O assento de minha privada

Quanto mais fazemos, mais coisas aparecem para tratarmos.

Mais problemas necessitam ser resolvidos.

Menos tempo acabamos tendo, para mais coisas inventarmos de novo.

Mas é assim o dia, que de cansaço em cansaço, nos produz alegrias.

Bons sonos existem para os bons sonhos criarem, novas idéias do produzir...

E tudo é uma questão de oportunidades...

E Trilhas com poesia não é um Diário.



O assento de minha privada
(Paulo Boblitz - mai/2009)


Quando eu era menino, ele era de madeira. Por isso, quando entrávamos no banheiro, mamãe logo gritava:

- Levanta a tábua! Levanta a tábua!

Cabe aqui um esclarecimento: nós homens temos o que comumente chamam de pinto, e ele, resguardado que é, quando se depara com aquela boca do vaso escancarada para ele, parece ficar desconcertado. É a única explicação prática para tantas mijadas fora do vaso...

Hoje são todas feitas de plástico, acolchoadas, pois não deixa de ser um momento de confortável relaxamento.

Há pelo menos umas duas semanas, eu vinha sendo beliscado pela emenda que ela traz, como se um equador, separando a parte de baixo da parte de cima, onde sentamos. Esse é o defeito de todas elas, romper aquela emenda.

Acontece que temos nossas prioridades, e o novo assento do vaso foi ficando, hora esquecido, hora impossível de ser procurado...

Cada beliscão significava uma lembrança para comprá-lo, e já estava produzindo irritação, na cabeça e no lugar beliscado...

Ontem, finalmente o comprei, não que eu tivesse ido na loja para fazê-lo, mas lá chegando atrás de uma ferramenta, verifiquei que ele e todos os irmãos dele estavam me olhando com aqueles olhos arregalados que todos eles têm.

Tinha o mais caro, tinha o mais barato, mas acabei comprando o mediano... Cheguei em casa, livrei-me da tralha e fui logo instalá-lo, descobrindo que os joelhos já não são mais meus bons amigos. A posição é difícil, pois as porcas que o firme seguram, ficam devidamente embutidas, mas nada assim tão difícil, e como num passe de mágica, tra-lá-lá!, olha eu já nele sentado, experimentando o acolchoado, ouvindo aquele ventinho "fuuuuuu", escapando por uns furinhos escondidos.

A esposa estava no computador da nossa filha, e carinhosamente a ela dei a boa notícia:

- Mulher!, comprei uma tampa nova... - e fui desvencilhar-me de minhas roupas para um bom banho, quem sabe até uma inauguração, mas já sabendo que a esposa é quem iria inaugurá-lo, pois mulheres, para tudo o que fazem, necessitam sentar...

Tomei o banho e fui para a cozinha, matar a quem me matava, e quando eu estava com a faca e o queijo, já feliz mordiscando, a esposa apareceu reclamando:

- Mas ela é branca!

Levantei e fomos juntos verificar, interrompendo aquele lácteo prazer.

- Mulher!, o vaso não é tão marrom assim, né?

Diante daquele olhar incompreensível, ainda ponderei:

- Olhe para a porta... Olhe para o teto... Também são brancos! Estão a combinar!

Ela fez que não com a cabeça, girou o dedo indicador na orelha, virou-se e foi embora. Não sei por quê, mas acho que ela não gostou..., mas também ela é sempre do contra; não seria a primeira vez...

De madrugada, levantei para aliviar a bexiga e, antes mesmo de acender a luz, verifiquei aquela coisa branca me encarando... Pelo menos um ponto positivo eu já havia encontrado: fácil localização no escuro, como se fosse uma sinalização para ninguém perder o vaso...

Enquanto ia me desfazendo, ia também pensando: "em noites de Lua cheia, teremos que dormir com a porta do banheiro fechada..."

* * *

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