Trilha do Vovô

As gratas surpresas,

principalmente elas,

nos dão fôlego, nos impulsionam...

Aos nossos amigos, ao Vovô em especial,

todos os abraços que ele merece,

e o nome da trilha até Laranjeiras...




Trilha do Vovô
(Paulo R. Boblitz - jun/10)


Com um pouquinho de atraso e um céu encoberto, saímos debaixo de um friozinho gostoso, a caminho de nossa trilha de domingo. Em minha cabeça, já traçava o trajeto da primeira que fizera, mas trilha é trilha, onde o que importa é o pedalar, o conversar, os sorrisos diante das presepadas dos amigos à volta.

Assim, fomos subindo buscando sair da cidade, pelo asfalto, num domingo calmo e promissor. Nada até ali me produzira surpresas, coisas gostosas que aliadas às trilhas, sapecam o esforço com mais condimento...

Quando seguimos para dar a volta por cima do viaduto, cruzando a BR, enfim despertei da mesmice que experimentamos quando já conhecemos o que estamos a fazer.

Com o mapa embaralhado na cabeça, comecei a vislumbrar a grande subida para Areia Branca, mas Omar me cortou o barato - entraríamos bem antes, por estrada de chão, em direção a Laranjeiras.

Numa curva, antes de iniciarmos uma grande descida, o aparato da Polícia Rodoviária Federal, a dar cobertura a um caminhão guincho que resgatava um veículo leve capotado. Ainda brinquei com o Oficial, que se o motorista estivesse pedalando..?

Descemos na banguela, ar condicionado ligado, buracos à vista desviados, e num piscar, já estávamos lá embaixo, encarando outra ladeira para cima...

Lá na frente, os mais afoitos já nos aguardavam na entrada da estrada de barro. Um pouco para trás, descia da ribanceira, a pé, o Pedro Viégas com algumas goiabas - ele as adora...

Assim que entramos, Vovô parou todo mundo, pois o pneu dele havia furado. A equipe de socorro logo se juntou à volta e num instante, o remendo estava resolvido. Partimos já encarando uma bela subida, algumas valas desenhadas pela água, e por ali, no topo dela, aguardei Vovô que vinha acompanhado pelo Bruno e o Raimundo. Na retomada, fiquei sabendo da coincidência, a de que no ano passado, nessa mesma trilha, nessa mesma data, Vovô fazia 64 anos. Por um dia apenas, não se repetia o fato - o dia certo, é 7 de junho....

Mais à frente, todos já nos aguardavam reunidos, e lembrei que não tinha visto o Raimundo fazer nossa Oração de praxe. Perguntei e descobrimos todos que a havíamos esquecido. Num instante já estávamos em sintonia com o Pai, solicitando paz e proteção. Vovô aproveitou e deu a notícia, recebendo vários abraços e muitas alvíssaras, mais 65 anos pela frente...

Quando parássemos, brindaríamos aquela data com muitos copos do mais saboroso isotônico borbulhante dourado. Em casa, estariam a me aguardar meus dois filhos, nascidos no mesmo dia 6 de junho, com 5 anos de diferença - a lasanha seria especial...

Chegamos em Laranjeiras e a adentramos em direção ao centro histórico; no meio de um calçadão, encostamos nossas bicicletas e comemos e bebemos alguma coisa, além de um bom descanso regado à boa prosa, onde os 65 anos do Vovô faziam a festa...

Alguém deu a ordem, alguém sempre lembra de dá-la, e partimos novamente; estávamos em busca da Capela do Bom Jesus dos Navegantes - metade subiu, metade ficou debaixo de uma boa sombra, no meio dela, eu...

Partimos novamente, agora com a leve garoa a nos molhar, prometendo apertar, por conta dos ânimos das nuvens mais acima, cinzentas de pouca conversa... Apertei o pedal e alcancei a Cida, alertando-a do trilho molhado, pois se ele seco já é um perigo, molhado é traiçoeiro, dos mais perigosos... Continuei acelerando para avisar a Rosita, mas quanto mais eu gritava, mais ela também corria.

A chuva apertava e precisei parar para proteger minha câmera; deixei Cida passar e lá bem atrás vinham João de Deus e Domingos, o Pato (ele imita o Pato Donald com perfeição). Um barulho de metal no chão, me fez virar a cabeça; era o Pato, que para não me pegar em cheio, jogou-se de lado, como só se jogam os corredores motociclistas...

Num instante ele já estava de pé, sobre a bicicleta, e partimos juntos em frente, para mais adiante descobrirmos mais duas quedas por conta dos trilhos: Rosita e Paulo...

Todos bem, seguimos em frente, pois ainda havia muito chão a ser vencido. Quando cruzamos a BR, já no alto, o pneu do Fernando reclamou, nos obrigando a uma nova parada. Partimos novamente e, desta vez, o pneu da Cida também se fez presente. Raimundo recebeu um telefonema e precisou ir embora.

Mal iniciamos o pedal, Vovô parou para reparar o meio furo daquele pneu dele que havia furado, apenas meio furo, pois que na verdade, o pneu não havia sido bem embeiçado na jante, e nos trancos da estrada de barro, ele não conseguira notar aquele tradicional efeito de mancar.

Ao todo, foram 4 quedas e 3,5 furos, em 66,4 km de bons caminhos pedalados. Chegamos na nova orla, depois de atravessarmos e margearmos o rio do Sal, e ali enfim pudemos brindar, felizes como o próprio Vovô, seus bem vividos 65 anos - tem muito garoto novo que não pedala como ele...

Se soubéssemos, teríamos preparado um pedal especial, assim como Vovô nos é distinto, mas isso pode ficar para nossa próxima quinta-feira, ou nosso próximo domingo, um reconhecimento ao que o Vovô representa para o nosso ciclismo, seja no exemplo, no comportamento, na empolgação, seja na própria devoção, que o faz pedalar todos os dias, não importa a direção...

Mais um pouco e começamos a nos despedir, até que sozinho rumei no meu pequeno caminho de chegar em casa - mais dois parabéns a serem dados, mais duas comemorações...

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