Mundo sem cabeças

É! Eu não sei onde estava com a cabeça..., mas enfim saiu e está aí embaixo.

Cabeça é algo que sempre carregamos, e em certos momentos, não a utilizamos.

Como cada cabeça é uma sentença, pensem vocês...



Mundo sem cabeças
(Paulo Boblitz - set/2006)


Viver num mundo sem cabeças, é algo complicado. Outro dia, peguei a minha cabeça, coloquei debaixo do braço, e saí andando descompromissado pela minha folga. Enquanto andava, o mundo cada vez mais se distanciava, e descobri que havia me colocado olhando para trás.

Algumas vezes, forçado pela pressa, acabo me posicionando com a cabeça para baixo.

Além de complicado, há também um inconveniente: ficamos sempre com um dos braços ocupado.

Por vezes, encontramos com algum amigo pelo caminho, trocamos cumprimentos com o apertar de mãos e, conforme a posição das cabeças, sorrimos ou não, ou precisamos nos virar de costas para um cumprimento mais formal, tipo olho no olho, ou até mesmo trocar a cabeça de braço, se não, podemos acabar trombando com elas.

De certa forma é um sistema embaraçado, esse negócio de andar com a cabeça fora do pescoço, pois algumas vezes a gravata acaba voando com o vento. Outras vezes, algum engraçadinho a traz escondida nas costas, dentro de uma mochila, e fica parecendo com o verdadeiro homem sem cabeça, mantendo pois, ambos os braços desocupados.

Exibicionistas..., ficam andando para cima e para baixo de bicicleta...

Quando toca o telefone celular, estando o aparelho no bolso das calças ou preso na cintura, dependendo de qual braço segura a cabeça, necessitamos nos contorcer para pegá-lo e levá-lo até a orelha. Um dia o meu tocou e logo atendi:

- Alô!?

- Crouxs-squi, ixquie..., shlesp glock...

Logo matei a charada e vi que só podia ser o meu amigo Lelé. Devia estar chupando o celular de novo, quando com algum dente apertou aquela tecla "call", que completa as ligações...

Sorri lembrando que Lelé é meio maluco... Ele ficou assim quando treinava para ser jogador de basquete. Num lance mais afoito e disputado, acabou por jogar a própria cabeça na cesta, ao invés da bola. Ele fez a cesta de três pontos, e o adversário, com raiva do drible, deixou que ela caísse no chão, de propósito.

Às vezes eu tento inovar, colocando a cabeça sobre os ombros, mas ela sempre ameaça cair.

Outro dia eu precisei fazer alguma coisa no meio do caminho, dessas coisas que fazemos utilizando os dois braços, e tive que pedir auxílio a um amigo para que a segurasse um pouco. Ele segurou, mas desligado como sempre, acabou levando a minha cabeça embora. Foram momentos de muita aflição, e de gozação também, pois não foram poucos a me lançarem críticas e conselhos.

Perder a cabeça?, nunca mais... Agora eu só ando com ela amarrada, como andavam aqueles relógios antigos de algibeira.

De vez em quando, ao acordar, pego a cabeça da esposa por engano e só descubro quando me olho no espelho. Como sempre acordo primeiro, ela normalmente costuma não notar; aí eu vou lá na cama bem devagar e destroco.

Nesse nosso mundo em que não existem forcas e guilhotinas, carregar embrulhos é um suplício, e aquela moda da gola rolê nunca pegou...

Aqui, dizer que cabeças vão rolar, é tabu. Confusão é quando um ônibus lotado arranca ou breca de repente. Martelar um prego na parede, é complicadíssimo sem ajuda.

Se um mundo sem cabeças já é difícil imaginar, acabar essa história então..., só escrevendo FIM.

* * *

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