O pênis...


Na internet, tudo gira,


e girando, se repete...

Recebi uma piada,

já recebida em 2003.

Assim, o que na época escrevinhei,

agora repito para vocês...




O pênis...
(Paulo R. Boblitz - maio/2003)


Certo dia, recebi uma piada que retratava um homem conversando com o próprio pênis, onde ele afirmava que haviam nascido juntos, crescido juntos, brincado juntos e casado juntos..., terminando por chamar o pênis de sacana, por ele querer morrer primeiro...

Não sou psicólogo, mas psicologicamente falando, fiquei imaginando a cena:

O sujeito desenha dois olhinhos, um nariz e uma boquinha - sorridente?, fechada?, carrancuda? - bem..., isso é com vocês...

Aí conta a tal piada lá de cima para o pênis, que ficaria olhando para o sujeito, que nem cachorro quando nos escuta falar um monte de coisas estranhas, que ele pobre coitado não entende.

No caso do cachorro, ele pende a cabeça para um lado e fica prestando atenção, pisca duas vezes, endireita a cabeça, abre a boca e deixa cair a língua..., passa a língua de um lado a outro e fecha a boca..., pende novamente a cabeça para o outro lado, presta atenção, pisca outras duas vezes, endireita a cabeça, abre a boca e deixa a língua cair de novo.

O pobrezinho, sem nada entender, mas achando que estamos falando coisas agradáveis, dá dois latidos e parte para cima da gente, dando um pulo como quem quer nos acarinhar...

Aí a grande diferença: enquanto o cachorro consegue pular, o pênis permanece na mesma... Enquanto tentamos falar para o idiota do cachorro nos entender, ficamos como idiotas a falar para o pênis, que nem nos escutar escuta...

De qualquer forma, sem entender muito de pênis, tenho certeza de que a piada não reflete a realidade com precisão, uma vez que, de fato, nascemos juntos, mas amadurecemos de forma diferente. Esse negócio que hora mija, hora especula, hora ejacula e noutras horas pinga, tem vida própria e insana, e meio débil mental, demora para começar a funcionar, digamos..., lá pelos 13 anos... (no meu tempo era assim, mas acho que hoje em dia já começa lá pelos 8).

Aí, depois que sabe como funciona, mergulha de cabeça nas ginásticas da vida e não pára mais de trabalhar até os 22 - 30 anos, período em que esbanja energia e irresponsavelmente as queima por qualquer besteira - é um perdulário...

Indivíduo incerto e imprevisível, agora continua levando uma vida mais regrada, mas ainda impetuoso e gostando de agir como a cigarra daquela fábula.

De qualquer forma, cigarra ou formiga, o pênis não tem jeito - é um indivíduo duvidoso e traiçoeiro, pois assim como nos leva às alturas, pode também nos trair naqueles grandes momentos de expectativa e de longos trabalhos preambulares, nos vexando diante daquilo que chamamos de conquistas...

Cigarra ou formiga, ele tem seu tempo certo. Assim, sem essa de poupar para poder usar depois - é como o vento cheiroso que passa por nós, trazendo odores diversos que nos fazem pensar em relva, orvalho, em flores, em doces da vida que nos amaciam a alma, que como vem, passa adiante deixando-nos a lição do aprendido na memória do filme da vida, que costumamos não contar para ninguém...

A piada peca ainda, por tratar indevidamente a questão, pois que o pênis ainda continuará servindo para fazer xixi e de vez em quando, no acordar, revigorar as lembranças com o famoso tesão do mijo.

Discordo, portanto, com a abordagem que a piada fez ao tema.

Creio que o homem da piada é um completo egoísta, insensível, esquecendo-se facilmente das bravuras e bravatas do velho guerreiro, das tantas conquistas, embora com algumas covardias pelo caminho. Temos que aprender a respeitar os mais velhos e tentar entender que a idade mental tem ciclos diferentes: a nossa é solar, e a deles é solar e lunar, portanto muito mais intensa, inclusive trabalhando sob as mais variadas pressões e horários, sob as mais diferentes condições e posições.

Se pudéssemos, deveríamos imitar os nossos pênis, aí se incluindo as mulheres, pois quando eles começam a trabalhar, não tem embromação nem lero-lero, nem fofoca e nem sorrisos - é vai pra lá e vem pra cá, de vez em quando sai mas torna a entrar, valente esporra e bota tudo para fora, não leva desaforo para casa... Depois dorme como criança e angelicalmente aguarda pela próxima contenda.

Inválido, pois que já nasceu assim, necessita sempre de ajuda para qualquer coisa, ou da mão direita ou da esquerda, ou de mãos alheias a lhe bolinar, o pênis merece o nosso respeito, pois nunca o vimos reclamar, mesmo quando lhe ficam a gracejar ou debochar, como no programa do Jô, já faz muito tempo, ainda no sbt, quando demonstrando uma prótese, o colocou para cima, para baixo, para ambos os lados, culminando por parecê-lo em caracol.

Nunca foi soldado, mas bateu muita continência esse tarado, no nosso tempo muito usado, por qualquer brecha ou lance livre, hoje em desuso por causa das drogas, voltando a ser usado por conta de outras drogas, o danado retorna em evidência, deixando as "véias" esperançosas.

Como era boa a "calota do fusca", sempre limpinha e sem riscos, bem polida era um espelho, que distorcia um pouco eu reconheço..., mas para que serve a imaginação?

E as poças d'água? Hoje não existem mais, pois tudo é asfalto, e se existissem, não precisamos mais: é só irmos à banca de jornais, ou simplesmente assistirmos televisão.

Sacana? Coisa nenhuma...

Que tal arrumarmos um panteão para quem tanta confusão já arrumou, para quem tantos suspiros já arrancou, para quem tantos bebês já configurou?

Quando chegar a hora do meu velho amigo, companheiro sempre bem guardado, as botas querer pendurar, vou olhá-lo com carinho e gratidão, vou encerá-lo, deixá-lo brilhante reluzente, e numa homenagem galante, agradecê-lo e diplomá-lo, libertando-o da ereta responsabilidade, da dura pena de se fazer gozar...

Vamos os dois, descansar...

* * *

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