Aracaju - Lençóis (Chapada Diamantina) - terceiro dia

Pedalar é exercitar, fazer girar cada pedal,

subir ladeiras e suar,

visitar lugares já visitados,

parar cansado e descansar, afinal,

no dia seguinte, é tudo outra vez...


Alagoinhas - Santo Estevão
(Paulo R. Boblitz - 3/jan/2013)


Foi um dia muito difícil, porque já começamos a pedalar com a bunda doendo. Não sei o que doía mais, se a levantarmos do selim, ou se mantê-la sentada nele. O fato é que desse dia em diante, as coisas só piorariam, claro falando mais sobre mim, mas também dos outros, pois que não estava fácil para ninguém.

Assim, comecemos pelos números: foram 125,05 km pedalados, em 12 horas e 44 minutos, queimando 9.094 calorias, e subindo acumulados 1.578 metros, no que achei o dia mais quente até ali.

Até então estávamos dando sorte, pois a nebulosidade vinha nos acompanhando desde o primeiro dia, meio escondendo o sol, o que minimizava de certa forma, o calor, mas nesse dia estava um mormaço forte, daqueles de nos deixar tontos quando paramos.

A rodovia mais parecia com uma avenida, tamanho movimento indo e vindo, aumentando o desconforto, pois não só os motores fazem barulho, mas os pneus também. Vez ou outra, indistintamente se automóvel, ônibus ou caminhão, nos lançavam seus cumprimentos em buzinadas, como se nos reconhecendo os esforços, num lugar que, segundo um daqueles moradores, cágado anda nas pontas das unhas, para não esquentar a barriga...

Viajando em grupo, sinceramente não me preocupo com a liderança, pois sei que ela é desenvolvida ao longo das várias jornadas, não por um único líder, mas em rodízio por todos, às vezes até em paralelo, quando o grupo se divide ao longo do dia. O que quero dizer é que nenhum grupo tem chefe, pois o bom senso sempre prevalece entre os que querem apenas se divertir.

Almoçamos num posto de gasolina bem grande, quase defronte da entrada para Conceição do Jacuípe, desses que têm vários serviços a oferecer. Parar para almoçar nem sempre é bom, mas nesse dia estava como obrigatório, pois que a preguiça se insinua através de nossas barrigas cheias, enchendo-nos de uma grande moleza. Terminado o almoço, saímos eu e o Aldo, deixando para trás o Tato e o Rogério, que haviam resolvido tirar uma soneca. Dali até Feira de Santana, seriam cerca de 24 km, e quando já estávamos chegando próximos, Tato e Rogério nos alcançaram, e pedalando mesmo, resolvemos seguir por fora, por um anel de contorno, o que descobrimos, na prática, ter sido uma decisão infeliz, pela quantidade de veículos, e pior ainda pela falta de acostamentos em diversos pontos, o que só fazia aumentar ainda mais o estresse que o dia vinha causando.

Tato e Rogério se adiantaram, e eu e Aldo resolvemos parar num restaurante, comprar água, tomar um suco, chupar um sorvete, ir no banheiro, enfim, descansar. Foi o suficiente para nos desencontrarmos até chegarmos em Santo Estevão, que ainda estava bastante longe... Rogério e Tato postaram-se embaixo de um viaduto, e nos esperaram por longo tempo, segundo eles, mas segundo meu GPS, desprezando aqui os segundos, apeamos às 15 h 57 min, e novamente montamos às 16 h e 25 min, exatos 28 minutos.

Esse é o perigo dos que se adiantam, não saber o que aconteceu para trás. Notem que interessante essa Teoria da Relatividade: para nós, num ambiente tranqüilo, apenas 28 minutos; para os dois aguardando sob um viaduto super movimentado e barulhento, mais de uma hora.

Chegar em Santo Estevão não foi fácil, o que só aconteceria próximo das 20 horas e 30 minutos. Enquanto entrávamos para a cidade, decidimos logo procurar um bom hotel, ou um bom restaurante, o que acontecesse primeiro, e um motociclista emparelhou e começou a conversar, guiando-nos até o Hotel LM, o melhor da cidade, onde um sergipano todo feliz nos atendeu, entregando-nos os dois últimos quartos disponíveis. Enquanto eu negociava, Aldo ligava para o Rogério e o Tato, que estavam acabando de jantar, e ainda precisavam ver hotel.

Nessa noite, o grupo dormiu em hotéis diferentes, mas desse dia em diante, ninguém mais se adiantou tanto. Jantamos eu e o Aldo, no próprio hotel, que guardou nossas bicicletas num quarto bem trancado. O chuveiro elétrico esquentava, o ar condicionado esfriava, e a cama tinha um colchão formidável, segredo de todo e qualquer bom pedal: uma boa noite de sono...

Dia seguinte, tomaríamos o café da manhã todos juntos...

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