Trilha Aracaju - Pirambu (Sergipe - 2010)

Trilhas...

No calor são perigosas.

Assim, muita hidratação...

E não tenha pressa,

afinal, isso não é competição...


Trilha Aracaju - Pirambu (Sergipe - 2010)
(Paulo R. Boblitz - jan/2011)

Essa Trilha aconteceu em dez/2010. Foram tantos os eventos, que este, meio negativo, acabei deixando de lado. A negatividade? Minha tontura, fruto de mais um aprendizado de quando nos resolvemos pedalar sob um sol forte num dia bastante abafado. Aprendi a lição, e bem pode servir para outros...


Terça-feira, 7 de dezembro, noite anterior ao feriado, João me liga e me chama para a trilha do dia seguinte:

- Quem vai? - perguntei.

- Eu, Vovô, Fernando, Pedro Viégas e quem mais estiver por lá. Cabra Véio não vai, pois está de plantão na fábrica... - respondeu João.

Dia seguinte, no nosso ponto combinado, estávamos eu, Pedro, Fernando, Estela, Jonas, que iria só acompanhar dirigindo, Vovô e João. Partimos com os corações flamejando, enfim um dia livre para uma boa trilha, cerca de 80 km...

Até a ponte foi um folguedo só, mas quando a começamos subir, o vento bateu de frente com muita vontade, nos arranhando os fôlegos. Pedalar contra o vento tem sua vantagem: estamos sempre refrescados, pois o grande ventilador é inteiramente nosso...

Faltava um terço para chegarmos, quando o pneu do Pedro furou. Antes, havíamos parado para roubar caju direto no pé, desses que não têm dono, por estarem no acostamento. Preferi seguir, pois caju costuma produzir aquele arranhento hum, hum, hum na garganta, como se fôssemos fumantes. Os esperaria na ponte colorida, sobre o rio Japaratuba, um ponto sempre cheio de barcos, encontro entre o doce e o sal, forças que se anulam sem brigar...

A manhã tinha se revelado muito quente, e a volta eu já pensava pior, a favor do vento, a pedalar junto com ele, nada a nos passar, a refrescar, o que nos eleva a temperatura sem nenhuma dó. Acreditem, é como estarmos no vácuo, nosso próprio calor a nos envolver, nos rodopiar, nos parar no tempo...

Quando estávamos chegando em Pirambu, uma pequena cidade à beira-mar, o telefone do João informou que Leonardo, seu filho, e o Antão, seu irmão, estariam chegando, pois haviam saído atrasados. Os esperaríamos tomando uma cervejinha...

Chegaram na hora em que nos eram servidos, dois pratos magníficos de iscas de peixe com batatas fritas, que devoramos em pouco tempo, pois além da fome, estavam deliciosos...

Mais algumas cervejas, resolvemos partir, pois a manhã já ia avançada, quase onze horas, sol a pino...

Leonardo pendurou a bicicleta no carro do Jonas e seguiu com ele na sombra, enquanto que Antão se juntou ao grupo, completando agora 8 trilheiros de feriado.

Estavam com pressa..! Chegaram a alcançar 32 km por hora nalgumas vezes, e eu, tonto, acompanhando, não tonto desmiolado, mas zonzo de tontura, e quando entramos na areia margeando a espuma do mar das sereias, a coisa só piorou... Antão chegou a ver tubarões, o que me despertou o interesse, mas não passavam de bandeirolas de algumas bóias.

- Antão, eu estou tonto, e quem vê miragens é você..?

Ele apenas sorriu. Os outros já tinham sumido lá na frente, mas quando estávamos próximos do Hotel da Ilha, ponto em que abandonaríamos a areia da praia, Vovô veio ao nosso encontro.

- Pararam pra pescar? - ele perguntou.

Descansamos todos à sombra de alguns coqueiros, e partimos. A tontura continuava... Subi a ponte de volta completamente só, e ao descê-la, deixei-me levar aliviado. A coisa mais gostosa é deixar a bicicleta nos levar, nos fazer cortar o ar, nos produzir o vento que nos retira as dores, os odores, os maus humores, mas como tudo que é bom passa rápido, num instante eu estava novamente com todos eles, ao pé da ponte me aguardando, para seguirmos novamente.

Graças a Deus, estava próximo...

Nunca desejei terminar uma trilha, como desejei aquela. Cheguei em casa, lavei a bicicleta para retirar o sal, e tomei um banho sentado, um longo banho a retirar aquela sensação abrasadora...

Foram 80,8 quilômetros, 566 metros de subidas acumuladas, um calor infernal de pré-trovoada...

Não fui feito para o calor. Medi minha pressão e a encontrei muito, mas muito baixa; dormi a tarde inteira...

Agora há pouco, quando estava lançando a rota do GPS no Google Earth, tive a gostosa surpresa de descobrir que a nossa ponte já está lá, cruzando o rio Sergipe...

* * *

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