Aracaju - Paripiranga na Bahia - Aracaju

Um final de semana,

tempo suficiente para ficarmos ocupados,

117 para ir, 115 para voltar...


Aracaju - Paripiranga na Bahia - Aracaju
(Paulo R. Boblitz - 19 e 20/jan/2013)

Quando voltávamos de Lençóis, resolvemos passar em Paripiranga para deixar o Aldo em casa, alterando pouca coisa do percurso de volta, pois era quase caminho. Já de noite, outras pizzas para matar as nossas fomes.

Fazia frio da aragem que subia do vale, lá de Simão Dias já em Sergipe, 7 quilômetros dali distante, que avistávamos toda acesa.

Paripiranga está acima dos 400 metros em relação ao nível do mar, e na época do frio, faz frio realmente, claro que aquele frio referente a nós nordestinos, numa terra normalmente sempre quente.

Lembrei da Amazônia, dos 4 ou 5 dias de Friagem, quando o frio descia dos Andes e nos vinha visitar, normalmente nos mêses de julho.

As pizzas estavam gostosas, afinal a nossa fome é quem media tudo o que ingeríamos, mas tínhamos que prosseguir. Despedimo-nos e fomos embora.

Já dentro do carro, iniciando a descida para Simão Dias, decidi que ali voltaria pedalando, cerca de 120 quilômetros de Aracaju. Rogério levava a bicicleta do Aldo para a revisão em Aracaju, e quando ele fosse buscá-la, seria um bom dia para pedalarmos novamente.

Um jantar estava programado na casa do Rogério, para comemorarmos o nosso feito, os 5 dias até Lençóis, na sexta-feira 11 de janeiro, mas havia pegado uma forte gripe e por isso, o jantar transferido para a outra sexta-feira, 18 de janeiro. Do trabalho segui direto para a casa do Rogério, pois seria eu a fazer, com a ajuda de Bibi, esposa dele, deliciosas panquecas, prato muito difícil da culinária simples, quando sabemos apenas passar a manteiga no pão. Três copos de leite, três ovos, dois copos e meio de farinha de trigo e muito liquidificador, mas um aviso: sempre cheiro o ovo antes de lançá-lo à receita...

Frigideira no fogo, azeite a postos, prato raso de prontidão, Dona Bibi com uma grande faca a fatiar o recheio, queijo e presunto, lanço a primeira concha de massa, que chia e estala enquanto vou inclinando a frigideira para que a panqueca fique bem redonda. Se fosse há algum tempo atrás, eu conseguiria virar a panqueca no ar, mas estava destreinado na casa dos outros, resolvendo não arriscar. Douradinha de um lado, douradinha do outro, passei a bola, digo, panqueca, para a Dona Bibi, que logo a enrolou com bastante recheio por dentro, arrumando-a num refratário.

Foram três grandes refratários repletos de panquecas bem apertadas, com molho de tomate e com molho branco da casa, cobrindo tudo e dando o toque elegante que faltava.

Bibi havia preparado uma espécie de rocambole salgado, também recheado, por cima um molho branco, portanto, podíamos chamar de jantar das massas, onde cada um teria o direito de sair devidamente empanturrado, a depender de quanto quisesse comer.

Aviso: essa crônica atrasou um dia, para que eu pudesse saber o nome correto da receita da Bibi: Rondele com recheio de peru.

Enquanto cozinhávamos, Rogério dançava com sua caçula de 4 anos, músicas folclóricas alemãs e italianas, porque eles são bem lá do sul.

Para o jantar estavam convidados o Aldo (a esposa havia ficado em Paripiranga), o Tato que veio com a esposa Eliana, o filho Paulo Henrique, e o filho Fernando Henrique que trouxe a esposa Iris; agora era a minha esposa Ivete quem estava gripada. Chegaram todos bem tarde, a despeito de minha fome que rugia desenfreada. Terminamos também tarde, o que não seria bom para o dia seguinte, sábado em que eu e Aldo seguiríamos para a cidade dele. Nos encontramos no mesmo posto de gasolina, quando partimos para Lençóis, e às oito e dez da manhã, socávamos as botas...

Quase na saída de Aracaju, um jovem cavaleiro cavalgava sua bicicleta diferente em nossa ciclovia, mas notando-nos, deu-nos passagem com cortesia.

Quase 11 horas em Itaporanga d'Ajuda, onde tomamos uma jarra de suco de abacaxi. Meio dia em ponto, almoçando em Salgado. Oito quilômetros depois, na Colônia 13, com suas frutas coloridas nos assaltando as vontades. Quase três da tarde, depois de um breve banho de chuva pouco antes de Lagarto, paramos porque o Ulisses Freitas, o Gladiador, um ciclista cadeirante, amigo do Aldo, nos vira na rodovia, quando deu meia volta e junto da esposa, nos fez sinal e paramos. Ele havia visto a publicação do Aldo no Facebook, quando de nossa parada em Itaporanga. Aldo me contou em rápidas palavras, a tragédia do amigo, que a tudo superou e hoje é um campeão, preparando-se para as próximas Paraolimpíadas.

São as coisas que a vida não nos dá explicações, mas faz acontecer, para dores, muitas dores que convivem, tentarem ensinar-nos alguma coisa... Sua história está no seguinte endereço, exemplo forte para os que podem e nem chegam a tentar...

http://inclusaosergipe1.blogspot.com.br/2012/02/um-encontro-com-o-gladiador-cadeirante.html

Pensativo acompanhei o Aldo, que parou numa bela Quitanda cheia de frutas, mas eu não queria nada. Aproveitei para lavar os óculos escuros; não faltava muito para Simão Dias, mas cerca de 4 e vinte da tarde, paramos para desfazer o nó que a corrente do Aldo havia feito, coisas difíceis que não chegamos a entender como podem acontecer, mas que acontecem, podem crer...

Força para lá, força para cá, a corrente voltou para o lugar decente donde nunca deveria ter saído, e seguimos confiantes para logo chegarmos em Simão Dias, 4 e vinte da tarde bem nublada, onde paramos para descansar e comermos um sorvete, mas chegou um carro e com ele, seu som... Perdoei o cara porque ele criou coragem e me perguntou de onde vínhamos, tornando-se espantado com a resposta, continuando a beber sua cerveja enquanto partíamos...

Precisamente às 16 horas, 58 minutos e 50 segundos, cruzava a divisa de Sergipe com a Bahia, segundo o Google Earth, mas segundo a placa que indicava tal divisa, isso só ocorreria às 17 horas em ponto, mais 47 segundos, onde realmente parei, pois meu GPS assim o indica, e aliviei a bexiga, nada a ver com marcação de território...

Paripiranga estava bem próxima, pois já a avistávamos no alto da ladeira, uma subida leve, porém constante, que nos elevaria quase 200 metros...

- Aldo!, onde consigo comprar um bom vinho? - perguntei

- No ponto mais alto da cidade... E para lá rumamos, onde peguei um Santa Helena, seco, chileno, meu prêmio naquele dia...

De lá, rumamos para a Pousada Vitória, agora só descida, passando pela casa do Aldo onde mais tarde haveria uma saborosa Lasanha no forno, nos aguardando... Tomei um banho, deixei arrumada a tralha já para o dia seguinte, e encarei o sacrifício de comer uma comida caseira gostosa, uma divina lasanha de muito frango que repeti, preparada pela Sheyla, esposa do Aldo, ao som de duas crianças que assistiam Patati, chamando-me de Tio e contando suas bravuras de não mais de 5 anos cada uma...

No caminho até a casa do Aldo, passamos por uma igreja antiga onde haveria um casamento, promessas diante do Pai, vidas novas pela frente...

Cansado, voltei para a pousada e dormi gostoso, acordando com o sol, clarão indiscreto que nos inunda os olhos, mostrando-nos que a vida segue. Tomei um banho e um bom café sortido. Na recepção, fotos orgulhosas posadas junto ao Padre Zezinho e à Paula Fernandes, além de outras personalidades, afinal, o melhor hotel de Paripiranga, precisava fazer uma boa propaganda... Para quem se interessar, o telefone é (75) 3279-2487.

O dia havia sido ganho. Havíamos pedalado 117,92 km, em 8 horas e 58 minutos, queimando 7.363 calorias, em 1.440 metros em subidas acumuladas.

Dia seguinte, Aldo estava lá, aguardando minha partida, acompanhando-me até a saída de Simão Dias. A ele, restava de volta uma gostosa subida; para mim, restava uma longa travessia, agora preocupado, pois surgira um barulho esquisito na minha roda traseira. Aldo posicionou-se em ângulo, mas não conseguiu ver nada diferente. O barulho só mais aumentava e preocupava...

- Boblitz, se você não conseguir, ligue para mim e vou lhe buscar...

Enquanto ele falava, eu mirava dois símbolos de valentia ali à minha direita. Lancei-lhe um sorriso e informei que tinha o sangue ruim; em Lagarto, com certeza, conseguiria ver o que era... Por cerca de 30 quilômetros, encarei o CRÉC-CRÉC que subia canote acima, refletia nos dois punhos do guidão, intrometendo-se pela corrente até os pedais, pedalando com muito carinho, principalmente nas subidas que havia de encarar...

Cheguei em Lagarto, ainda muito longe de casa, e a primeira oficina aberta que eu vi, num pleno domingo, reconheceu que não tinha peças para recuperar minha boa calma, mas, à frente eu encontraria outra oficina, lado esquerdo da rodovia, que sinceramente resolveria meu problema. Agarramo-nos aos otimismos, e seguimos confiantes à frente; de fato a oficina estava lá, mas o tempo do mecânico não me era favorável... Indicou-me pelo menos umas três oficinas, depois da Rodoviária de Lagarto, e para lá segui. Na primeira, na Júnior Bike, achei que fosse uma oficina, porque ele estava lavando os pneus de uma bicicleta de cabeça para baixo, com muito sabão. Parei e dei sorte; ele tinha as esferas do meu cubo, que, facetadas, produziam forte barulho e intranqüilidade. Mostrou-me sua loja bem sortida, reparou o cubo e desejou-me boa sorte. Por certo ainda pedalaremos juntos algum dia, quando for para aquelas bandas novamente.

Faltando quase 10 minutos para as 11 horas, montava e partia novamente, desta vez macio sem nenhum barulho intrometido. A fome já apertava, mas dava para chegar em Salgado. O domingo estava muito quente, o sol apertando, o asfalto devolvendo...

Quase 12 e quarenta, apeava no mesmo restaurante que havia almoçado no dia anterior. As duas mocinhas sorridentes lembravam de mim, bem me recebendo para outro almoço.

Encurtando a história, faltavam quase 10 minutos para as 6 da noite, quando finalmente cheguei em casa. Havia pedalado 115,04 km, em 8 horas e 20 minutos, consumindo 7.545 calorias, e embora descendo, subindo acumulado 1.059 metros.

Gostei de Paripiranga, do caminho até lá, das frutas das cidades, das subidas que nos vão arengando. Voltarei lá...

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