Inaugurando a ponte nova...

Para quem quer,

qualquer motivo é razão...

Para quem gosta de pedalar,

qualquer razão é motivo...


Inaugurando a ponte nova...
(Paulo R. Boblitz - 11/fev/2013)

Carnaval é época de folia, e folia para nós, é pedalar... Não é bem uma folia, pelo menos enquanto estamos fazendo força, porém quando paramos, a boa folia começa...

Ainda durante a trilha S.E.BO.S, Hsu fez o convite para visitarmos a nova ponte que agora liga Porto do Mato com a Terra Caída, que eliminou a balsa e encurtou distâncias. Eu a conheci quando fui até o Mangue Seco, com o Fabrício Lacerda, da Peregrinos, turma boa e animada. Ela ainda estava no início da construção.

Hoje está magnífica. A ponte Gilberto Amado, como todas as pontes, é algo maravilhoso da Engenharia, pois une margens, aproxima terras, vence as águas...

Nosso passeio foi dividido em duas turmas: a turma ligeira que largou às 6 da manhã da praça Tobias Barreto, e a turma da moleza que largou do Terminal da Atalaia, 1 hora mais cedo... A expectativa era todo mundo chegar junto, mas o que o Hsu queria mesmo, era botar a turma dele para correr... Nessa história, acabamos servindo de coelhos...

Carnaval é um feriadão bem grande, então, quem já necessitava passar, já havia passado e agora descansava, quem sabe sobre uma gostosa rede a balançar num alpendre sombreado pelas tantas palmas dos coqueiros da beira-mar, que traz a salina brisa do grande Atlântico, majestoso em ondas e espumas, lavando e empurrando as areias em dunas... Alguns de nós, olhos de sono, ressaca limpa dum acordar bem cedo...

O raciocínio parecia lógico, mas na volta, descobrimos que todo mundo havia pensado igual; a rodovia parecia uma avenida...

Dias antes no trabalho, eu e Rogério convencemos o nosso amigo Ricardo Santos, claro utilizando as clássicas mentiras do meio do ciclismo: vai ser moleza..., você dará conta..., é tudo plano..., o vento ajudará..., e tantas outras que fazem você sonhar, e aceitar o desafio... Não foi fácil para ele, acostumado a dar algumas voltas pela orla, mas foi valente e a cada metro foi batendo o próprio recorde, empurrado por mais mentiras que eu e Rogério íamos incentivando, como a de faltar poucos quilômetros, quando ainda faltavam três ou quatro vezes aquela quantidade, como a de não existirem mais ladeiras, quando ainda faltavam pelo menos umas três...

Em certo momento lhe cheguei do lado e perguntei:

- Ricardo, estão faltando as pernas, ou é a bunda que está doendo?

- Os dois... - respondeu com certo ar de tristeza.

Disposto a voltar da Caueira, o convenci que chegar até a ponte era mais próximo, e de lá ele bem poderia telefonar para a esposa, para ser resgatado. Olhando-me, raciocinou e sorrindo fez que sim. Quando chegamos no posto da Polícia Rodoviária Estadual, no entroncamento para o Abaís, pegou do telefone e ligou para o irmão, pois seria o tempo em que chegariam à Terra Caída. Hsu sugeriu que ele fosse adiantando, e ele partiu sozinho, porque agora só faltavam 10 quilômetros na cabeça dele, não ouvindo o Policial informar que ainda faltavam 30.

A mesma sorte não tivemos com o Cláudio Oliveira, que antes mesmo de chegarmos à ponte do Mosqueiro, já dava maus sinais, ficando muito para trás. Esperamos que ele chegasse, dissemos a ele algumas mentiras mas ele estava convicto; deixaria para uma próxima vez...

Partimos, e de parada em parada, de foto em foto, chegamos finalmente à ponte nova, a Gilberto Amado, que foi um filho de Estância, nascido em 1887, vivendo até 1969, advogado, escritor, diplomata, jornalista e político, hoje emprestando seu nome a uma bela obra de engenharia, a encurtar distâncias por sobre o majestoso rio Piauí, quase mar a se unir com o rio Real, separando Sergipe da Bahia, na famosa Mangue Seco. Desenho simples, uma subida, uma descida, estais amarelos sustentando o vão central.


Lá em cima nos aguardando, Ricardo Hsu, Josué Gama, Carlos Pupo e Victor Chaves. Lá embaixo, seguindo a vida numa pequena embarcação de dois mastros, pescadores como os passarinhos, saindo à lida procurando comida...

Estávamos reunidos os 7, dos oito que saímos às 5 da manhã. Faltava agora a turma do grupo das 6, também sete amigos, porém só chegariam 5 deles, o Regi, o Rewris, Ademar, Paulo e o Leonardo, pois Ruy Rocha e Victor Fontes haviam entrelaçado seus guidões pelo caminho, caindo e machucando-se. Cair no estradão é uma coisa, mas cair no asfalto é bem outra, e deviam estar girando bem, pois tentavam nos pegar.

Em pouco tempo víamos ciclistas lá embaixo, chegando. Não, não eram eles... Mais um tempo e mais ciclistas eram avistados, mas também ainda não eram eles. Por fim apontaram e nos reunimos todos, descendo até a Terra Caída. Por baixo, creio que deveriam estar uns 30 ciclistas naquele restaurante que escolhemos para o nosso café da manhã, que não aconteceu, porque tudo já havia acabado, ou estava acabando... Nosso consumo foi uma garrafa de coca-cola de 2,5 litros, duas jarras de suco de laranja e algumas empadas de camarão. Voltaríamos com nossos tanques de combustível, quase vazios...

Agora já em casa, descansado enquanto vomito minhas memórias, vou degustando um vinho chileno que trás uma bicicleta em seu rótulo, o Cono Sur Cabernet Sauvignon, gostoso meio seco fino, safra 2011. Enquanto o pegava da prateleira, sorria raciocinando que se trazia uma bicicleta no rótulo, deveria ser coisa boa... De fato é, e o procurarei novamente.

Dei uma volta pelo antigo embarcadouro onde as balsas encostavam, observando uma cidade quieta que parecia dormir. Bem ao centro, em frente do pier, um trio elétrico bem modesto, que mais tarde encheria toda a vizinhança de sons de se pular, ou de tum-tum-tuns modernos a fazerem o mesmo efeito. A maré estava baixa, os barcos encalhados, duas crianças enxergando algum horizonte especial, a pequena igrejinha alheia ao fato do Papa anunciar a própria renúncia, ontem mesmo repleta de fiéis...

A vida segue e por ela vamos passando...

Olhei a ponte ao longe, por detrás da balsa já esquecida, progresso não salutar para o lugar, porque agora todos passarão ao largo em desabalada carreira, com pressa, sempre com ela, de chegar... Terra Caída, de agora em diante, será só mais um povoado quase à beira da rodovia, igual a tantos outros em que somente lemos seus nomes, sem nenhum interesse...

Eram já 10 horas e seis minutos, quando resolvi me adiantar, pois agora o mais lento seria eu. Hsu fez que sim e disse que esperaria pela turma toda para uma foto ao pé da ponte. Partimos eu e Rogério Santin, mas fomos alcançados quase no trevo do Abaís, afinal a turma é fera. Comprei água e novamente partia, mas logo era alcançado novamente. Parei no bar do Galego, aproveitei para desapertar os tênis. Ele não tinha água mineral. Parti e encontrei o Rewris e o Rogério, à sombra do posto policial da Caueira. Eles me aguardavam, e também a retardatários que vinham atrás de mim. Fui procurar água, bebi um coco verde gelado, e só na segunda mercearia é que fui encontrar água mineral, ainda assim fria, pois a cerveja é quem estava com a prioridade. Voltei ao posto policial e partimos. Os retardatários haviam chegado, mas faltava um. Estávamos no salve-se quem puder, sol abrasador sobre a cabeça, meio dia e meia, barriga vazia, cerca de 50 quilômetros ainda longe de casa...

Ao pé da ponte Joel Silveira, que cruza o rio Vaza Barris, no Mosqueiro, Victor Chaves sentou-se à sombra para esperar o amigo retardatário, enquanto eu, Rogério Santin e Josué Gama iniciávamos a subida da ponte; eu e Rogério pararíamos no Caldo de Cana do Neném... Bebemos 1 litro de caldo de cana cada um, e comemos cada um, um delicioso pastel, ele de carne, eu de queijo.

Agora era chegar em casa, a dele primeiro que a minha, a minha cerca de 10 quilômetros adiante. O dia havia sido cheio e bastante quente. Desliguei meu GPS às 15 horas, 19 minutos e 45 segundos, bebi o restante da água e subi. As duas pequenas cadelas me cheiravam enquanto ia despindo a roupa suada. A esposa, a me olhar sem bem entender, informava que tinha isso e aquilo para o almoço, mas eu havia enganado a fome há pouco tempo. Tudo o que eu queria era um bom banho e cama. Deitei e me entreguei ao descanso, mas ele ainda estava meio distante, pois duas foram as tentativas de cãibras no lado interno da coxa esquerda, e uma nos dedos do pé esquerdo. Enfim descansei, acordando lá pela hora do jantar, bebendo água e comendo alguma coisa, afinal precisaria só de mais um dia de descanso, para enfrentar outra...

Não fossem os 10 metros que passaram, teriam sido 157 km cravados, em 9 horas e 13 minutos de pedal, numa velocidade média de 16,8 km por hora, onde queimei 7.202 calorias, subindo apenas 352 metros em subidas acumuladas. Devo esclarecer que esses são os meus dados, pois eles andam comigo. Distâncias maiores ou menores, ficam por conta de onde cada um mora, se mais distante ou mais próximo que eu, nem isso quer dizer que todos passaram o mesmo tempo pedalando, pois esse foi o tempo que o meu equipamento registrou. O time OVER 100 KM é de atletas, que vive a competir e não consegue andar em ritmo mais lento. Sei disso e não reclamo, e bem sabem eles, que conhecemos o caminho de volta para casa.

Aqui dou o meu depoimento em favor do Ricardo Hsu, por tantos criticado porque não espera ninguém. Não é verdade.

Em todas as trilhas e passeios que com ele andei, onde não conhecia o terreno e por onde pedalava, ele sempre me aguardou, até mesmo retornou para me resgatar... Devo a ele Bonito, Bezerros, Serra Negra e Gravatá, Garanhuns por dois dias, trilha noturna de Dores, trilha SEBOS, e sei que ainda faremos bons passeios, sempre quando ele não estiver treinando, até porque não aceitaria prejudicá-lo em seus esforços, a cada dia em maior liderança no MTB.

Muito obrigado a você, Ricardo Hsu, pelo bom convite.

E você, que tem medo de andar com o Chinês, basta perguntar se é treino ou passeio, mas não se esqueça de ter um mínimo de preparo, e também da pontualidade... Isso não é chatice; isso é disciplina...

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