Itabaiana nunca produziu ouro,
mas é conhecida como a terra desse metal.
Estou em treinamento, mas não busco o ouro.
Busco o meu roteiro...
Aracaju - Itabaiana
(Paulo R. Boblitz - 15/abr/2012)
- Pí-pi-pi-pi - Pí-pi-pi-pi - Pí-pi-pi-pi... - em estardalhaço soava meu despertador...
Dei-lhe um peteleco e ele calou. Lá fora, o barulho da chuva que caía... Cinco horas da manhã de um domingo, e ainda chovendo!?
Comecei a rezar, ótima forma de começarmos um dia, e de pegarmos no sono novamente...
Foi exatamente o que aconteceu, e uma hora depois eu acordava, daquela vez mais disposto. Levantei, fiz um café forte, mandei um cotoco para nossa cadela salsicha, uma Dachshund, que nada me respondeu, apenas arqueando um pouco as orelhas, preparei 4 torradas e fui para o banho. Estava atrasado, mas bem ao gosto de acordar com o galo, afinal, o que seria uma hora a mais ou a menos de sol?
Às 7 e cinco, debaixo de um céu bastante nublado, liguei o GPS, dei adeus para a esposa e parti, desviando das poças pelo meio da rua, deserta naquele horário. Sair na chuva é muito triste, pois que ainda estamos frios e preguiçosos, mas quando ela nos pega pelo caminho, suados e aquecidos, é como mergulharmos numa piscina gostosa e refrescante. Os pingos fazem barulho no capacete, e mais um pouco escorrem sem cerimônia, misturando o doce e o sal...
Cheguei na BR-101 e mais um pouco pegava a BR-235, à esquerda. Quase oito da manhã, passava pelo povoado Outeiros, e uma hora depois, parado no pé da ladeira do Cafuz, enxugava o suor do rosto, bebia uns goles d'água e iniciava sua conquista. Gastei 23 minutos em dois quilômetros, para vencer seus 110 metros.
No topo, parei novamente, enxuguei o suor agora abundante, bebi mais água e resolvi fazer tudo de novo. Desci até o ponto onde iniciara, gostoso curtindo, ar condicionado ligado, ouvindo o barulho de moscas, que os meus pneus novos faziam, com cravinhos menores e mais juntos.
Já iniciada minha nova subida, de um pouco atrás de mim, de uma fazenda me chegou a música e o locutor convidando a rapaziada para a cavalgada. Agora eu sabia o porquê de tantos cavaleiros pela estrada. Sorri e mais apertei naquela peleja com a danada da ladeira, a ouvir o som de mastros à vela estalando sob meus pés, nos pedais que eu empurrava, calma e lentamente... Com praticamente o mesmo tempo da primeira vez, contente segui em frente e logo cheguei em Areia Branca. Itabaiana agora não estava assim tão longe, mas ainda faltavam algumas boas subidas.
Quanto mais me aproximava de Itabaiana, mais motocas Shineray me davam sustos, porque elas se sentem donas do acostamento; teve até uma que teve um chilique com a buzina, isso mesmo, para que eu saísse do meio. Se vocês forem para lá, tomem cuidado com os novos donos do pedaço, que nem do capacete se utilizam.
Muito próximo de Itabaiana, bastando uns 3 quilômetros para alcançá-la, vi uma calçada que me pareceu muito com uma ciclovia em construção, e por ela enveredei, antes que fosse atropelado por alguma Shineray. A calçada me foi levando calmo por uns 200 metros, quando encontrei uma entrada ampla, estacionamento todo em brita solta, uma churrascaria alpendrada, vista bonita contra a serra que se mostrava em seu mais belo paredão.
Entrei, despojei-me do capacete, da bandana, das luvas, não antes de bem encostar a minha amiga bem pertinho de mim. Havia escolhido uma boa mesa, bem de frente para aquela beleza toda. O Garçom, lançando-me um olhar curioso, aproximou-se e me deu as boas vindas. O relógio marcava quase 11 e vinte.
- Tá vindo da Capital?
- Tô! - respondi, já esperando pela segunda pergunta.
- Pedalando isso tudo!?
Enquanto sorria, fiz que sim com a cabeça, pedindo uma cerveja bem gelada. Ele a trouxe e mais uma vez perguntou:
- Deve tá com fome, né!? - e já foi me apresentando os preços, começando pelo Rodízio.
- Não, não... Eu não como carne vermelha; quê que você tem aí de frango?
- Peito grelhado com acompanhamento que o Sr. vai gostar...
- Me traz um então.
A cerveja estava deliciosa. O primeiro copo desceu num gute-gute só; do segundo em diante, quem comandou foi o sabor...
Antes que eu a terminasse, chegou tudo numa bandeja grande: o peito grande, dividido em dois num prato raso, e em diversas cumbucas de sobremesa, o arroz, a farofa, o vinagrete, o macarrão, a salada de maionese, outra salada também com maionese, batatas fritas de pacotinho, o feijão mulatinho com pouco caldo, o feijão tropeiro, quiabada, e acho que ainda estou esquecendo de alguma coisa. Comi com vontade, terminei a cerveja e pedi outra. Agora era a hora de acalmar o fogo, e a fresca que soprava ajudava muito. Carros foram chegando e a calma se acabando, porque se quiserem ver metamorfose, é juntar o homem à carne.
A cerveja já estava quase no fim, pedi uma garrafa de água mineral com gás e paguei a conta: R$ 25,00. Se forem para aquelas bandas, o nome é Churrascaria Recanto da Serra. A paisagem estava seca, e fiquei imaginando tudo aquilo com chuva farta...
Falando em chuva, não caiu uma só gota em cima de mim. Choveu aquele céu bem carregado de cinza escuro, mas nem um tiquinho que fosse sobre mim. Agora é que não choveria, pois o céu estava mais claro.
Quase uma hora depois, montei e com preguiça fui encarando aquele vento todo, mas todinho de frente, e forte, o filho da peste... Pelo menos, vou de ar ligado, pensei...
Cheguei em Areia Branca e mais um pouco alcançava a ladeira do Cafuz, que desci gostoso, vez ou outra controlando nas rédeas, pois a azulzinha gosta de uma boa corda...
Lá embaixo, abusado decidi subir de novo. Tomei posição, enxuguei o suor, bebi uns goles d'água e mandei ver nos pedais, que novamente começaram a ranger que nem piso velho. Quando já havia ultrapassado a metade, ouvi barulho de motos que aceleravam, para logo em seguida silenciarem. Achei estranho, mas se subir já estava difícil, olhar para trás, nem pensar, pois eu utilizava um acostamento pouco menos de 1 metro, bem espremido pela terceira faixa. Lá em cima, completada a minha ousadia, fiz a volta e vim curtindo pela descida; encontrei os dois motoqueiros, que me olharam com certa inveja, pois uma daquelas máquinas maravilhosas, estava no prego...
Quando cheguei em Outeiros, minha água que eu vinha racionando, só tinha coisa de um dedo. Outeiros passou a ser o meu oásis, ali onde o camelo se fartaria. Pedi um côco verde gelado, que desceu bem rápido; ainda estava com sede, e pedi o segundo côco, também gelado, a descer para dentro sob o olhar da Vendedora, que devia estar achando bonito, tanta sede. Enchi minhas garrafinhas e fui embora; às 4 e quarenta da tarde, eu estava em casa, mais 113,8 km na bagagem, mais 8 horas e 35 minutos sobre uma sela, mais 1.365 metros galgados, mais feliz do que pato dentro d'água...
O amigo Jailton, itabaianense, escutando a minha história, virou para mim todo orgulhoso e disse:
- Boblitz, agora que você foi até Itabaiana, considere-se um genuíno brasileiro...
Que não se preocupem meus outros amigos lagartenses, salgadenses, itaporanguenses, divina-pastorenses, e de tantas outras cidades que ainda conhecerei, neste Sergipe que há tanto tempo nos acolheu...
Domingo que vem eu vou de novo, para onde eu não sei; ainda estou pensando...
* * *
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