Camocim de São Félix - Aracaju

Saudades...

Porque sentimos a falta; porque queremos de novo...

Saudades...

Porque um dia vimos ou sentimos...

Saudades..., coisas gostosas que o amor inventou...



Camocim de São Félix - Aracaju
(Paulo R. Boblitz - fev/2010)


Este será um carnaval por muitos anos lembrado, onde suamos não por pulá-lo, mas sim por trilhá-lo nos caminhos que Deus fez para alegrar o homem.

Subi, desci, me extasiei uma porção de vezes, sempre que parava e mirava ao longe, onde as cores e os elementos se misturam; sorri muito, essencialmente, pois andei com pessoas alegres e boas, saudáveis e amigas, unidas, principalmente.

Por falar em saúde, sentimos muito a falta do nosso amigo Agnelson Araújo, o Capitão, que empurra, reboca, incentiva, dá carão, reclama, faz zoada, enfim, não nos deixa em paz quando pedalamos; estou devendo a ele uma visita, apertar-lhe a mão, verificar como anda sua saúde...

Tudo isso teve início no dia 13 de fevereiro, um belo sábado gordo, quando passamos o dia inteiro viajando pelos Estados de Sergipe, Alagoas e Pernambuco. No domingo e na segunda-feira, duas trilhas sensacionais, literalmente de tirar o fôlego, pelos esforços e pelas vistas magníficas...

Agora precisávamos voltar; mais um dia de viagem, que prometia ser movimentado como o nosso primeiro dia também o fora.

A noite anterior havia sido gostosa pelos tantos sorrisos na entrega dos troféus, quando um troféu necessitou de pelo menos umas cinco votações para ser definido; tantas eleições assim, creio só para a escolha dos Papas...

O troféu Morgado foi disputado intensamente pelo Fabio e pelo Kanídia, onde cada um chegou a fazer a própria campanha, cada um fez as impugnações que podia, e também discursos morgados..., até que finalmente o Kanídia convenceu a maioria.

Foi lá na frente e recebeu o troféu das mãos do próprio Fabio, e as palmas de merecimento também...

O segundo troféu entregue foi para mim, que tive a honra de recebê-lo das mãos do Ricardo Hsu, um campeão que já se prepara para as corridas de março próximo. Estaremos torcendo por ele, como ele torceu por todos nós.

Meu troféu foi o de Maior Biguzeiro, pois em Pernambuco, Bigu é aquele que pega carona, embora a minha não tenha sido assim tão longa, apenas uns 5 km de ladeira íngreme, para cima...

Turma exagerada...

O terceiro troféu foi o Sentou e Chorou, entregue para o Juarez que, de volta do almoço no Camping do Mágico, não chorou mas sentou bem confortável no banco do carro de apoio, enquanto a gente penava para subir.

O que ninguém sabe é que tudo foi por causa da comida saborosa, tornando-o muito mais pesado do que realmente é, desequilibrando o conjunto, obrigando-o a abandonar a peleja...

O quarto troféu foi o Carniça da Carniça, entregue ao Max por ele ter andado atrás de mim...

Também achei um exagero, só porque ele comeu demais no belo café da manhã, misturando tudo, preocupado em armazenar energia e fazer bonito em Bonito, abrilhantando a equipe.

Dos quatro troféus, apenas o Morgado foi acirradamente disputado; os outros, foram conquistados por unanimidade, sem discussões.

Querem saber de uma coisa? Os troféus estavam tão bonitos que, se possível, adoraria tê-los conquistado todos. Na próxima vez, arrastarei mais um, para exibi-lo com orgulho aos meus amigos.

Amanhecemos muito dispostos, talvez por sabermos que não enfrentaríamos nenhuma ladeira, pois eu já estava me sentindo um cabrito, ou melhor, um velho bode.

Enquanto o cheirinho gostoso das coisas do café se iam nos achegando, amarrávamos as bicicletas, cada um cuidando a seu modo, daquelas meninas alegres e magrinhas.

Como as que eu amarrava eram as mais complicadas (iam soltas), todos terminaram e se juntaram ao meu redor, para me verem dar nós e voltas em torno de cada uma, e concordando com o Raimundão, quando ele disse que me ver amarrando bicicletas era uma terapia...

Tomamos o nosso café, nos despedimos da família do Jonas e partimos em paz, mas alguma coisa naquele café iria fermentar para nos atormentar o caminho. Do Sebastião e esposa não sabemos nada, pois aproveitaram para seguir até Caruaru, escapulindo do nosso comboio.

Primeira parada no primeiro banheiro decente de estrada. Visitaram-no, no Eles e no Elas, alguns de nós.

A especulação corria solta...

- a culpa foi do iogurte da Lu, disse um...

- a culpa foi dos ovos, disse outro...

- a culpa foi do cuscuz, disse mais alguém...

Apenas uma coisa eu sei: foi alguma coisa que eu não comi, e naquela manhã deixei de comer muitas coisas. Como não tínhamos tempo para as exclusões, depois de muita gente já desapeada, seguimos em frente vencendo asfaltos...

Esse negócio de banheiros renderia até chegarmos em Garanhuns, onde almoçamos, mas isso não significa que as coisas estavam torrenciais, pelo contrário, tudo comedido, tudo com tempo calmo e assim por diante.

Se a coisa estava apertada, apertou um pouco mais quando numa das partidas, o carro do Gilton resolveu também desarranjar. Ao virar a chave na ignição, nada... Empurramos e ele pegou, mas o painel estava se comportando como se um disco voador estivesse pairando sobre ele, pois os ponteiros estavam loucos e agitados. Alguma coisa estava em curto, logo ali, quando longo era o que faltava para chegarmos em casa.

Depois do almoço pegamos a estrada novamente, não sem antes empurrarmos o Gilton. Resolveram parar na Praça do Relógio das Flores, onde ele todo é feito de flores de cores diferentes, exceto os ponteiros.

Quando consegui estacionar, notei a ausência do Gilton; me informaram que ele, temeroso com o carro apagar de vez, havia adiantado seguindo em frente. Eu e a esposa pulamos no carro e saímos no encalço dele, pois se ele parasse por um problema, não estaria só.

Acontece que peguei a estrada errada, seguindo para Palmares, enquanto Gilton seguia para Bom Conselho. Acho que bom conselho me foi soprado pelo meu Anjo da Guarda, que me fez perguntar se Bom Conselho era por ali, descobrindo o engano.

Enquanto voltávamos, liguei para o Gilton para que ele diminuísse a marcha, e assim eu pudesse alcançá-lo. Quando já estava na estrada correta, Gilton me ligou dizendo que todos estavam me aguardando, enquanto ele seguia novamente em frente, com a noiva, o filho e minha filha.

Mais um pouco, alcancei o comboio e seguimos em frente, mas àquela marcha, pensei que não alcançaríamos o Gilton, e apertei o pé novamente, deixando todos para trás. Lá bem adiante, avistamos o Gilton e seguimos juntos tranqüilos. Quando estávamos descendo a Serra das Pias, onde na ida compramos pinhas e mangas, Hsu, Kanídia, Max e Marcelo nos alcançavam.

Paramos todos para uma nova compra, mas o Gilton novamente saiu apressado; comprei, paguei e saí atrás dele novamente, deixando o comboio para trás, onde as compras, pelo número de compradores, prometia demorar.

Quando chegamos em Palmeiras dos Índios, Gilton passou direto, quando deveria dobrar para Arapiraca. Fizemos um retorno mais à frente e nos ajeitamos, tempo em que o comboio passou sem que o víssemos.

Estávamos parecendo gato e rato...

Quando chegamos na BR, encontramos o comboio já partindo, mas teríamos que dar uma parada; era o mesmo posto em que havíamos parado na nossa vinda, para comermos algo.

Lá eu conheci o Pingo, um pequeno vira-lata bem gordo, velho e bastante cansado, que me olhava sem muito interesse. O dono do restaurante, reconhecendo-me e notando o meu interesse no Pingo, falou todo orgulhoso:

- 14 anos e 2 meses...

Em seguida, virando-se para o Pingo, perguntou pelo nome do filho dele, e o Pingo, numa espécie de canto com choro, ganiu algumas vezes bem alto, demonstrando sua honesta saudade. Nossa conversa foi interrompida com os chamados do Gilton e precisamos partir.

Dei adeus para o Pingo que, novamente deitado, apenas me olhou e novamente fechou os olhos; acho que ele já viu muita gente passar...

Seguimos em frente, atravessamos o Velho Chico, chegando em casa com segurança, tranqüilidade e saúde, graças a Deus.

Acho também que naquela noite todos fomos dormir felizes, já sonhando num outro caminho, numa outra nova trilha, mais suores e dores, mais sabores e odores, das coisas lindas e simples, ali, no estender das mãos, onde o vento faz roçar as ramas quando passamos, nos tocando em avisos em nossos corpos, que somos bem-vindos...

* * *

Um comentário:

  1. Participei dessa ventura! Adorei a aproximação de amizade com todos!
    Parabens pelo texto Boblitz, te admiro ainda mais!
    gde abraço!

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