Só para entendermos... (ii)

Se você pensa que é forte,

a água molda as rochas...


Se você pensa que é poderoso,

o vento esculpe qualquer coisa...

Se você pensa que pode ser a solução,

a Terra está cheia deles, sepultados...




Só para entendermos... (ii)
(Paulo R. Boblitz - mar/2012)

Só para entendermos..., deveria ser uma crônica só, mas de lá para cá, outras mortes foram acontecendo. Ciclistas na flor da idade, fazendo pensar que bicicleta talvez não seja assim um bom esporte, um bom transporte, uma boa diversão...

Quando criança eu tinha um sonho - a bicicleta que me deu asas e muitos tombos...

Quando adulto, a vida roubou-me os sonhos, impondo-se para ser ganhada e vivida...

Quando mais que adulto, depois de cumprir o que a vida cobrou, sobrou, pouco é certo, o tempo para de novo viver o sonho...

Descobri, já envolvido, que a bicicleta era mais que uma diversão ou exercício, mas uma política com ativistas.

Oquêi, não existem conquistas sem lutas, mas a luta dos outros não me pertence.

Sinceramente não quero a extinção dos automóveis, até porque necessito, e muito, de um utilitário. A vida ainda me cobra participações, e eu as quero, motivado pelo futuro, pelo progresso, pelos tantos desafios que pelo meio do caminho vamos experimentando, acertando e errando, nunca porém desistindo, pois quem vive, esse sim, está pronto a qualquer futuro, esse mesmo que nos sempre apresenta um passado, bom ou desperdiçado...

Oquêi, não dependo de uma bicicleta para ir e vir, poderão me jogar na cara, mas nem por isso nutro desamor pela minha magrela, nem tampouco descuido quando vejo um ciclista à minha frente.

O motorista, perdoem-me a intromissão, tem as mesmas adrenalinas que o ciclista tem, os mesmos direitos que o ciclista tem, o mesmo tempo que o ciclista tem, as mesmas necessidades, os mesmos problemas, as mesmas "aspirações" que o ciclista tem - um trânsito decente, um trânsito livre...

A culpa é do Governo? Se for, então é de todos nós...

Os ativistas estão errados? Sim, se eles buscam a extinção dos outros. Não conheço ambulâncias sobre duas rodas, nem Bombeiros também... As emergências têm apenas uma prioridade - a vida...

Assim, quando nos utilizamos dos mortos, para defendermos nossas causas, algo está muito errado. Se os mortos morreram, deixemos para o Estado e à família, a averiguação dos fatos, e que os responsáveis respondam como devem responder todos os responsáveis quando desrespeitam os itens sagrados de qualquer sociedade.

Valer-me de um morto para a minha causa, É COVARDIA, pois que o morto não tem como ser consultado. Minha causa, meu irrestrito interesse particular, acaba utilizando o morto como mero instrumento, e isso é, antes de qualquer coisa, falta de respeito e consideração com o morto, tenha sido ele quem tiver sido.

Por favor, deixem o morto, ou a morta, descansar em paz. Não transformem a vítima em instrumento útil à causa que lhes pertence, porque a vida cobra indistintamente de todos.

Você quer alguma coisa? Você quer conseguir algo? Oquêi, comece a trabalhar, mas deixando os mortos em paz, pois que todos eles retornaram ao pó que não nos pertence, e ao Pai que a tudo Acolhe e Julga.

Trânsito MATA, principalmente se você deixar que a adrenalina tome conta da discussão e dos atos.

Se você não conhece o oponente, crendo aqui que todo e qualquer motorista seja um inimigo, determinado e sobranceiro sobre centenas de quilos que o podem amassar e esmagar, que siga quieto e humilde, rezando, quem sabe, um Pai Nosso para proteção do desequilibrado, principalmente se for o de um coletivo que anda e pára, que anda e pára, que anda e pára, que anda e pára, tantos sinais que você puxa para descer, ou para subir, esquecendo da palavra ESTRESSE.

VOCÊ CICLISTA, por exemplo, que tem o direito de ficar estressado quando anda pelo meio do trânsito, acha que esse direito é apenas seu?

VOCÊ CICLISTA, por acaso, pensa que a vida só cobra de você?

VOCÊ CICLISTA, pensa que só você tem os direitos? E por que? Porque não polui? Ora..., mas você mija e caga, produz lixo, admite plásticos em seu consumo, consome futilidades que lhe entram pelos olhos e ouvidos, se acha o bambambam dos oprimidos?

VOCÊ CICLISTA, que vai na onda dos que lhe usam como gado útil, PARE e PENSE. Você não irá modificar o mundo, e se comungar com a radicalidade dos outros, brigando com os mais pesados que você, prepare-se, e à própria família, para você estendido no asfalto, uma nota no Jornal, uma estátua na cidade. Você acredita nisso? Você realmente acha que a BICICLETADA não arrumará logo um outro trouxa?

VOCÊ CICLISTA, MEU AMIGO, não morra... Saiba que você é minúsculo, transparente por não ter massa, e ninguém, atarefado em ver sinais e outras coisas maiores, pode não vê-lo sem maldade. Não arrisque, ande na linha, respeite o que tiver que ser respeitado, até que você possa ser grande o suficiente, para que os outros o respeitem...

Respeite, para principalmente ser respeitado...

Aos tantos Grupos de Ciclistas que existem em nossa cidade Aracaju, que se unam às terças-feiras, formando um super passeio ciclístico pela cidade, em festa, para que outros, muitos outros, sintam-se contagiados com a boa idéia.

SÓ QUEM PEDALA, RESPEITA QUEM ESTIVER PEDALANDO...

Que as "Bicicletadas", sejam elas de quais cidades forem, metam isso na cabeça.

Que os Líderes de tais "Bicicletadas", parem de matar quem os seguem, porque Ciclistas podem, a seguir o "verbo" que os impelem, a perder a própria vida.

O Verbo nos deu o verbo, e ele é, sempre foi, sem nenhuma dúvida, poderoso, porque faz cabeças, constitui adeptos, seguidores...

Assim, você idiota que se julga impune pelo meio do asfalto, lembre-se que poderá ser o próximo deitado com jornais por sobre si. Oquêi, você será notícia, mas essa notícia interessará apenas a quem fez a tua cabeça de otário...

Não morra, porque BICICLETA representa exatamente o contrário - a vida livre...

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