...
Aos poucos, o nevoeiro foi abrindo, a luz invadindo e mostrando um céu carregado, promissor, mas não passou disso, porque o sol a tudo esquenta, e afugenta...
Uma terceira faixa funciona assim: um caminhão lento sobe por ela, deixando livre a faixa normal para os mais ligeiros; em sentido contrário, descem mais veículos. Se tirarmos uma fotografia dos dois veículos que sobem, e do terceiro que desce, no ponto em que coincidem, as três faixas aparecerão ocupadas, sobrando espaço apenas para o vento, que passa por entre eles.
Agora subam comigo, a 4, 7, 9 quilômetros por hora...
Uma carreta, por mais pesada que esteja, lhe ultrapassa no mínimo a 20 ou 30 quilômetros por hora, e como demora essa ultrapassagem... Uma carreta, e se for aquela conjugada, abusa da Teoria da Relatividade...
Sabemos que as carretas têm contato com o solo, através de seus pneus. Então aquele trem passa esbaforindo, bufando e trepidando, e nada dos pneus... Lá atrás, finalmente eles chegam e todo aquele conjunto de ferro e madeira, deixa de intimidá-lo, mas você não respira, não se sente aliviado, pois que logo atrás da primeira, vem subindo a segunda...
Voltemos à fotografia... Se o espaço das três pistas já estava apertado pelos dois veículos que sobem, mais o veículo que desce, imagine então você pedalando espremido pela quarta faixa imaginária...
Bom mesmo é quando a gente já passou por isso... Eu nunca passei...
Vou explicar: meu espelho retrovisor é quem me livra de todas elas, essas situações de aperto...
Por favor, acompanhem-me:
1 - todo e qualquer motorista, inclusive você, foi e está condicionado a decidir se dá para passar ou não, aqui considerando a largura do veículo dele, a que ele já está acostumado. Mesmo de bicicleta, raciocinamos assim, pois não tentamos passar por onde não passamos.
2 - você está pedalando, sem espelho retrovisor, é bom lembrar.
3 - um veículo que se aproxima de você, por trás, o enxerga de longe, como obstáculo, como algo a amassar ou arranhar o veículo dele, até porque você está usando cores vistosas. Você as usa, não usa!?
4 - quando o veículo que lhe vem por trás, o avista, o seguinte procedimento ocupa a mente do condutor:
a) necessita desviar de você;
b) verifica o retrovisor dele para ver se dá para abrir distância de você (caso tenha bom senso);
c) raciocina balizando você como obstáculo, e a faixa amarela que divide as pistas, verificando se dá, ou não dá, para passar por entre os dois, você e a faixa amarela...;
d) obtém a certeza de que você ciclista o viu, quando você virou o pescoço para olhá-lo, portanto isentando-se de qualquer responsabilidade, por saber que você é agora um obstáculo consciente do perigo que ele, veículo, representa, portanto, confortável no pensamento de que "você estará se defendendo", espremendo-se e cuidando para que ele passe com tranquilidade, afinal você é o mais fraco...
5 - e você, subindo carregado, fazendo força, portanto instável em sua trajetória, brinca de Roleta Russa..., aquela brincadeira que ao encontrar a câmara do revolver vazia, continua seguindo em frente, rolando o tambor mais vezes, apertando o gatilho insano até que o chumbo exploda, deitando-o por terra infeliz...
1 - você não se espreme na quarta faixa imaginária, pois que você enxerga, como principal interessado, quem lhe vem chegando por trás.
2 - você é um obstáculo visível e contundente, afinal está ocupando o meio da faixa, está usando cores vistosas, está sinalizando com suas lanternas vermelhas (pelo amor de Deus, lanternas brancas só indicam que você não entende nada de nada!)
Foi mais um dia distante do Iguaçu, com muita retaguarda a vigiar. Foi mais um dia em que nos encontramos com o Iguaçu, ao final da jornada, onde muito calmo e sereno, nos dava as boas vindas para mais uma cidade que crescera em suas margens; águas que passam, e que jamais voltarão a passar...
Descobri que Nayara, linda e simpática mulher, também pedalava, também praticava essa boa arte de tornar cabeças, em almas alegres...
Maldita hora em que não concordei...
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