Montado no próprio negócio

O trabalho requer suor, e a vida requer trabalho...

Suando vamos trabalhando, imaginando e descobrindo,

desbravando e inovando, agradando a quem servimos,

recebendo pelo trabalho, gerando vida e mais amores...

Bicicleta também é sucesso,

e sucesso é o que desejo para vocês.



Montado no próprio negócio
(Paulo R. Boblitz - nov/2009)


Por certo já observei muitos negócios, mas, tendo a visão um pouco obliquada para as bicicletas, passei a enxergá-las com mais cuidado, e comecei a descobrir um mundo empresarial que gira literalmente sobre duas rodas...

Não estou aqui me referindo aos que se utilizam das bicicletas para o ir e vir, seja lá para o lugar que for, mas sim aos que apresentam e negociam seus produtos, montados na ditas cujas, agora gordinhas pelas cargas transportadas.

Tiramos 100 gramas de nossos equipamentos, e já nos damos por orgulhosos, inclusive comentando com os amigos, dando as dicas e detalhes.

Nossos outros amigos, anônimos sempre de passagem, normalmente sem pressa, se podem, colocam a cada dia mais carga...; é por exemplo aquele tipo de pastel com algum outro recheio diferente dos que eles já vendem, como o de queijo ou carne moída, ou, o novo sabor de suco que é transportado aos litros, e cada litro pesa um quilo...

Estão sempre sorridentes, atendendo clientes que não se dão conta do fardo ali em frente, transportado todos os dias o dia todo, amainando conforme o estoque vai findando.

Já vi bicicletas de "Som", e me pus a imaginar a quantidade necessária de energia para manter um negócio desses em movimento... Na frente, uma caixa de som tamanho bem grande, alto-falantes voltados para a frente e para os lados, um lugar para algum "folder"; atrás, outra caixa de som com as mesmas bocas de ferro, pois o negócio é esse mesmo, divulgar algum anunciante que normalmente está pelas proximidades, observando a qualidade do serviço sendo prestado.

Som não sai de graça, portanto existe uma bateria automotiva por ali em algum lugar, dissimulada e bem pesada; no guidão, os controles de graves e agudos, altura e liga/desliga; já vi um que tinha também a entrada para o microfone, outro item também pesado.

A bicicleta e a roupa também não deixam por menos, pois precisam, através dos enfeites, chamar a atenção para o negócio que, pela penetração, necessita se locomover, e aí entram os pedais, giros e mais giros para todo mundo ser alcançado...

Nunca mais vi aquelas de Padeiros, onde o baú, suportado pelas duas rodas dianteiras, era o próprio guidão, baús imensos com uma tampa abrindo para o lado, tudo em alumínio, um peso adoidado, freio contra-pedais...; quando menino, experimentei uma carregada, do padeiro que pontualmente nos trazia o pão do dia; só consegui seguir em frente, mesmo assim por poucos metros...

Outro dia, observando o meu amigo Agnaldo, 53 anos, um Faz-tudo que passa o dia inteiro rodando pela área, reparando coisas, montando coisas, desmontando outras coisas, enfim, pedalando aquela geringonça com sua mala de ferramentas tamanho família obesa..., 60 cm por 50 cm, transportando furadeira, parafusos, chaves diversas, alicates e outro montão de apetrechos necessários, pedi para dar uma voltinha...

É uma bicicleta cargueira, na traseira uma roda normal com um bagageiro convencional mais largo, na frente uma diminuta, para que o bagageiro, uma estrutura tubular, possa carregar a carga propriamente dita.

Logo no início estranhei, quando senti o peso todo deslocado para a frente... O bagageiro também serve de descanso, uma outra estrutura também pesada, a dar sustentação ao conjunto todo.

Algum de vocês já deu uma volta numa Harley-Davidson, das antigas? Pois a bicicleta do Agnaldo é a própria Harley-Davidson das bicicletas... Fora do descanso, ela quer cair para um lado, ou para o outro, e não adianta tentarmos equilibrá-la entre as pernas...; caímos junto com ela...

Olhei para a cara sorridente do Agnaldo e dei partida..., nos pedais! Saí com uma espécie de Mal de Parkinson, numa tremedeira desenfreada, pois enquanto eu equilibrava para um lado, a bicicleta puxava para o outro, e na compensação, tudo voltava e se invertia, para uma nova compensação, claro que sob as risadas maldosas do Agnaldo, que parecia curtir com a minha cara...

E ele passa o dia inteiro pedalando aquela coisa...

Já vi muitas bicicletas engraçadas e desajeitadas; garanto que todos vocês também já viram, e de agora em diante, poderão prestar melhor atenção, pois só quem pedala, sabe o que uma parada produz nas pernas...; vamos ao zero, para recomeçarmos tudo outra vez...

Imaginem então, o que é provocarmos uma parada num ciclista-empreendedor, ou ciclista bem carregado, quando bastaria que diminuíssemos um pouco a nossa marcha, dando prioridade ao que já está penoso, e depois apertarmos novamente aquele pedal da direita que faz o motor rugir mais alto...

É maldade, das grandes...; é falta de consideração, é falta de bom senso, de educação, de cortesia, de cidadania, é falta de uma porção de coisas, e é excesso de arrogância, pedantismo, não respeitar aquele que bem luta para ganhar a vida...

Quando vejo um trabalhador numa dessas bicicletas, fico pensando no que eles fariam numa moderna bici esportiva MTB...

Creio que subiriam até coqueiros...

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