Pombinho...

Existem momentos em que estamos felizes,

mais felizes ainda..., apaixonados..., otimistas...,

e assim mais criamos, com alegria,

sejam quais produções, sejam quais plantações...

Pombinho já crio há muito tempo,

meu fiel trabalhador número um...



Pombinho...
(Paulo R. Boblitz - dez/2009)


Estava a escrever pequeno pensamento para aproveitá-lo na futura crônica da trilha noturna, e acabei lembrando do meu Pombinho...

Como o lógico será realizarmos essa trilha numa noite de Lua cheia, lua onde sempre comparecem São Jorge, seu cavalo branco e o dragão, eu bem poderia já construir o começo dela..., afinal, esse é o lado onde a imaginação brinca sempre com a poesia...

E brincando, a crônica acabou enveredando para outro lado, pois que a Lua tem sempre um lado apontando para nós amantes, e em Lua cheia, sempre se descortina a famosa luta que salvou a doce princesa.

Dos três, quem tem o papel mais fácil é o dragão, deitado de costas com molho de tomate a escorrer da boca, que finge ser alfinetado pela lança certeira do Santo. Por sua vez, devidamente sentado sobre seu cavalo, aparece São Jorge, que deve ter uma escora do braço por ali dissimulada, empunhando uma lança comprida a penetrar no dragão.

Para mim, a pior posição é a do cavalo branco, que coitado nem nome tem... Passa ele todas as noites, empinado, equilibrando-se apenas nas pernas traseiras. Talvez até sinta cãibras...

E onde entra o meu Pombinho nessa história?

Primeiro, ele é cavalo...

Segundo, ele é branco com pequenas pintas cinzentas, que lhe fornecem um matiz acinzentado, daí o nome Pombinho, embora ele seja bem grande...

Terceiro, porque ele é maluco...

O importante é que eu gosto muito dele, que até já está quase aposentado só pastando...

Certa vez quando observava o meu Pombinho, é que fui entender o porquê daquela expressão "comer como um cavalo..."

Cavalos não se deitam, a não ser quando estão doentes ou se espojando pelo chão, coçando as costas, atrapalhando a vida dos insetos... Dormem em pequenos cochilos, em pé, e não param de comer, mesmo à noite. Há os que dizem que segundo a evolução, um dia, cães e cavalos já foram parentes...

O fato é que meu Pombinho é irreverente, ao mesmo tempo em que também é disciplinado.

Fico impressionado quando uma ordem lhe é dada; anda e pára instantaneamente; depois de parado, não se move um centímetro...

Outro dia deu uma carreira no empregado, que foi parar em cima da mangueira dum salto só, lá de cima xingando:

- Cê tá maconhado!?, seu fííi du cabrunco..!

Vive a me dar despesas, pois vira e mexe, me obriga a comprar cordas novas, pois solto sem as rédeas, ninguém o pega; com a corda comprida, já conseguimos, mas ela passa o dia inteiro arrastando pelo chão.

Acho que ele também é meio malandro, pois através da boa comida, acaba fazendo amizade. Tem uma linguagem através das orelhas, que se mexem para direções diferentes, independentes.

Quem for mexer com cavalo complicado, é bom antes aprender os sinais das orelhas, pois elas antecipam em muito, aquele deslocamento abrupto de 500 kg em média...; um coice, pode até matar...

Orelhas murchas para trás, como que deitadas, é melhor sair de perto...

Pombinho adora minhas alfaces, tendo já um relógio que lhe diz a hora das colheitas, aproximando-se como quem não quer nada...

Às vezes, quando fingimos que não o estamos vendo, ele fica de lá:

- Rum!, rum-rum-rum-rum... - em tom suave e carinhoso...

Come alface até ficar de caganeira, momentos que o deixam com as pernas pretas e necessita tomar banho, ensaboado com detergente gel para limpezas pesadas, a deixá-lo depois com cheiro de banheiro...

Uma vez eu precisei cobrir a estrada com piçarra, e ao final do dia estava ela toda bonita e avermelhada, bem planeada e desenhada no meio do mato. Mais uns dias, com desgosto verifiquei que o Pombinho a estava deixando cheia de montes de cocôs redondos...

- Cavalo filho duma égua..! - ficava eu a repetir para o empregado, na medida em que a estrada ia ficando contaminada.

- Tanto lugar para ele cagar, só caga na estrada... - completava eu, apenas para o empregado ficar sorrindo, coisa que também estava me deixando com a pulga atrás da orelha...

Até que um dia, vendo aquela coisa grande com o rabo levantado, desrrolhando o ralo, fui obrigado a respeitá-lo...

- Nal..!, o Pombinho não é burro...

Diante da expressão irônica do empregado, que devia estar a pensar que disso todo mundo já sabia, pois que um cavalo não pode ser um burro, continuei:

- Ele só faz cocô onde não come...

E desse dia em diante o filho duma égua, o cavalo, cresceu em meu conceito...; bem podia emprestar seu nome para o cavalo branco de São Jorge, santo patrono da Inglaterra, Portugal, Geórgia, Catalunha, Lituânia e Moscou. Até o Rio de Janeiro o tem extra-oficialmente...

Falando em trilha, como ela será noturna, dia 17 de janeiro, olhar para São Jorge guerreando não será um bom negócio, pois se de dia olhando o caminho, caímos nos buracos, imaginem de noite, olhando para a Lua...

Acho que vou levar duas lanternas...

* * *

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