Trilha Aracaju - Jatobá

Existem dias em que não adianta programarmos.

As programações saem na hora, no rompante.

Se tudo dá certo, ou tudo dá errado,

depende só de nossos improvisos,

e de nossos sorrisos...



Trilha Aracaju - Jatobá
(Paulo R. Boblitz - jul/2010)


"8 de julho, dia feriado em comemoração à independência de Sergipe; não haveria nada para se fazer..." - estava eu no dia anterior, pensando sobre o dia seguinte.

Peguei o telefone e do outro lado atendeu o Omar.

- Omar, vamos pra onde? - perguntei.

- Os meninos vão fazer a trilha pra Rita Cacete, via São Cristóvão...

- Mas eu coloquei 7,5 kg na garupa..! - ponderei.

- A gente vai acompanhando até São Cristóvão, depois volta pela João Bebe Água... - ele esclareceu

Dia marcado, dia 8 cedinho, todo mundo reunido ali no posto combinado, menos, claro, os que faltavam chegar... Peguei o telefone e disquei:

- Alôoo... - respondeu do outro lado ainda dormindo...

- Cabra Véio!, cadê você..?

- Tô chegando!, tô chegando...

Enfim todos reunidos, a turma seguiu para Rita Cacete e ficamos nós, Guaracy, Domingos, Aparecida, Rosita, eu e Omar, definindo para onde iríamos, pois um não queria ir para São Cristóvão, outro não queria ir para a ponte do Mosqueiro; eu apenas ouvia...

Jatobá!!!

E a sugestão foi aceita num piscar de olhos... A praia de Jatobá é deserta, próxima de Pirambu onde as tartarugas desovam e são protegidas, algumas casas de veraneio, vila rústica de pescadores, lugar onde a Petrobrás construiu o Porto de Sergipe, uma longa ponte de quase 3 km mar adentro, pois a lâmina d'água em Sergipe é muito rasa.

Cronômetros ajustados, hodômetros zerados, GPS ligado, lá fomos nós para nossa trilha leve, num dia também leve, uma quinta-feira bem no meio da semana.

Domingos, o Pato, aquele que imita o Pato Donald com perfeição, passou a imitar a ambulância do SAMU, sempre que chegávamos num cruzamento.

Num instante já estávamos no pé da ponte, uma bela ladeira com vento de frente. Guaracy, me ultrapassando, disse em tom de brincadeira:

- Agora é que você vai ver...

E vi, pois 7,5 kg não são 7,5 kg, pois na medida em que o tempo vai passando, a relatividade, não a do Einstein, mas a do Boblitz, vai pesando mais...

Calibrei minha velocidade nos 20 km por hora, afinal eu estava em treinamento, e logo fui ficando para trás. Vez ou outra, num trecho mais reto, conseguia ver Cida e Domingos; Omar, Rosita e Guaracy já deviam estar bem longe...

Mais um pouco, avistei Cida e Domingos parados; estavam me aguardando, pois logo à frente, quatro cães nos aguardavam, pois sem ter o que fazer naquele fim de mundo, nos atacar era um bom divertimento. Bebi um pouco de água, enxuguei o suor e encaramos as feras, eu primeiro, Cida no meio, e Domingos fechando a retaguarda, quando começou a correria, três cães que pareciam brincar de correr e latir, mas logo apareceu o quarto, o líder, que partiu decidido com os caninos à mostra, dando corda nos outros que a engoliram direitinho, tornando-se também valentes e ferozes.

Nessas horas, só existe uma alternativa: tentar acertar um deles com um bom pontapé, e foi o que fizemos a cada vez que um deles mais se aproximava; Pato, lá atrás, ao tempo em que chutava o ar, também vinha grasnando, quem sabe incentivando os cães para uma bela refeição..?

Enfim eles cansaram nos deixando em paz, pois aquele dia para eles deve ter sido um tanto agitado, duas caravanas perseguidas...

Seguimos em frente até encontrarmos os três à nossa frente, sentados sob a sombra de uma barraca, nos aguardando, bem próximos ao entroncamento que nos leva até Pirambu, ou ao Porto. Um cesto enorme com amendoins cozidos me chamou a atenção, e logo na mente apareceu a vontade de tomar uma isotônica, para alegria da Mocinha que já abria o isopor, mas os três, descansados, cortaram o meu barato; Guaracy até tentou me socorrer, mas comigo, acabou em desvantagem. Olhei para a Mocinha, que de sorridente ficara triste, e acabei mentindo: na volta eu tomo...

Para o mar, faltava um pulo, e assim, depois de passarmos por uma vila de pescadores, lá estava ele escancarado, espumando na arrebentação a nos convidar, um mundo d'água, dócil, meigo, e extremamente raivoso, senhor de tantos destinos e nações. Paramos para umas fotos e logo seguíamos novamente, eu agora com a minha tralha, mais fincado no chão, pois a areia nos quer prender o tempo inteiro.

Embaixo da ponte do Porto, nós paramos novamente, mais fotos de recordação, mais arrependimento por não ter levado a minha máquina. Foram 13,6 km na areia e já estava dando vontade de esvaziar as garrafas... No hotel à beira do mar, subimos por uma estradinha de barro, e mais um pouquinho, pegávamos o asfalto novamente. Num posto de abastecimento que tem uma lojinha, nos servimos de isotônicos e guloseimas; até ali, já havíamos percorrido 45 km - faltavam ainda, 12,8 km.

Foram 4h24 de trilha, um total de 57,8 km, e às 11 horas estávamos em casa. Simulei uma carga de 7,5 kg e já me decidi: cortarei minha bagagem até chegar nos 4 kg, deixando de levar o net book e 1 peça de cada item de roupa; vou reduzir as embalagens, até cortar um sabonete pela metade, mas só carregarei os 4 kg que o camelo aqui agüenta, pois camelo e caravana estarão subindo a serra da Mantiqueira, onde as descidas não contam, mas avisam que novas subidas estão logo no final de cada uma...

Cada uma..., mais dura que a outra...

* * *

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