Qual a diferença de tua noturna balada,
para a minha suada noturna pedalada?
Sim, ela existe, e é muito grande...
Enquanto a balada, em sorrisos, vai contra a saúde,
fluímos nos pedais, em sorrisos, a favor da saúde...
Trilha noturna em Nossa Senhora das Dores
(Paulo R. Boblitz - 26/jan/2013)

Comi bastante poeira sim, mas estive feliz.
Já na ida, acompanhando o Ricardo Hsu, ia namorando uma ladeira, uma looonga subida, e absorto fiquei para trás. Acordei com a ligação do Hsu, perguntando onde eu estava... Apertei o pé e mais um pouco encontrava com todos, parados num posto de combustíveis à entrada de Dores.
Na verdade o que eu queria mesmo era ter ido pedalando, fazer a trilha, descansar numa pousada e no dia seguinte voltar pedalando, mas meus dedos mínimos e anelares ainda estavam adormecidos do pedal até Lençóis. Isso acontece com pedais longos, por comprimirmos os nervos ulnares no guidão, desaparecendo o formigamento aos poucos, com o tempo.

Hsu e Rodrigo criaram o OVER 100 KM Mountain Bike Team, uma dureza acompanhá-los, mas Hsu quando me convidara, havia informado que seria em ritmo de passeio. Ele já sabia que eu conseguiria chegar onde ele chegasse, mas com o meu ritmo, e acabei não dando muita bola para o aviso, mas sorri quando alguém lá no passeio, já todo quebrado, o questionou:
- Hsu!, você não disse que era um passeio?
E Hsu respondeu:
- Eu não disse que era um passeio. Eu disse que era em ritmo de passeio...
Três dos integrantes, Rivaldo, Victor e Rui, foram pedalando de Aracaju até lá. O restante, havia ido de carro.
De Dores, participaram:
Nilson, Valdenor, Edmilson, Almir e Vismonde
De Aracaju, fomos:
- Hsu, Emanuel, Samuel, Luciano, Alécio, Lealdo, Adelmo, Rodrigo, Rivaldo, Victor, Rui e eu

O início da minha trilha foi tenso, porque meu farol não estava assim tão forte. Meus pneus também ricocheteavam nas pedrinhas redondas do estradão. Parei e enfiei a unha em cada pito, secando-os mais um pouco. Agora era questão de acostumar os olhos à modesta iluminação da Lua cheia, cuidando dos buracos e das valas, das areias frouxas que logo apareceram, das pedras maiores, curtindo a temperatura gostosa que passava em sopro...
O céu estava esbranquiçado pelas nuvens altas, ralas como um grande véu, escondendo todo o firmamento; não consegui ver a Via Láctea, mas vi Feira Nova, São Miguel do Aleixo, a própria Dores, N. Sra. Aparecida, Ribeirópolis, Itabaiana e parece-me que também Moita Bonita, ilhas luminosas num oceano escuro, onde só a prata da Lua aparecia, para quem para ela olhasse...
Ao longe as luzes amarelas boiavam na imensidão que as cercava, pérolas de um grande rosário onde a vida já quase dormia. Olhei a hora, mais de 9 e meia da noite...


Subir no outro lado também não foi fácil, pés encharcados chapinhando dentro dos tênis, pedais estreitos com peças plásticas cobrindo os tacos. Não arrisquei de novo, desci e empurrei... Na verdade, toda subida em que minha roda dianteira empina, não discuto com ela, não perco tempo em querer domá-la. Não estando em competições, desço e empurro, até porque faz bem ao coração, à circulação das pernas...

Montei e continuei, chegando finalmente no último povoado antes de Dores, mas ele tinha logo na entrada, uma bifurcação, daquelas que se escolhermos a errada, damos com os burros, com os jegues, com os cachorros, bem dentro d'água. Sozinho no escuro, numa terra estranha, embora tentado a seguir pela da esquerda, a do coração, pensei melhor e resolvi esperar. Primeiro foi um, depois mais outro, e um terceiro e daqui a pouco, a cachorrada inteira do povoado se achegando para mim, todos latindo indignados, de todas as direções, portanto difícil de tomar conta só de um. Um encorajando o outro, ou um querendo ser mais valente que os outros, o certo é que o limite da segurança estava prestes a ser ultrapassado. A bicicleta estava encostada num pequeno cruzeiro, então bruscamente dei três passos para a frente e abaixei-me para pegar uma pedra, e de fato peguei, tornando-me agora na ameaça. Cães não são burros, e afastaram-se, mas continuaram latindo. Eu já estava há pelo menos uns 15 minutos, já de saco cheio de tantos latidos, mas agora com uma outra preocupação: levar um tiro de graça...


Finalmente chegamos naquele entroncamento logo no início da trilha, quando pegamos à direita para fazer a grande volta que fizemos. Agora era dobrar à direita novamente e começar a passar pelos primeiros postes da cidade, lançando-nos suas solitárias luzes, já madrugada, pertinho das duas da manhã... Naquele dia, acho que acordamos muitos galos pelo caminho...


Esse é o mundo das bicicletas, solidário, sorridente, sem frescuras, autêntico e cheio de gozação, onde, confesso, o mais gostoso é desconcertar a quem acha que o Coroa não vai conseguir...
Pedalamos 51,57 km, debaixo de uma grande Lua prateada, sob aplausos de grilos, jias e sapos, olhares interessados dos muitos rebanhos ao longo das tantas cercas. Subimos e descemos, corremos e até andamos, numa velocidade média de 9,6 km por hora, durante longas 5 horas e 23 minutos, queimando 2.332 calorias, subindo 726 metros acumulados.

Já estava quase entrando em Aracaju, quando a esposa me ligou; queria saber onde eu estava, não aquele querer saber porque quer uma satisfação, mas aquele da preocupação. De bicicleta, passamos a noite fora de casa, farreando, e a esposa não tem ciúmes...
De manhã, ela torcia o nariz para os tênis e meias cheios de lama, tralha espalhada pela sala de jantar, lá mesmo onde guardo minha amiga, limpinha cheirosa, ou suada toda suja. Era domingo, dia do sono se estender até cansar...
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kkkkkkkkk esse passeio foi inesquecivel,gostei muito de participar fico esperando o proximo convite.val obr (valdenor)
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