Apertando o passo...


Bicicletas, brincadeiras, amizades..., nada disso tem idade...

Nem tampouco a imaginação, ou o jogo sujo, a depender da aposta...

O importante é sorrir, é troçar, é divertir se divertindo...




Apertando o passo...
(Paulo Boblitz - mai/2009)


- Vamos, minha filha... Não dá para ir mais ligeiro?

- Olha só!, todo mundo nos deixando para trás...

- Também!, pesada como um trambolho!; até parece um cambão!

- Créec, créec... - ela respondeu...

Ainda pude ver o último capacete, desaparecendo após a subida suave... Eu teria que adotar alguma estratégia...

Fiz força, bufei, ela gemeu mais um pouco, e fomos galgando juntos, aqueles tantos metros que nos separavam da gandaia...

Enquanto subia, imaginava os faroleiros já desembestados em franca descida, distanciando-se mais ainda de mim, com tantas tecnologias de ponta sobre duas rodas...

- Créec, créec, to-troc...; créec, créec, to-troc... - coitadinha, ia resfolegando pior do que eu...

Finalmente, o alto conquistamos... Agora era só deixar na banguela... Freios!?, pra quê?, se a danada já não andava..!

E sentindo o pouco peso, apertei os lábios e empurrei ver...; eu os apanharia agora, pois deviam estar a julgar-me ainda subindo...

E o vento foi aumentando, a velocidade crescendo, a descida maior do que a subida, pois estávamos indo em direção ao mar..., logo ali na minha frente, estendendo-se manso de longe, azul belíssimo com bigodes brancos...

E quando eu já estava enfogado, sentindo o sabor da surpresa, gritos de uma sombra surgiram, malandros descansando, bebendo água enquanto eu bufava!!!

- Com essa, ninguém te pega..! - gritou um descansado...

- É de última geração!, fibra de carbono! - e caíram todos na risada...

Mandei-lhes um cotoco bem dado, sorri esperto e mais apertei, e rezei para que a vermelhinha não desacorrentasse, agüentasse firme a ladeira, e chispei dali o mais rápido que pude...

- Cré-cré-cré-cré-cré-cré... - fazia a coitadinha entrevada..., e para rimar, abri levemente a boca e numa nota só, na trepidação das cordas vocais, fui cantando: bra-la-la-le-le-i-i-la-la-e-e-e-a-a-a-a a r r r ...

Quem nos visse passando daquele jeito, bem pensaria: dois malucos descendo em carreira, um em cima da outra...

Quando os folgados entenderam o que eu fazia, estabeleceu-se um corre-corre, com as mochilas, garrafas de água e retomadas de bicicletas, e até que saíssem daquela areia frouxa, eu já estaria bem longe..., bem longe quase chegando, enquanto o magote em carreira apupando, aquilo que já não tinha mais jeito..., aquela areia na minha frente branquinha, fofinha aguardando...

Era só apertar de leve o freio, escutar as tamancas gritando, e parar fosse onde fosse, mas de bom jeito...

Apeei-me e os aguardei, um a um chegando, nenhum com o sorriso igual ao meu...

Na volta, antes vou ter que esvaziar os pneus de todos eles...

* * *

Um comentário:

  1. Tomei a liberdade de publicar seu texto no meu FORUM de ciclismo, naturalmente com a citação do seu Blog.
    Veja aqui como ficou:
    http://forum.ciclismo.esp.br/cronicas-f47/apertando-o-passo-t279.htm

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