A covardia é uma senhora tardia,
que visitamos quando não temos,
chances,
opções,
deslumbramentos...
A covardia é, portanto, uma vadia,
que se aproveita de nossas,
por certo, incertezas...
Não existem guerras, sem batalhas...
(Paulo R. Boblitz - 20/fev/2015)
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Encontrei meu telefone celular já bem geladinho, pois que há muitos dias ele só se permitia bem funcionar, depois que o deixava de castigo dentro do frigobar, melhor ainda, no congelador da pequena geladeira...
- Não poderei ir, porque fui escalado...
- Não poderei ir, porque não terminei um serviço...
Com os 72 quilômetros na cabeça, fomos dormir, e dormimos uma noite bem tranquila, pela temperatura que o ar condicionado nos proporcionava, pela textura da cama que nos envolvia, pelo silêncio total em que o Hotel Tito's nos apresentava, recolhido longe da avenida principal.

Por vezes o Iguaçu nos vinha flertar, verificar se ainda o estávamos procurando, apresentando-se calmo e volumoso, coisas que somente um rio profundo, sem marolas, pode mostrar...
- O rio..! O Iguaçu..! Não vê que ele não larga da cor marrom? - e ficamos ali os dois, observando os remansos, aqueles redemoinhos tranquilos, como se em cachos ao vento, fossem se enrolando e desenrolando num festival em harmonia...
Mais acima, num alpendre a balançar-se sobre uma rede, o jovem a tossir uma tosse seca e rouca.
- Lá do otro lado, pela estrada do colono, por onde todo o Paraná foi colonissado; por aqui passaron todossos colonos... - tentava ele explicar-me, sem nem ele mesmo entender, como a política pode ser canhestra ou desonesta...
Nem os cães, pareciam crer que nós existíssemos; somente um deles, com tímido latido, calando-se em seguida para manter forças.
Não era uma cidade fantasma, ainda, mas parecia estar se povoando com todos eles; à volta, ruínas ou degradação, raízes agarrando-se à pobreza, como a vida que se agarra à vida, mesmo que parca, como a esperança que se agarra ao futuro, quando ele mesmo já é quase realidade...
Nem mesmo o templo, onde a Fé também parecia estar cansada, parecia-se com algum lugar de culto...
Pesquisei sobre a Estrada do Colono, por último transformada em PR-495, pois que é mais antiga do que a certidão que lhe passaram, e sua história é desconexa, assim como tudo aquilo em que o Meio Ambiente, junto com as ONGs, se mete. Construí dois polígonos, um em azul, seguindo pela Argentina, através da Estrada Parque, e outro na cor Ocre, seguindo por dentro do Brasil, onde o Google Earth nos mostra claramente, bem nítido, pela Estrada do Colono, até Medianeira. Agora observem o tamanho dos dois traçados, o das Rutas 101 / 12, e o da nossa Estrada do Colono; afinal, quem produz mais danos ao tal eco-sistema? Por que a Estrada Parque, por dentro do Parque Nacional Iguazú, também não está fechada?

De volta para a estrada, ainda tentei dar adeus para o velho senhor, que apático, dobrando apenas o punho para cima, levantava a meia mão como se nem os cumprimentos, ali fossem trocados...
Chegar em Andresito, às 13 horas de um dia bastante quente, e descobrirmos nossa verdade, foi um choque...; Wanda, pela Ruta Nacional 12, ainda estava a 76 quilômetros de distância, informava a placa, fria e desdenhosa, pouco se importando com o que achássemos. Descer para Andresito, agora era imperativo; precisávamos de água e comida. Serviram-me dois grandes filés de pollo grelhados, dois ovos mal passados, arroz e batatas sauté, junto com dois pãezinhos franceses, quando Sofia perguntou se eu tinha alvará da Prefeitura...
- Pra cagar na rua...
- Sofia..!, são 76 quilômetros..! Você não viu?
Utilizei o zoom como luneta, e me confirmei; por Wanda seguiríamos... A piçarra podia estar seca, mas quando ela acabasse, enfrentaríamos tudo aquilo que já se mostrava molhado escorregadio...
Chegar na tienda foi um alívio, onde de tudo havia um pouco; bebi refrigerante de laranja, bebi água, enchi minhas caramanholas, peguei mais uma garrafa d'água para reserva, chupei dois picolés de limão, e novamente rico cheio de vida, sob o olhar assustado de Sofia, partimos dali renovados, já meio tardinha, faltando ainda 30 quilômetros para Colonia Wanda...
Chegar em uma cidade desconhecida, já anoitecido, sem planos a não ser o de achar um lugar onde dormir, é meio estranho... Perguntar é a solução, e perguntamos; não estava longe...
Faltando 15 minutos para as 8 da noite, horário velho, horário normal igual ao meu, ancoramos no hotel, nem lembro mais do nome, porque não anotei, porque a dona não me deixou carregar Sofia para o quarto, mas arranjou um bom lugar para ela pernoitar, em seu próprio escritório particular. Estava muito cansado para qualquer coisa, por isso arrumei um bom lugar para Sofia e subi para tomar um banho onde não me cabia. O quarto era bacana, mas o banheiro, bem apertado; o chuveiro era quase fora do box, coisa corrigida por uma cortina inclinada, que abri, e molhei tudo... Arrumei um pano de chão e a tudo enxuguei, afinal, lambanças não fazem parte do nosso feitio.
Foi um hotel sobre uma Galeria, creio que em frente da Rodoviária da cidade, pagamento adiantado, jantar logo ali do lado, delicioso numa casa humilde, rodeado pelo cozinheiro, esposa e filhos. Comi bastante pollo gratinado, a salada inteira, toda a batata sauté, e o arroz, bem, esse sobrou um pouco, enquanto eles me davam água na boca comendo pizza... Se Deus quiser, ainda lá voltarei para jantar, e novamente sorrir com todos eles...
O dia foi mais um dia resolvido, cheio de surpresas, pimentas que dão sabor, que emprestam personalidade à jornada, 119,5 quilômetros num dia em que desejei a maior das chuvas, e não choveu, nenhum pingo sequer perdido... Gastamos eu e Sofia, 11 horas e 29 minutos, insanos não planejados, não aguardados, porém enfrentados como preparados devemos estar, afinal, tudo ali era nossa escolha...
Gastei 6.038 calorias, pus sei lá, quantas para dentro..? Subimos 1.491 metros; descemos 1.672 metros, mas quem se importava?
A média do coração ficou em 123 bpm; o pico foi a 146 bpm.
Faltando 15 minutos para as 8 da noite, horário velho, horário normal igual ao meu, ancoramos no hotel, nem lembro mais do nome, porque não anotei, porque a dona não me deixou carregar Sofia para o quarto, mas arranjou um bom lugar para ela pernoitar, em seu próprio escritório particular. Estava muito cansado para qualquer coisa, por isso arrumei um bom lugar para Sofia e subi para tomar um banho onde não me cabia. O quarto era bacana, mas o banheiro, bem apertado; o chuveiro era quase fora do box, coisa corrigida por uma cortina inclinada, que abri, e molhei tudo... Arrumei um pano de chão e a tudo enxuguei, afinal, lambanças não fazem parte do nosso feitio.
Gastei 6.038 calorias, pus sei lá, quantas para dentro..? Subimos 1.491 metros; descemos 1.672 metros, mas quem se importava?
A média do coração ficou em 123 bpm; o pico foi a 146 bpm.
olà Paulo, tò ficando curioso pra ver quando vc chegar às cataratas, entrar de bicicleta do lado argentino foi impossivel, do lado brasileiro permitiram e foi uma coisa de uma beleza deslumbrante, parabens pela viagem, corrado
ResponderExcluirSim, aquilo tudo é muito lindo, mas só contarei na próxima crônica. Aguenta mais um pouco. Grande abraço!
ExcluirOla, Eu entrei em Capanema e fui ate Puerto Iguaçu. De Bicicleta.
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