Pedalar é como pescar, correr, jogar tênis...
Pedalar é montar e sair por aí,
sem muita conversa, mas com boas pernas,
sentir o vento, o sol, o sorriso das pessoas...
Cristinápolis - Alagoinhas
(Paulo R. Boblitz - 2/jan/2013)
O sol amanhecera bonito para quem gosta de ir à praia, mas eu o preferia o mais nublado possível, o que nossos Anjos da Guarda providenciariam somente um pouco mais tarde, quando o vento começasse a soprar...
Na frente do hotel Sergipe havia uma pracinha, quando resolvemos levar de recordação. Precisávamos apenas de uma quinta pessoa para nos tirar a foto, e ela, como num passe de mágica, acabara de estacionar sua moto bem diante de nós. Parecia que esperava por alguém. Virei para ele e perguntei se ele poderia tirar uma foto. Ele fez que sim e pediu um pouquinho de tempo.
Fiz que sim com a cabeça e devagar arrumou-se, levantou da moto e foi para a calçada, meio sem jeito, ali parado em pose, esperando alguma coisa acontecer...
Da mesma forma eu estava, já com a máquina pronta a lhe entregar, sem bem entender aquela situação, até que me estalou que ele poderia ter entendido que queríamos uma foto dele. Dei uma gostosa gargalhada e expliquei que não era a foto dele que queríamos, mas sim que ele nos batesse uma foto.
Descansado e aliviado, ele também sorriu e aproximou-se, quando expliquei sobre como operar a máquina. Tato e Aldo se esbaldavam de tanto rir do mal entendido, peças que a comunicação vive a nos pregar. Arrependo-me de não ter pensado em arrumar uma sexta pessoa, para que aquele cidadão também aparecesse em nossa foto. Nossa terra é assim; gente simples sem maldades.
Enfim saímos em busca de nosso café da manhã, e mais um pouco estávamos no caminho novamente. O primeiro dia havia sido muito bom, asfalto liso, mas ao entrarmos na Bahia, o acostamento transformou-se em caroçudo, transferindo para nós, toda a trepidação que os pneus iam encontrando.
Havia aceitado a sugestão do Rogério, trocando meus pneus balões com cravos, por lisos e mais duros, em nome do maior rendimento. Confesso que não gostei, mas até então nunca havia feito uma viagem com pneus lisos; estava, então, na hora de experimentar.
A exemplo do primeiro dia, Tato sumiu no horizonte, e mais um pouco, Rogério também. Para trás, restavam apenas eu e o Cara-Pálida do Aldo, pois ele constantemente passava Hipoglós na face, literalmente pintando-a de branco. Numa das vezes em que ele se pintava para a guerra, lembrei:
- Aldo! Isso foi feito para passar na bunda..! - e ele deu uma sonora gargalhada.
Falando em bunda, as nossas já se mostravam indignadas, pois não há selas que produzam conforto quando o pedal é longo, e pele não é couro...
Para ser mais exato, bunda, no nosso caso, mereceria um capítulo à parte, pois que todos reclamamos dela durante os cinco longos dias...
Não lembro onde paramos para almoçar, mas lembro que paramos bem no trevo da entrada para Alagoinhas, já noite, para esperarmos o Tato, que adiantado, havia se adiantado demais. Se fôssemos jantar onde ele queria, teríamos ainda muito chão para chegarmos no nosso hotel, o Avenida, diga-se de passagem, um bom hotel, pois que hotel para mim, é cama boa. É ela quem nos levanta no dia seguinte, por incrível que pareça, pois quando ela é ruim, passa a noite inteira nos levantando...
Tato chegou e partimos. Alagoinhas estava a poucos quilômetros, e buscávamos, segundo idéia minha, algum lugar que nos fornecesse o já famoso Macarrão ao Vivo, boa fonte de energias para quem as esbanjou durante o dia, mas meu pneu traseiro furou e tivemos que parar. Rogério e Aldo se encarregaram da borracharia, não que eu não desse conta, mas não na velocidade que eles necessitavam...
Pneu novo, partimos enfim chegando numa bela praça bem iluminada, e lá estava o nosso premio maior, o que nos forneceria comida para matar a grande fome que residia em cada um de nós. Encostamos as bicicletas, a mocinha nos olhou meio assustada, logo nos ajudando em nossas escolhas, macarrão com tudo..! O suco, esse foi de manga...
Estávamos esperando pelo pedido quando um jovem se aproximou, coisas que só acontecem quando se é ciclista. O rapaz estava a serviço, acho que de nome Wagner, logo estabelecendo uma boa conversa, citando os grupos de pedais de Alagoinhas.
Se você não é ciclista, bem pode não entender, mas temos nossas vestimentas que nos denunciam, nossas bicicletas equipadas, nossas faces esfogueadas, nosso cansaço que diz que a gente vem de longe, e longe é muito mais longe quando as pessoas descobrem que viemos pedalando...
Nosso pedido chegou meio misturado, mas a fome pouco se importou com o pequeno deslize da Atendente, afinal, era Macarrão com Tudo para todo mundo, menos para o Tato, que havia pedido almôndegas pelo meio.
A praça é a Rui Barbosa, e a macarroneira é a Bela Pasta.
Quase terminando, um rapaz que estava com a esposa, levantou-se e interessou-se pelo camelbak do Tato, que informou que o utilizava apenas como mochila. O rapaz se chamava Leonardo e disse ser primo do Alan Santos, colega nosso de Petrobrás, também ciclista.
Comemos por necessidade, mas naquela noite eu acrescentei a felicidade, porque a fome, por si só, não nos submete a qualquer coisa, e agradeci a Deus por ali ter chegado, por ter encontrado pessoas desconhecidas conhecidas, enfim, por estar inteiro para a etapa seguinte, nosso terceiro dia...
No hotel, lavei minha roupa e fui dormir, um bom sono merecido, um bom cansaço procurado, calorias que não me farão falta no futuro...
Nesse dia foram 116,65 km, em 12 horas e 32 minutos, 7.685 calorias derretidas, 1.430 metros em subidas acumuladas. O calor também mais apertou...
* * *
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário