Trilha noturna Aracaju - Praia do Saco (Sergipe)

Existe contra, quando você quer fazer?

Existe dificuldade, quando você está disposto?

Claro que não...

Pois assim fizemos nossa segunda trilha noturna,

num breu danado de trevoso...


Trilha noturna Aracaju - Praia do Saco (Sergipe)
(Paulo R. Boblitz - jan/2011)

Nem a Lua, quis saber de nossa aventura. A maré cheia já nos avisara: se quiséssemos pedalar, que fôssemos pelo asfalto...

Partimos atrasados para a nossa trilha, segundo o relógio que trata das horas certas. Partimos na hora certa, segundo as convergências que nos inspiram...

No total, foram 2 pneus furados e uma cãibra.

Pedalar no escuro, 5 metros à frente iluminados, não nos permite saber a paisagem. Se subimos ou descemos, isso quem diz é a nossa força nos pedais.

Fiquei para trás, e pude ver aquela serpente tremeluzente vermelha. Fui para a frente, e pude ver aqueles anjos de luz, cada um com o seu próprio pedaço de chão...

As estrelas confabulavam e nos piscavam mais, Via Láctea inteira só para nós, esparramando-se em luz. Marte estava mais bonito do que de costume, intenso, amarelado avermelhado a nos tomar cuidado. A Lua, há muito se recolhera; o céu era só nosso, luzeiro a nos buscar a vista, o encantamento que na poluição da cidade, não temos...

Estava escuro mesmo...

Motoristas que nos ultrapassavam, vindos por trás ou pela frente, devem estar agora a jurar que nunca viram aquilo na vida deles...

Extraterrestres em nossas naves espaciais, quase 35, deslizávamos em suores pela noite fria, do vento que nos chegava do oceano, a nos brindar com fugazes relâmpagos, nossas naves mães, despistando suas presenças do resto dos humanos, que agora deveriam sonhar a sono solto.

Mexi meu manche para a esquerda, e a nave deslizou inclinada; mexi o manche para a direita, e novamente ela obedeceu suave.

O farol por trás, fazia minhas pernas parecerem virabrequins, como aquelas rodas das locomotivas, onde cada pedal era o eixo de uma biela, que, como disco voador, funcionava de ponta-cabeça.

Meus alforjes também davam um ar de nobreza para minha amiguinha, a emitir uma sombra bastante gordinha.

Numa parada para recomposição, de frutas e de águas, finalmente, de maneira oficial, deixei de ser Carniça - Helder a todos comunicou...

Galguei um degrau na evolução...

O Carro de Apoio, dessa vez, tirou Nota 10 na lição - não nos tirou o brilho de nossos faróis...

A brisa nos soprava com amor, e a escuridão se abria, nos deixando iluminar, cada giro que precisávamos executar. Meus amores cantavam, todas as músicas que sonhamos, no silêncio que apenas o vento, a corrente e os pneus, interrompiam...

Cronômetro, pulsação, velocidade, ciclos e outras tantas informações - tudo no escuro...

Valia apenas a sensação da alegria, do rumo sem horizonte, da posição desconhecida, do poder controlador das situações, desprezado e esquecido. Seguíamos apenas a faixa branca da direita, como se bandeira de alguma paz ela sincera, nos brindando como Guia.

O Sol, com raiva, nesse dia não nasceu para ser fotografado, escondido pelos coqueiros, pelas casas e pelas dunas. Quando apareceu, apenas nos ofuscou já sentados à beira-mar, esfomeados atrás do pior Café da Manhã imaginado. Calculamos que a Dona do restaurante não acreditou que chegaríamos assim tão cedo, quinze para as cinco de uma manhã abafada, dum Sol que fora traído por uma trilha noturna...

Difícil, alguma coisa nos quebrantar... Comemos o que nos foi servido, mantivemos os sorrisos e pedalamos mais 12 quilômetros para chegarmos até Porto do Cavalo, onde pegaríamos a escuna Perolina, a nos balançar em românticos devaneios sobre os rios Real e Piauí - ficou a nos dever uma parada na ilha da Sogra, transportando-nos diretos para Mangue Seco, na Bahia, onde arrumamos uma boa sombra, bons petiscos, geladas cervejas, conversas jogadas fora, bom banho de rio salgado...

Teve os Parabéns para Você para a Dona Carmen - Omar ficou devendo o discurso...

Ao todo, pedalamos 83,27 quilômetros, sem nenhuma baixa para o Carro de Apoio. Subimos 298 metros ao longo de todo o trajeto, pedalado em 5 horas e 34 minutos, creio que bem menos do que isso, pois sempre esqueço de desligar o pequeno aparelho que carrego às costas...




Teve a cena do Titanic, dessa vez a mulher amarrada por segurança.





Teve simpatia.






Teve o Fotógrafo Assanhado, um sujeito para lá de legal...




Teve a Natureza, que a tudo bem constrói.






Teve bigode da embarcação




Acho que almoçamos por volta das duas e meia da tarde, onde abusei do peixe, da moqueca de arraia, do arroz, do feijão, da farofa, da salada, do frango cozido e frito, da macarronda, do pirão grudento...


Foi um almoço generoso, mais do que precisávamos, fartura da terra e do mar que a tudo dá, Paraíso, para quem não conhece...

Lembram da Dona Lua que se escondeu logo no começo? Perdeu o melhor da festa...

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