Tristezas...

Positivo e negativo se atraem,

assim informa a Natureza...

Da briga que os dois travam,

você é a diferença...


Tristezas...

(Paulo R. Boblitz - maio/2014)

A tristeza é algo de que devemos nos afastar, mas é ela quem nos faz criar as mais belas criações, pois não somos nós, mas sim nossas almas, nosso interior em expressões...

Tristezas assim não são previsíveis, nem tampouco as aguardamos; elas vêm, se acomodam, produzem das suas até um dia em que as suplantamos, pois que a vida nos cobra vida, trabalho e suores...

Mas existem outras tristezas, essas não interligadas com nossos sentimentos, mas com nossos azares, que apenas produzem ânsias e impaciências... É duma dessas, que fui acometido...

Meu último passeio de bicicleta, aquele do Plano B, quando fui parar às portas de Pernambuco, antes mesmo de começar já dava sinais de que me cobraria juros. Com o pulso esquerdo dolorido, parti para um primeiro dia quase completo de costelas de vaca, aquelas ondinhas umas atrás das outras que o vento faz, em estradas de chão. Foi muita trepidação, quase 70 quilômetros com minha amiga gaguejando insistente, praguejando contra todos os meus botões, justo eles que naquele dia não andavam comigo...

De Lagoa Redonda até Brejo Grande, no dia primeiro de 2014, muito sol, muito calor, muita sede, muito sacolejo... Isso iria me cobrar indagações ao longo do meu terceiro dia, e irritações ao longo do meu quarto e último dia, pois quase já não sentia meus dedos, que teimavam em me obedecer...

Túnel do Carpo, esse é o nome do sujeito que não me encurtou caminho algum, pelo contrário, prolongou-o esse tempo todo com exames e fisioterapia, choques e medicações, e já se vão 4 meses inteiros olhando para minha amiga que sempre pronta, lança-me convites, empoeirada, queixosa também por um longo tempo sem ver novidades, sem as pedrinhas que vai lançando pneus acima, sem a poeira que como rastro, sublima o ar até novamente estender-se ao solo agora cheio de marcas...

Outro dia lhe enchi os pneus, untei a corrente, pedalei com as mãos até ouvir-lhe a canção das rodas, que, uivando alegres tiquetaqueiam quando os cachorros das catracas começam a deslizar...

O espelho estava embaçado, a poeira a começar a fazê-la espirrar, e o guidão, este eu via, a cada dia, virado para um lado, virado para o outro lado, como se ela também impaciente, estivesse se mexendo em busca de melhores posições...

Banquinho debaixo a deixar-me confortável, a alisei com meu pequeno trapo manchado de longas graxas, que ela bem conhece por novamente ficar pronta para outras peripécias. Enquanto o esfregava, ela tremia e ameaçava sair do cavalete, como o puro sangue que bufa e chuta o chão, antes da corrida...

Como o crepúsculo nos enfraquece a luz, lentamente fui enfraquecendo a força do pequeno pano, e ela entendendo, foi adormecendo e mais um dia passamos distantes, e mais outro, e tantos mais até que o punho volte a ser normal, desconfiado estou que já nos próximos dias, devagar a testá-lo, a informá-lo de que ainda dispõe de bom tempo para sua recuperação total, ou o mandarei para o inferno, como um dia mandei o joelho enquanto caminhava pelo Caminho de Santiago de Compostela, e no dia seguinte ele amanhecer bom...

A tristeza é tudo aquilo que nos inibe, até mesmo impede nossas felicidades, que vamos contornando sem deixar dos sorrisos, pois são estes que no final, nunca terão nos abandonado, nunca terão fraquejado, porque são eles os precursores de qualquer alegria, de quaisquer outros maiores sorrisos, conquistas d'alma que nos fortalecem, nos enchem de vida, nos fazem brilhar nossas meninas dos olhos, quando voltamos no Tempo, esse velho sempre rabugento e enferrujado, oxidado por ele mesmo...

Trate sua dor, dê a ela o que ela necessita para ir embora, e se mesmo assim ela insistir em permanecer, não canse, mande-a para os ares, para outros quintos longe de você, novamente assumindo o timão que só pertence a nós, e a felicidade encarregar-se-á de tudo novamente.

É só uma questão de vigília...

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