Não há sacrifício, que não renda bom bocado...
O Tempo que passa, um dia será lembrado,
bem no cantinho do coração...
Greenville
(Paulo R. Boblitz - mar/2010)
Para a amiga distante.
O oceano há muito que a tudo dominava; em qual direção olhássemos, apenas água..., apenas ele a nos mostrar o quanto somos pequenos...
Eu largava o aconchego e partia em missão, mais uma dentre tantas que já havia participado, mas esta era diferente; eu estaria em lição, a aprender coisas novas, a assimilar novos segredos...
Olhei o meu diário e lá estava a página onde eu havia anotado o compromisso; passei um risco sobre a palavra "viagem", como passamos sobre tudo aquilo que já resolvemos; seriam alguns meses fora de casa, o tempo que fosse necessário...
Compromissos haviam sido adiados, promessas quebradas, vontades domadas, pois o dever, sempre ele, devemos em primeiro lugar...
Terra distante, terra dos outros, terra estranha...; teríamos que conquistar a todos, pois ali seríamos convidados...
Olhei para a carlinga e vi os dois, piloto e co-piloto ocupados...; detinham um grande mapa entre os dois...
Olhei em redor e vi o Técnico em instrumentos...; lia um grosso manual...
Apenas eu a bem pensar, a matutar os próprios botões...; meu casamento ficara para depois...
Levantei e fui fazer um café, e quando o cheiro forte se apossou de todo o avião, um a um virou-se em minha direção, como se convidando a receber um pouco, pausa para um pequeno conforto...
Sorri para eles e despejei numa xícara para cada um, o fumegante expresso saboroso, vindo diretamente do Brasil, terra que um dia conquistamos, reinamos e povoamos...
Por instantes olhei para o oceano lá embaixo, aquele mesmo em que Pedro Álvares Cabral singrou, em latitudes abaixo do Equador, descobrindo para o nosso orgulho, um verdadeiro paraíso, onde mora um bom amigo, não tanto assim, pois só nos escrevemos poucas palavras de vez em quando...; ele deve estar pedalando neste momento..., ou então, escrevendo alguma coisa...
Preciso comprar uma bicicleta...
Entreguei as xícaras de café quentinho a cada um, recebendo belos sorrisos, grandes elogios, de minha nova família pelos próximos meses...
Agora, a única sem nada a fazer é quem mais teria que aprender, combinar os tantos novos sinais, cruzar as tantas novas informações, nas tantas telas dos computadores instalados, tecnologia de última geração, a ser utilizada na guerra e na paz, na morte e no salvamento...
Em mim seriam dirigidas as atenções, minhas coordenadas anotadas, minhas observações sobre massa, volume ou profundidade, levadas em consideração, para a grande matilha despejar seus horrores, ou em casos mais amenos, a equipe de socorro chegar em tempo...
Pilotos apenas conduzem, Técnicos apenas reparam, mas a mim cabem as interpretações, se sim ou se não...
Bebi meu café e fechei os olhos; o ronco dos motores era suave, a trepidação estava longe, os solavancos estavam aquietados, e lembrei das despedidas..., da mãe, do pai, do irmão, do noivo que estava chateado, pois mais uma vez o casamento adiado...; a saudade apertou, como apertaram minhas pálpebras do choro...
Do amigo eu lembrava o consolo: não é o fermento pela boa espera, que belo faz o pão? Não é o sal que bem denota o doce?
E agradeci à boa lembrança do amigo: tudo passa...
Peguei no sono e quando acordei, alguém me sacudia pelo ombro; estávamos próximos de Greenville...
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