Caminho da Fé

Como num dia,

em que recebi o chamado para Santiago de Compostela,

também o recebi para o Caminho da Fé.

Peregrino é, para quem gosta de definições,

aquele que peregrina, estranho, estrangeiro...

O restante da definição, é algo muito particular, que só a mim pertence...



Caminho da Fé
(Paulo R. Boblitz - jun/2010)


Vivo dizendo que nossos Anjos da Guarda confabulam; enquanto dormimos, eles telefonam entre si e combinam nossas idéias. Depois nos sopram, produzindo coincidências...

Omar recebeu uma mensagem do Paulo Ribeiro, lá do Recife em Pernambuco, repassando-a para mim. Topei, ele topou, mas nossas datas não bateram com a do Paulo Ribeiro. Faltava arranjarmos mais dois companheiros, quer dizer, mais um, pois que João toparia sem pestanejar. Arrumamos, mas ele desistiu... Isso tudo aconteceu em meado de janeiro de 2010...

Assim, ficamos os três, eu Boblitz (58), João de Deus (50), e Omar Aguiar (58), certos para trilharmos o Caminho da Fé. Mudei minhas férias para mais tarde, Omar antecipou as dele, e João, patrão dele mesmo, já estava marcado com o que marcássemos. O primeiro passo, dado estava, além daquele de nossas decisões...

Compramos nossos alforjes e nossas bolsas de guidão, na Arara Una (www.ararauna.esp.br), bonitos e bem construídos, dos tamanhos exatos necessários, funcionais e muito bem adaptáveis às bicicletas. O atendimento foi muito preciso, principalmente quando nossa encomenda foi extraviada pelos Correios.

Faltava ainda comprar dois equipamentos GPS GARMIN Edge 705 Bundle, excelentes, com uma precisão exemplar, e recorremos à Seahead Sports (www.sportsonline.com.br), onde o atendimento foi também perfeito. Com eles, teremos a nossa história depois, por onde passamos, por onde nos perdemos, por onde nos despencamos em desabalada carreira... Guardaremos nossas preciosas altimetrias...

Paulinho, do Sampa Bikers (www.sampabikers.com.br), gentilmente nos forneceu nome e contato de uma Van em São Paulo, a nos transportar com nossas bicicletas, de Guarulhos até Tambaú (início por ele recomendado), e depois de Aparecida até Guarulhos. Recomendou-nos ainda a TAM, que transporta a bicicleta montada, exigindo apenas que o guidão esteja alinhado com o quadro, os pedais retirados, os pneus esvaziados.

Acertamos as datas, compramos as passagens e os bagageiros - as bicicletas criaram personalidade, ficaram mais senhoris...; falta comprarmos pequenos itens, portanto, já estamos prontos para a peleja, nossa primeira, pois ano que vem teremos outra.

Não havendo mais o que se fazer, resolvemos então brincar com o Google Earth, esse maravilhoso programa gratuito que nos possibilita ver a Terra do Espaço, como se estivéssemos numa nave espacial. Omar arrumou um Diário de Viagem rico em detalhes, do Autor e Peregrino Oswaldo Buzzo, e nos debruçamos sobre o monitor, digo, sobre a trilha.

O que parecia fácil, exigiu de nós aquele espírito detetivesco, e algumas discussões foram necessárias sobre o lógico e o não lógico, face tantas artérias numa região extremamente montanhosa e linda. O caminho foi saindo, dia a dia, um de cada vez, açoitando-nos a ansiedade, fustigando nossos desejos de que a data logo chegue. Jogamos nosso plano, ainda que provisório, pois a realidade e as Setas do Caminho é que o regerão, na região que um dia sofreu com as indigestões furiosas de uma Terra em transe. A data está próxima...

Teremos treze dias para queimarmos nove etapas maravilhosas, que gostaríamos de partilhar com todos vocês:

1 - Tambaú - Casa Branca (São Paulo)

2 - Casa Branca (São Paulo) - Poços de Caldas (Minas Gerais)

3 - Poços de Caldas - Águas da Prata (Minas Gerais)

4 - Águas da Prata - Barra (Minas Gerais)

5 - Barra - Borda da Mata (Minas Gerais)

6 - Borda da Mata - Consolação (Minas Gerais)

7 - Consolação - Luminosa (Minas Gerais)

8 - Luminosa (Minas Gerais) - Campos do Jordão (São Paulo)

9 - Campos do Jordão - Aparecida (São Paulo)

Pedalaremos praticamente nas nuvens, por sobre a Mantiqueira, onde iniciaremos aos 700 metros, chegaremos aos vários 1.800, e terminaremos por volta dos 550 metros, numa montanha-russa natural, de tirar o fôlego...

Não sabemos dos ventos, mas estamos cientes da muita chuva que cai pela região. Conheceremos gente muito boa, costumes diferentes, hospitalidades amorosas, sabores os mais instigantes, vistas de outros mundos...

Não é a Fé que procuramos no Caminho da Fé, mas com certeza sairemos dele com mais Fé do que entramos, pois trilharemos as sendas cimos afora, a dividirem as montanhas em duas, a misturarem os horizontes que se sucedem, a nos possibilitarem a visão simplória dos montanheses, porém verdadeiras, por conta das atmosferas em que vivem.

Não seremos heróis, embora muita energia e força de vontade para vencermos as tantas subidas, e dores no dia seguinte, sejam necessárias. Não seremos desbravadores, pois eles já o foram há séculos atrás. Seremos apenas ciclistas, fazendo o que gostamos, admirando as belezas de nosso Deus, mais três entre tantos milhares que já o trilharam, portanto, nada demais, porém, mais ricos em sabedorias, em serventias, em humildade, em sorrisos, em corações plenos, pois que fomos e fizemos...

Nós sentiremos os perfumes da terra, os humores, nossos e da região, os ares de nossas almas, pois suspiros não faltarão diante das tantas grandezas a que não somos acostumados, pois vivemos para trabalhar, para produzir, como formigas exemplares...

Por treze dias, esqueceremos que somos da Terra...

Não estamos a fazer propaganda; apenas queremos que vocês, ao tempo certo de cada um, experimentem o que a vida proporciona, dá de graça no ensinamento, através dos valores que se conquistam, sempre através do trabalho...

Estaremos trabalhando, moldando nossos espíritos, dominando nossas fraquezas, enriquecendo nossas almas, pois lá, como em qualquer outra Natureza, tudo existe para ensinar, tudo é para se aprender...

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